Questão de autenticidade

Quem não conhece George Orwell? Se alguém ainda não teve esse prazer, não deve perder tempo, pois vale muito a pena!

George Orwell

Orwell é famoso principalmente por duas de suas obras: A revolução dos bichos (1945) e 1984 (1948). O primeiro, escrito durante a Segunda Guerra Mundial, é uma fábula construída com a mais refinada sátira. Os “moradores” de uma fazenda, ou seja, cavalos, ovelhas, porcos... são uma paródia de alguns dos protagonistas que duelam sobre o tabuleiro da política internacional, mas principalmente na Rússia. Orwel cunha, então, a máxima de que “todos os bichos – leia- se homens – são iguais, mas alguns são mais iguais do que outros”. Os personagens principais não por acaso são dois porcos: um banido (Leon Trótski) e o outro dominador e déspota (Joseph Stalin).

Com um conteúdo atômico como esse o livro encontrou enorme rejeição entre os editores ingleses, até conseguir ser publicado. Vale lembrar que a Rússia era, então, aliada da Grã-Bretanha no combate ao...

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Como o mundo gira

Roberto Saviano. Foto: Divulgação

Napolitano, jornalista, escritor, 35 anos, preso em liberdade. Esse é Roberto Saviano, mundialmente famoso por ter escrito Gomorra, um best-seller que já superou 10 milhões de cópias vendidas mundo afora. Saviano teve a coragem de investigar e denunciar a Camorra, a máfia napolitana, dando nome aos bois. A todos os bois. Quem leu o livro ficou sabendo nome, sobrenome e endereço dos maiores boss da região. Além de conhecer suas atividades, suas fontes de renda, suas práticas violentas e assassinas. Precisa ter estômago para ler, ele descreve com detalhes as execuções, pois o tipo de morte, a posição do morto, tudo tem um significado. É um aviso, uma recomendação: quem agir dessa forma terá o mesmo fim. Para falar de Saviano e do que ele escreveu depois, é impossível não falar de Gomorra, que aliás virou filme e teve seu roteiro premiado pelo cinema europeu em Cannes.

Gomorra transformou Saviano de um jornalista em um escritor. De um jovem pouco...

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Nós e os hermanos argentinos: mais afinidades que discordâncias

Nesta época do ano o Brasil vive uma verdadeira invasão de hermanos argentinos, principalmente nas praias da região Sul. Calor, águas calmas e mornas para os padrões dos nossos vizinhos... É um sonho paradisíaco.

No fim das contas, com o objetivo de buscar um lugar ao sol, acaba acontecendo um grande intercâmbio cultural e social. Nós rivalizamos muito com os hermanos na hora que a bola rola num campo de futebol, mas no fundo, no fundo, desavenças superficiais à parte, até que nos acertamos com eles.

Plaza de Mayo, Buenos Aires. Foto: Fernanda Pompermayer

Estive recentemente em Buenos Aires e a situação não me pareceu muito diferente por lá. A língua mais ouvida pelas ruas, filas, cafés, museus, lojas, era o português. Nunca vi tanto cambista na rua querendo trocar reais!

Para aproveitar bem essa viagem, que finalmente era de turismo, me debrucei – e deliciei – um tempo antes, com o livro de Ariel Palacios, Os argentinos, da Editora Contexto. Aliás fica a dica para quem for viajar para...

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A ressurreição de Poirot

Há um certo preconceito em relação aos livros ditos “policiais”, considerados por alguns como literatura de massa. Depende do que se entende por literatura. Há livros cuja finalidade é agregar conhecimento científico – no sentido amplo do termo – ou acadêmico. Há outros que constroem no leitor uma determinada visão de mundo. Mas há também ficção, crônicas, contos, poesia... Quem teria coragem de dizer que Carlos Drummond de Andrade não fez literatura? Ou contestar Gabriel García Márquez?

Literatura é puro conhecimento. E pode ser puro entretenimento, puro prazer também. Sim, porque ler abre a mente e nos faz mergulhar numa outra realidade: aquela criada pelo autor, com sua sensibilidade, capacidade de expressão, talento, muitas vezes genialidade.

Ler abre a mente e nos faz mergulhar numa outra realidade

Nos livros de suspense há esmero na composição da trama, eles desenvolvem e aguçam a atenção do leitor para os detalhes – uma experiência válida também para a vida além das páginas....

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História de muitas histórias

Sessenta anos é uma idade respeitável. Ainda mais se ela corresponder a 60 edições ininterruptas de uma feira de... livros! Num país que carrega a fama e a tradição de ler pouco, com uma população de 13 milhões de analfabetos, não é pouca coisa. Onde isso? Em Porto Alegre, que faz sua feira nas ruas da região central da cidade. É considerada a maior feira literária a céu aberto da América Latina.

História de muitas histórias. Foto: Fernanda Pompermayer

Além do acesso aos livros, a Feira também promove centenas de atividades gratuitas para públicos de todas as faixas etárias, envolvendo escritores, ilustradores, mediadores da leitura, contadores de histórias e outros convidados.

A feira começou em 1955, idealizada pelo jornalista Say Marques, diretor-secretário do extinto Diário de Notícias. Marques convenceu livreiros e editores a participarem do evento, reunindo grandes nomes do mercado editorial da época. O objetivo era popularizar o livro e a leitura num tempo em que as livrarias...

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O futuro do livro

A 23ª Bienal do Livro, encerrada no último domingo em São Paulo, contou com a presença de 720 mil visitantes. E registrou aumento geral de 97% no faturamento em comparação com a última edição, em 2012. A melhor notícia é que grande parte do público eram jovens e adolescentes. O que me fez lembrar de uma célebre frase de George Orwel (autor de A revolução dos bichos e de 1984 entre outros títulos, todos de altíssimo nível): “Quando se diz que um escritor está na moda, isso quer dizer que ele é admirado por menores de trinta anos”.

Livros. Foto: Divulgação

Foi o que provou o frisson causado pela presença de autores como Cassandra Clare (autora da série Os Instrumentos Mortais) e Kiera Cass (série A Seleção, além de A EliteA Escolha).

Essa participação em massa é um ótimo sinal para um país pouco afeito à leitura, um forte indício de que o livro não morreu nem entrou processo de extinção, como muitos previram, principalmente depois da proliferação dos livros digitais. Falo do livro...

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Sobre

No início da Era Cristã, toda a informação que uma pessoa conseguia assimilar durante a vida era inferior ao que está à disposição dos leitores numa edição de domingo de um jornal como O Estado de S.Paulo. É patente a evolução exorbitante do acesso à informação e da multiplicação do conhecimento. A literatura, antes restrita a uma exígua elite de pessoas letradas, continua sendo o canal por excelência para o conhecimento e passou por uma enorme democratização: hoje está ao alcance de todos. Vamos explorar juntos esse admirável mundo feito de “tinta sobre papel” ou de “pixels sobre tela”.

Autores

Fernanda Pompermayer

Formada em jornalismo pela Famecos (PUC-RS) em 1985, há seis anos trabalha na revista Cidade Nova. Foi repórter, editora e atualmente é editora-chefe da revista. Cursou ciências humanas, socais e teológicas no Instituto Internacional Misticy Corporis em Florença (Itália) e no cantão de Friburgo (Suíça).