Campos era símbolo de nova geração na política

Não é a política em si o tema sobre o qual procuro me abastecer mais largamente. Portanto, mesmo acompanhando o noticiário diariamente, qualquer análise agora soaria vazia e superficial. Ainda assim, considero necessário fazer um breve comentário diante da morte trágica do candidato Eduardo Campos (PSB), em acidente aéreo na cidade de Santos, litoral de SP. Comentário este que tem relação com o espírito deste blog, designado a estabelecer um diálogo com os mais jovens.

Para além dos aspectos atrelados à biografia e à personalidade do político pernambucano, herdeiro de Miguel Arraes, há uma conexão evidente com algo que o cenário do poder vem sofrendo nos últimos anos: a falta de renovação. Com 49 anos de idade recém completados, Eduardo Campos era a liderança mais estruturada que surgiu num espectro dominado pela polarização PT X PSDB. Que fique claro: não é possível dizer se era a melhor, nem mesmo a ideal. Mas sua figura trazia um frescor imediato ao debate.

É, de fato, muito...

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Anos 90 marcaram auge de Robin Williams

Robin Williams morreu ontem (11/08), aos 63 anos. Foto: Divulgação

Difícil alguém não ter sido impactado por uma grande atuação de Robin Williams nas últimas três décadas. Em especial nos anos 90, quando o ator atingiu seu ápice criativo e de popularidade. Basta lembrar de grandes sucessos como Hook (1991), Aladin (1992), Uma Babá Quase Perfeita (1993), Jumanji (1995) e Gênio Indomável (1997). A década anterior já havia lhe reservado espaços nobres em grandes filmes, como Bom Dia Vietnã (1987) e Sociedade dos Poetas Mortos (1989).  Todos estes títulos percorrem invariavelmente grades de programação das televisões, além de estarem facilmente disponíveis em outros formatos.

Curioso notar que Williams entrou nos anos dois mil muito abaixo do patamar que havia conquistado, fruto, quem sabe, de escolhas artísticas equivocadas ou até dos problemas pessoais que vinha enfrentando, como o vício em álcool e cocaína . O último grande personagem que emplacou, veja só, foi Patch Adams, no...

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Que rumo?

Terminado o ensino médio, não raro, o limbo se apresenta. Aquela rotina determinada pelos horários escolares some do mapa. Mal é possível identificar quando é dia e quando é noite. 

O que sobra é um mar de dúvidas e um estado de letargia que só o travesseiro é capaz de compreender. No entorno familiar, naturalmente caótico, os conselhos não demoram a chegar. Em princípio suaves, tomados por uma alegria quase infantil. Rapidamente o fair play vira jogo de Libertadores: pressão, catimba e marcação cerrada. Antes do cartão vermelho, o pior dos diagnósticos instiga a rota de colisão: “Você precisa tomar um rumo na vida!”.

Rumo? Que rumo? Não há via asfaltada e evidente no horizonte de qualquer ser que começa a encarar uma “fase adulta” da vida. As decisões parecem ganhar um peso absurdamente acima daquilo que é possível aguentar. É natural pensar que a convenção é a rota das rotas, ou seja, debruce-se sobre uma montanha de livros didáticos de cursinho e aguarde por aquela lista de...

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Memória pop

O ranking da Billboard, por mais “comercial” que ele seja, sempre serviu de baliza para compreender o peso histórico de certas músicas e bandas. Cravar o nome no Hot 100 da revista é a certeza de ter conquistado uma projeção considerável no disputado mercado norte-americano – ainda que o mérito artístico nem sempre seja o fator preponderante.

Vasculhar o passado da Billboard é justamente a proposta do ótimo site Nostalgia Machine, criado pelos amigos e estudantes de programação e design Eliot Slevin e Jacob Doran. Com uma navegação bastante simples, a página oferece os 100 singles mais tocados de cada ano, desde 1960 até 2013. A graça toda não está só na informação em si, mas na possibilidade de ouvir cada uma das músicas, disponibilizadas em áudios ou clipes do Youtube.

Para os fãs do pop, a imersão promete tomar algumas horas do dia. Eu, por exemplo, comecei aleatoriamente por um ano que considero marcante: 1997. Foi quando o Radiohead lançou o estupendo Ok Computer. Apesar de...

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Vale a pena votar?

Foto: Reprodução

Caro leitor, se você tem entre 16 e 17 anos, já deve saber: o voto não é obrigatório para sua faixa etária. Assim como não é para os analfabetos e para as pessoas com mais de 70 anos. O artigo 14 da Constituição assim garante. São os poucos beneficiados numa regra que é um contrassenso para o sentido de democracia. O Estado não deveria impor direitos a ninguém. É uma questão de princípio. Exercê-los deveria estar sob julgamento, apenas, do próprio cidadão.

A maioria da população brasileira também pensa assim. Em recente pesquisa do Datafolha, 61% dos entrevistados se declararam contra o voto obrigatório. Entre os mais jovens, de 16 a 28 anos, essa rejeição cai para 58%. Há diversas leituras sobre o levantamento, que vão além do mérito do voto obrigatório em si. O eleitorado, como massa disforme, teria outras motivações para não concordar com a imposição do voto, como a descrença nas instituições ou o desempenho catastrófico do atual governo.

Não quero, porém, discutir...

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A dor de uma derrota

Foto: Reprodução

Na desastrosa coletiva de imprensa da comissão técnica da seleção brasileira um dia após a humilhante derrota para Alemanha, o coordenador técnico do escrete canarinho, Carlos Alberto Parreira, protagonizou uma cena inusitada. Leu um email de uma tal “Dona Lúcia”, uma destas torcedoras bissextas que aparecem em época de Copa. Pouco entendem de futebol, mas ficam contaminadas pelo clima de euforia em torno do Brasil. Ela, por sinal, se mostrou uma fervorosa admiradora de Felipão. Não é para menos: nunca um técnico foi tão assediado pelas marcas e agências de publicidades como Scolari. Era até natural esperar de uma parcela da população brasileira esta identificação extremada com o comandante gaúcho.

Ao optar por dar voz a “Dona Lúcia”, Parreira deixou de dar explicações e palavras de consolo (se é que isso é possível) à maior vítima de uma eliminação em Copa: meninos na faixa dos 11 aos 14 anos. Não há público mais apaixonado pelo futebol do que esta molecada. Nesta...

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Sobre

Pitacos, reflexões e provocações sobre música, cinema, jornalismo, cultura pop, televisão e modismos.

Autores

Emanuel Bomfim

Emanuel Bomfim nasceu em 1982. É radialista e jornalista. Escreve para revista Cidade Nova desde 2003. Apresenta diariamente na Rádio Estadão (FM 92,9 e AM 700), em SP, o programa 'Estadão Noite' (das 20h às 24h). Foi colaborador do 'Caderno 2', do Estadão, entre 2011 e 2013. Trabalhou nas rádios Eldorado, Gazeta e América.