Sátira política perde espaço nas eleições

A campanha eleitoral teve alguma graça? Quase nada, é verdade. Infelizmente. A piada, o riso provocado, é um dos instrumentos mais potentes no exercício de crítica e autocrítica numa sociedade. Enquanto as superproduções com seu verniz publicitário-cinematográfico são aplaudidas, a palhaçada do Tiririca foi vista como sabotagem. Um seduz, estabelece um plano mitificado. O outro expõe o ridículo, desenha a caricatura. Qual está mais próximo da verdade?

Para ficar claro: não se trata de uma defesa do candidato Tiririca, nem apresentou seus projetos, se é que existem. A questão é o efeito proporcionado pela comédia, como apreciação cínica da realidade. Nos EUA, onde a democracia está num estágio mais avançado, a sátira é presente e desejada nas campanhas, inclusive no pleito presidencial. Isso sem falar nos inúmeros programas de humor na televisão, no rádio e na internet.

Perceba a ironia: aqui debochamos dos políticos quando falam sério. Compartilhamos o constrangimento diante da...

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Novo iPhone chegou. E daí?

Que tempos são esses em que o lançamento de um smartphone é tratado como uma dádiva? A ponto de fazer com que milhares de desocupados fossem dividir espaço nas filas quilométricas em frente às lojas que receberiam primeiramente o aparelho. Estou seriamente entediado. Alguém aí pode me explicar onde está embutido o valor sagrado deste montante de alumínio desbloqueado e vendido por algo em torno de 600 dólares?
 

Foto: Divulgação.

Não sou um ser de amarras analógicas e nem tão velho assim. Não desprezo os benefícios de um bom smartphone, mesmo sabendo que a lógica perversa está no vício infantil de “estar conectado à rede o maior tempo possível”. Tive recentemente um Moto G, que muito me agradou, mas foi roubado. Voltei ao meu Galaxy surrado e que mal faz uma ligação decente. Não fiquei doente, nem carente por isso. Até do WhatsApp eu tirei umas férias. Sem grandes neuras ou dores de cabeça.

Mas voltemos à mística da empresa da maçã. Como pode? Um produto requentado, mesmo que bem...

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Na rota dos shows internacionais

O vácuo gerado pela Copa na agenda de shows internacionais parece ter acabado de vez. A partir desta semana, com a vinda da peste Miley Cirus, até março do ano que vem, quando ocorre mais uma edição do inflado Lollapalooza, uma boa leva de artistas vem ao Brasil mostrar sua porção de hits e alguma fama. Veja abaixo o nosso “Agendão”, organizado pelo evento mais recente até o mais longínquo, no final da tripa.

QUEENS OF THE STONE AGE

Queens of the stone age. Foto: Divulgação

Vale a menção pela qualidade artística, já que os ingressos estão esgotados, tanto para São Paulo quanto para Porto Alegre. Pela primeira vez os fãs terão a oportunidade de assistir a um show inteiro do quarteto em solo brasileiro. Os outros três sempre foram a festivais: Rock in Rio, em 2001, SWU, em 2010 e o Lollapalooza, em 2013. O que esperar? Muito peso, psicodelia e aquela gama de variações e acentos do stoner rock.

Onde e quando: em SP, no dia 25/09, às 20h30, no Espaço das Américas (r. Tagipurú, 795, Barra...

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Pedagogia de um crime

O problema do racismo não é só do futebol. É evidente. Concerne à sociedade brasileira como um todo. Diferente de grande parte dos espaços públicos e privados, num ambiente de estádio as ofensas se tornam conhecidas por conta da presença midiática cada vez mais forte e detalhista. Câmeras captam quase todo tipo de ação, tanto dentro do gramado quanto nas arquibancadas. Ao verbalizar seu xingamento inescrupuloso dirigido ao goleiro Aranha, do Santos F.C., a torcedora gremista Patricia Moreira da Silva achava que estava protegida pelo anonimato das massas. Na multidão, o autor de um grito nem sempre é facilmente reconhecido. Ledo engano. O flagrante foi explícito: “macaco!”, bradou a moça enquanto as lentes dos canais ESPN focalizavam seu rosto.
 

Foto: Reprodução

É claro que ela não foi a única a cometer o crime naquela área detrás do gol da Arena do Grêmio – setor que costuma arregimentar torcedores organizados. Para “seu azar”, ela só se tornou a protagonista de um ódio coletivo e...

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Na rota dos lançamentos

Passada a fúria futebolística da Copa do Mundo, o mercado do entretenimento saiu da letargia e voltou a cumprir uma agenda farta de lançamentos e espetáculos. Difícil é conseguir apreciar tamanho volume de novidades. Daquilo que já deixou a pilha de discos novos que se acumula aqui em casa, quero enaltecer três álbuns, no mínimo, interessantíssimos. Não vou cair na empolgação desmedida a ponto de colocá-los entre os “melhores do ano”, mas fatalmente merecem muito mais do que uma única ouvida.

Banda do Mar – Banda do Mar

Pelo que representa Marcelo Camelo, por aquilo que ele fez com os Los Hermanos, é natural observar um hype em torno do grupo (projeto?) que ele constituiu com Mallu Magalhães, sua mulher, e com o amigo de longa data Fred Ferreira. Este power trio de afinidades familiares encontrou em Portugal, terra natal de Fred, uma simpatia por um pop ensolarado, de perfil sessentista e sotaque forjado na surf music. Dos doze temas, sete são de Marcelo e cinco de Mallu. Quase todos...

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Bienal do livro é convite tentador para engordar biblioteca pessoal

Começa nesta sexta, 22 de agosto, mais uma Bienal Internacional do Livro de SP, em sua 23ª edição. Num país que pouco lê e pouco celebra a literatura, o evento tem um peso descomunal. Ao longo de nove dias (vai até 31 de agosto), são esperados mais de 700 mil visitantes no Pavilhão de Exposições do Anhembi, na zona norte da capital paulista. Pelos corredores estarão espalhados quase 500 expositores, com suas prateleiras tomadas de livros de todo o tipo, do infantil ao esotérico, do romance à autoajuda, do policial ao HQ. Se o espaço fosse maior e mais confortável, poderia receber mais gente. O Anhembi está no limite de sua capacidade física. E não há alternativas na capital paulista.
 

Cassandra Clare, autora da saga Instrumentos Mortais. Foto: Divulgação

A Bienal do Livro, em tese, precisa oferecer mais do que uma feira de livro de proporções bíblicas. Há um viés cultural importantíssimo, centrado numa programação com debates e mesas com autores. A ideia é conjugar o lado comercial...

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Sobre

Pitacos, reflexões e provocações sobre música, cinema, jornalismo, cultura pop, televisão e modismos.

Autores

Emanuel Bomfim

Emanuel Bomfim nasceu em 1982. É radialista e jornalista. Escreve para revista Cidade Nova desde 2003. Apresenta diariamente na Rádio Estadão (FM 92,9 e AM 700), em SP, o programa 'Estadão Noite' (das 20h às 24h). Foi colaborador do 'Caderno 2', do Estadão, entre 2011 e 2013. Trabalhou nas rádios Eldorado, Gazeta e América.