Para que não se repita

O julgamento de Nuremberg (novembro de 1945 a outubro de 1946) assombrou a humanidade ao tornar públicos primeira vez os horrores perpetrados pelo nazismo. As provas documentais (fotos, filmes, depoimentos) inéditas chocaram, revoltaram, abalaram o planeta. Hoje, após 70 anos da campanha judaica “para não esquecer”, Aushwitz e Dachau são nomes conhecidos até por crianças e, felizmente, continuam fazendo as pessoas se arrepiarem pelo que representaram. Graças a Deus. Dá até para pensar que, enquanto esse sentimento existir, estaremos alertas para que essa barbárie não se repita.

Vítimas do nazismo. Foto: Wikimedia

Mas o sinal vermelho se acendeu. Há perigo! Outras imagens de atrocidades se renovam na sua crueldade: a imigração dos povos do Norte da África e do Oriente Médio que chegam desesperadamente e clandestinamente à costa da Itália, expulsos de suas terras pela fome, pela perseguição religiosa e pelas guerras.

Da Itália, país que ainda não se recuperou da crise de 2008 e que...

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Um português muito antigo

Cresci vendo na estante da biblioteca de casa cinco grandes volumes vermelhos, de um autor português muito antigo. Nunca tive interesse em lê-los. Imaginava que, embora famosos, fossem maçantes e nada atraentes. Eram a obra completa de Eça de Queiroz.

Cresci vendo na estante da biblioteca de casa cinco grandes volumes vermelhos. Esse português muito antigo, que, estático, colecionou as camadas de poeira acumuladas ao longo da minha vida, teve uma chance derradeira e recente. Minha exclamação, já nas primeiras páginas, foi: quanto tempo eu perdi!. Foto: Fernanda Pompermayer

Esse português muito antigo, que, estático, colecionou as camadas de poeira acumuladas ao longo da minha vida, teve uma chance derradeira e recente. Casualmente resolvi ler A cidade e as serras. E a minha exclamação, já nas primeiras páginas, foi: quanto tempo eu perdi!

O português é arcaico, sim, mas, com raras exceções, compreensível. Nada que exceda a leitura de Saramago.

Hoje a obra de Eça é toda de domínio...

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Pamuk e a arte do romance

Se você ainda não leu Orhan Pamuk, antes de mergulhar em Outras cores (Companhia das Letras, 2010) leia Istambul, Neve, Meu nome é vermelho... ou outra obra-prima desse Prêmio Nobel de Literatura. Todos valem muito a pena.

O Prêmio Nobel de Literatura, Orhan Pamuk, autor de "Outras cores", "Istambul", "Neve", e "Meu nome é vermelho". Foto: Divulgação

Digo isso porque em Outras cores Pamuk abre a alma: revela seus pensamentos mais íntimos, reminiscências da infância, do início da carreira... Conta como pensou em escrever cada um dos livros que citei acima e outros ainda. Fala porque decidiu ser escritor e quais foram as suas influências literárias. Tudo isso é muito bom de se ler quando já se saboreou os textos desse grande homem de alma turca.

Já me aconteceu de, depois de ler Istambul, por exemplo, escolher outro livro para ler de um autor que eu ainda não conhecia. A trama era interessante, a leitura valeu a pena (como quase sempre!), mas faltava alguma coisa... como uma comida com...

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Uma história bem contada

Há alguns anos as livrarias nos oferecem muitas novas edições de “histórias” do Brasil, do mundo, do século... Laurentino Gomes levou três prêmios Jabuti pelas excelentes obras 1908, 1922 e 1899. Anos antes Elio Gaspari escancarou os porões da ditadura em quatro volumes monumentais, para ficar só em dois exemplos.

Todos esses livros são de extrema importância num país como o nosso, em que a história nunca foi muito bem contada... Para as pessoas da minha geração, que nasceram, cresceram e completaram os estudos sob o regime militar, havia muitos pontos obscuros a serem esclarecidos e muitos heróis a serem derrubados de seus pedestais. Além do mais, as obras mais recentes, geralmente escritas por jornalistas, são prazerosas de se ler, quase romances históricos, sem pecar contra a verdade dos fatos.

No rol desses livros reveladores, e publicado ainda em 1994, encontra-se Coluna prestes: o avesso da lenda, da jornalista Eliane Brum. Hoje escritora e colunista do espanhol El país na sua...

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Conversando com a América

Abril se foi. E com ele um dos grandes nomes da literatura latino-americana: Eduardo Galeano. Um homem que teve várias pátrias (Uruguai, Argentina, Espanha) e uma grande paixão: a América Latina – suas histórias, suas origens, sua dominação por antigos e novos colonizadores.

Eduardo Galeano, um dos maiores nomes da literatura latino-americana. Foto: Divulgação

Iniciou cedo sua carreira, com charges políticas, mais tarde como jornalista e escritor. Teve sua trajetória truncada pelo golpe militar no Uruguai. Em 1973, foi preso e se exilou na Argentina. Mas também lá, depois de conseguir publicar alguns livros, foi a vez de o golpe militar do general Videla, em 1976, ameaçar a sua vida. Foi acolhido pela Espanha, onde viveu até que a democracia voltasse a ser instaurada no Uruguai.

Foi nessa época tumultuada dos anos 1970, quando a maioria dos países do continente vivia em regime ditatorial que Galeano revelou ao mundo “as veias abertas América Latina”. Era um tempo em que, embalados...

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O horizonte visto do morro

Há 20 anos o Rio de Janeiro deixou de ser apenas a Cidade Maravilhosa e carrega uma nova alcunha: Cidade Partida. O novo título lhe foi atribuído pelo jornalista e escritor Zuenir Ventura. Antes de escrever A Cidade Partida – que ganhou o Prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro, na categoria Melhor Reportagem (1995) – Zuenir foi correspondente de guerra na favela de Vigário Geral, no Rio de Janeiro. A obra é o resultado da sua experiência vivida num ambiente duro, marcado pela violência, ao mesmo tempo em que a sociedade civil começava a se mobilizar para combatê-la e mitigar a exclusão social.

Seu livro marcou época e essa época mudou bastante. Em novembro de 2013 o Instituto Data Popular realizou uma pesquisa, a “Radiografia das Favelas Brasileiras”, com resultados surpreendentes. Seus pesquisadores, membros das próprias comunidades devidamente capacitados, investigaram 63 favelas, em dez regiões metropolitanas do Brasil, coletando depoimentos de 2 mil pessoas. Fruto da...

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Sobre

No início da Era Cristã, toda a informação que uma pessoa conseguia assimilar durante a vida era inferior ao que está à disposição dos leitores numa edição de domingo de um jornal como O Estado de S.Paulo. É patente a evolução exorbitante do acesso à informação e da multiplicação do conhecimento. A literatura, antes restrita a uma exígua elite de pessoas letradas, continua sendo o canal por excelência para o conhecimento e passou por uma enorme democratização: hoje está ao alcance de todos. Vamos explorar juntos esse admirável mundo feito de “tinta sobre papel” ou de “pixels sobre tela”.

Autores

Fernanda Pompermayer

Formada em jornalismo pela Famecos (PUC-RS) em 1985, há seis anos trabalha na revista Cidade Nova. Foi repórter, editora e atualmente é editora-chefe da revista. Cursou ciências humanas, socais e teológicas no Instituto Internacional Misticy Corporis em Florença (Itália) e no cantão de Friburgo (Suíça).