Capas e espadas

Não é de hoje que romances de cavalaria ocupam lugares de destaque nas livrarias e fazem sucesso entre adolescentes, jovens e menos jovens. A trilogia As Crônicas de Artur (O rei do inverno, O inimigo de Deus e Excalibur), de Bernard Cornwel, sobre o mítico rei Artur engrossa a lista.

Segundo Cornwel, trata-se da “verdadeira” história de Artur e dos cavaleiros da Távola Redonda. Que, para começar, não era uma távola (mesa) e nem era redonda. Também não aparece o lance da espada presa numa pedra que, segundo reza a lenda, só o verdadeiro rei conseguiria arrancar (Artur).

Há muitas outras divergências em relação às várias historias de Artur. E há também coincidências. Artur nunca foi rei e o nome do reino não era Camelot. Mas a famosa espada se chamava, sim, Excalibur, e o mago Merlin – aliás, mago não, druida – que espalhava magias e contra-feitiços por toda parte.

Bernard Cornwel, autor da trilogia "As crônicas de Artur". Foto: Wikipedia

Parece história de crianças. Mas não é. Literatura também é entretenimento, é sonho, é abstração da realidade para se deixar guiar por uma “magia”, tão grande quanto a maestria do autor em criar uma narrativa, descrever detalhes, envolver até tornar “visível” o que ele quer que enxerguemos.

Histórias de capa e espada, além da narrativa, revelam muito de sua época. No caso da trilogia de Artur, apreendem-se noções básicas de mitologia antiga, da cultura celta, da formação do que hoje chamamos de anglo-saxões. O povo de Artur habitava a Britânia, antiga província romana que corresponde à região central da atual Inglaterra. As grandes lutas travadas por Artur e seus cavaleiros, apoiados por irlandeses, eram contra os bárbaros saxões (germânicos), para defender a Britânia. Da fusão desses povos temos os ingleses de hoje.

Vários predicados permeiam os três livros: coragem, lealdade, amor pátrio, respeito pelo sagrado – independentemente de sua matriz – o valor de uma palavra dada e de um juramento. Todos eles valores que hoje fazem muita falta.

 

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Sobre

No início da Era Cristã, toda a informação que uma pessoa conseguia assimilar durante a vida era inferior ao que está à disposição dos leitores numa edição de domingo de um jornal como O Estado de S.Paulo. É patente a evolução exorbitante do acesso à informação e da multiplicação do conhecimento. A literatura, antes restrita a uma exígua elite de pessoas letradas, continua sendo o canal por excelência para o conhecimento e passou por uma enorme democratização: hoje está ao alcance de todos. Vamos explorar juntos esse admirável mundo feito de “tinta sobre papel” ou de “pixels sobre tela”.

Autores

Fernanda Pompermayer

Formada em jornalismo pela Famecos (PUC-RS) em 1985, há seis anos trabalha na revista Cidade Nova. Foi repórter, editora e atualmente é editora-chefe da revista. Cursou ciências humanas, socais e teológicas no Instituto Internacional Misticy Corporis em Florença (Itália) e no cantão de Friburgo (Suíça).