Narcos já está em alta rotação no Netflix. E não é preciso muito para a série, dividida em dez capítulos, te absorver (e entreter). Há um mix de narrativa de ação e grande reportagem neste retrato sobre o narcotraficante Pablo Escobar, líder do cartel de Medellín entre os anos 80 e 90. Ele é o centro da história, claro, mas há mais para ser apreciado nestes dez episódios dirigidos com brilhantismo pelo brasileiro José Padilha (Tropa de Elite e Ônibus 174), como a política podre da América e a maneira como os EUA empreenderam seu combate às drogas.
Narcos. Foto: Divulgação
Ao se aproximar de Escobar, vivido por Wagner Moura, é natural que se constitua uma visão menos maniqueísta. O “vilão” tem suas qualidades: é um homem-família, carismático, sensível a algumas questões sociais. Mais do que isso: é um empreendedor. E não há característica mais valorizada hoje do que as habilidades empresariais. Ora, nem por isso significa que haja qualquer movimento para redimi-lo ou desfazer o que a realidade já provou.
Com rigor jornalístico, Padilha busca os vários lados, configura toda teia econômica e de poder que se associou ao narcotraficante colombiano. Em suma, estamos falando de dinheiro, corrupção e muito sangue. É preciso algum estômago para encarar, já que há pouco ou quase nenhum glamour nesse tipo de atividade criminosa.
A história é contada a partir do ponto de vista de um agente do DEA (Departamento antidrogas dos EUA) que se muda para a Colômbia para entender a raiz do problema e enfrentá-lo. Tal como já havia funcionado com Tropa de Elite, Padilha usa esse narrador em off para facilitar o entendimento do contexto e tecer comentários inteligentes. Não é didático. A edição, esperta, mescla a ficção com o documental.
Narcos, ao final, também vai despertar uma reflexão mais generalizada sobre esse modelo combativo de guerra às drogas – tal como ela foi estabelecida nas Américas. Se não houvesse a proibição, existiria a figura de um Pablo Escobar? O quanto o tráfico é alimentado pelo contexto proibicionista? São perguntas que fatalmente virão à tona. Milhares já morreram, bilhões foram gastos pelos governos e o pior: a demanda por cocaína (e outras drogas) se manteve – ou até aumentou. Mas seria leviano achar que legalizar ou liberar resolveria o problema.
Pablo Escobar é a representação de uma época em que o tráfico de drogas trazia visibilidade e status. Foi uma era de “populismo” e enfrentamento das autoridades, de alguma forma. O negócio hoje se modernizou. Traficantes operam na sombra. Não alimentam mais a indústria cultural, mas estão aí. Não tenha dúvida.
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