Animação brasileira concorre ao Oscar

A 88ª edição do Oscar reservou uma grande notícia para o cinema brasileiro: O Menino e o Mundo, de Alê Abreu, foi indicado na categoria de Melhor Filme de Animação em longa-metragem. Concorre com AnomalisaDivertidamenteShaun, o carneiro e Quando estou com Marnie.
 
 

Reservado, Alê não estava comunicável nos momentos subsequentes ao anúncio da Academia de Artes Cinematográficas de Hollywood, realizado na manhã desta quinta-feira, 14. O diretor não usa celular e estava fora de São Paulo, de férias. Mas usou o Facebook para expressar a alegria pela indicação.

"Nosso filme nasceu como um grito sincero, de liberdade, de amor, um grito político, latino-americano. Mas sobretudo um grito contra o sufoco que a grande indústria cria aos potenciais artísticos, poéticos, e de linguagem da animação. E acho que este grito ecoou onde precisava ecoar. Um momento importante onde filmes de animação mais autorais concorrem ao prêmio maior da indústria de cinema", declarou. "Somos a zebra do ano, com...

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Ciente do fim, Bowie almejou plenitude artística

Quando a notícia é ruim, mal dá tempo de respirar. Assim amanheceu esta segunda, 11 de janeiro de 2016. O cinza da cidade e o mau tempo que se instalou serviram de cenário para a manchete trágica: David Bowie havia morrido. Ainda no dia anterior.

Ciente do fim, Bowie almejou plenitude artística. Foto: Mark Jeremy/Flickr Commons (14/08/2002)

Um comunicado divulgado na página oficial do cantor no Facebook dava consistência ao impensável: "David Bowie morreu hoje, pacificamente, cercado por sua família após uma luta corajosa de 18 meses contra o câncer. Ainda que muitos de vocês compartilhem nossa dor, pedimos que respeitem a privacidade da família neste período de luto".
 
Ora, como absorver tamanha tristeza e dor diante de alguém que estava tão ativo até pouco tempo? Seu novo e recém-lançado disco, Blackstar, era o assunto do momento. E, a reboque dele, todo o valor de uma carreira pautada pela inovação. E, agora, sem avisos prévios, Bowie se despede. A morte costuma dar sentido a...

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É possível ter esperança?

Quando se trabalha numa redação de jornalismo associada ao hardnews, aprendemos a manter um radar interno operante (pessoal e coletivo) para atuar rapidamente (e intensamente, em alguns casos) em situações extraordinárias que rompem o curso rotineiro das notícias. No fundo, torcemos sempre para que o temido Breakingnews nunca surja. Pelo mais simples motivo: em 99% das vezes acabaremos debruçados por tragédias de todo tipo.

Torre Eiffel reabre e é iluminada com cores da bandeira francesa. Foto: Sophie Robichon/Mairie de Paris

É um tipo de operação que, além de desgastante, é cada vez mais improvisada. Com a imposição do ao vivo, dividimos com a audiência (leitor, ouvinte, espectador) a apuração em tempo real. E, como hoje se prioriza cada vez mais a sustentação da transmissão, nem sempre há tempo para formular e entregar informações mais precisas e objetivas. Como numa corda bamba, o jornalista fica ali a narrar algo que nem sempre ele sabe bem o que está narrando. O número de...

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Série sobre Escobar é fascinante

Narcos já está em alta rotação no Netflix. E não é preciso muito para a série, dividida em dez capítulos, te absorver (e entreter). Há um mix de narrativa de ação e grande reportagem neste retrato sobre o narcotraficante Pablo Escobar, líder do cartel de Medellín entre os anos 80 e 90. Ele é o centro da história, claro, mas há mais para ser apreciado nestes dez episódios dirigidos com brilhantismo pelo brasileiro José Padilha (Tropa de Elite e Ônibus 174), como a política podre da América e a maneira como os EUA empreenderam seu combate às drogas.

Narcos. Foto: Divulgação

Ao se aproximar de Escobar, vivido por Wagner Moura, é natural que se constitua uma visão menos maniqueísta. O “vilão” tem suas qualidades: é um homem-família, carismático, sensível a algumas questões sociais. Mais do que isso: é um empreendedor. E não há característica mais valorizada hoje do que as habilidades empresariais. Ora, nem por isso significa que haja qualquer movimento para redimi-lo ou desfazer o que a...

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Sensorial

Cinema e futebol

Eryk Rocha, filho de Glauber Rocha, condensa duas de suas paixões em Campo de Jogo: o cinema e o futebol. Um é o meio; o outro é o objeto. Quando interligados, da maneira como depurou e estruturou, só poderia resultar numa explosão sensorial. Pura catarse. A narrativa é ditada sem convencionalismos: não há depoentes, não há academicismo e nem reportagem investigativa. Sua câmera flagra a dramaturgia (épica, por que não?) da final do Copa anual de Favelas do Rio de Janeiro, no bairro de Sampaio, vizinho ao Maracanã – que recebia na mesma época a “Copa das Copas”, a mesma do “7 a 1”. Neste espaço de terra batida demarcado com cal, mais do que o confronto entre Juventude X Geração, temos a fábula de um povo. Que se entrega aos desmandos da bola para redimir as misérias de um cotidiano. É um filme exemplar, que também irá falar muito sobre a decadência do nosso futebol – cada vez mais desfigurado e sem a “alma” varzeana que Eryk encontra em Campo de Jogo.

 

 

Wilco e a...

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A fúria e a dor de Nina Simone

O acaso deu uma nova chance para o discurso combativo de Nina Simone soar mais uma vez. No mesmo período em que os EUA voltam a confrontar uma ferida que ainda não cicatrizou – das tensões raciais –, o documentário What Happened, Miss Simone? entrou em cartaz no catálogo da Netflix – serviço de vídeos on demand.

Nina Simone. Foto: Divulgação

Eis a realidade que teima em castigar o país: nove pessoas foram mortas recentemente em um ataque racista em uma igreja evangélica na Carolina do Norte. Anteriormente, o desmantelo de uma ordem pacífica se deu com episódios de violência de policiais brancos contra vítimas negras. Muitos foram às ruas em protesto e o caos se instalou. A pressão por uma postura mais enérgica bateu na porta do presidente Barack Obama, o presidente que um dia representou a superação dessas diferenças.

É por isso que Nina volta a ficar tão atual, ainda mais com este registro do diretor Liz Garbus. Com ele, conhecemos a trajetória sacrificante de uma artista que sonha...

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Sobre

Pitacos, reflexões e provocações sobre música, cinema, jornalismo, cultura pop, televisão e modismos.

Autores

Emanuel Bomfim

Emanuel Bomfim nasceu em 1982. É radialista e jornalista. Escreve para revista Cidade Nova desde 2003. Apresenta diariamente na Rádio Estadão (FM 92,9 e AM 700), em SP, o programa 'Estadão Noite' (das 20h às 24h). Foi colaborador do 'Caderno 2', do Estadão, entre 2011 e 2013. Trabalhou nas rádios Eldorado, Gazeta e América.