Em tempos de Operação Lava Jato e de Panama Papers, O homem que roubou Portugal, do norte-americano Murray Teigh Bloom, cai como uma luva.
O homem que roubou portugal
O livro conta a história real de Artur Virgilio Alves Reis, comerciante português falido que, a partir de 1925, tramou e aplicou o maior golpe financeiro da história – até hoje, tornando-se o homem mais rico do país.
O prejuízo para os cofres públicos portugueses foi o equivalente a 2,6% do PIB português da época, causando uma crise quase macroeconômica. Também levou à falência uma das mais ilustres e respeitadas tipografias da Inglaterra, especializada em impressão de papel moeda: a Waterlow & Sons.
Não foi apenas um golpe, mas vários. Três amigos de Reis foram envolvidos. Angola, então Colônia portuguesa, também entrou na história. Era uma espécie de paraíso fiscal para onde era drenado o dinheiro falso, “lavado” por meio de grandes obras de infraestrutura. Lembra alguma coisa? Mera coincidência...
Murray Bloom, excelente jornalista e escritor, narra essa verdadeira saga em terceira pessoa, com detalhes sobre seus meandros e ramificações.
É incrível como um único cérebro foi capaz de convulsionar Portugal, Inglaterra, Holanda e Angola, envolvendo milhares de pessoas... milhões, se considerarmos toda a população portuguesa, que se deparou com a crise financeira de um dia para o outro.
As transcrições dos julgamentos do caso em Londres, por conta da Waterlow, encheram 2.100 páginas. Já em Portugal a documentação atingiu um número recorde: 75 volumes, 32 anexos, num total de 22 mil páginas.
Segundo Bloom, Alves Reis triunfou “porque tinha a imaginação fértil dos ignorantes, a segurança dos desinformados e a sorte absurda dos principiantes”.
Um detalhe nada vulgar é a ligação dessa história com Fernando Pessoa. O escritor português, curioso com o caso, assistiu da plateia ao julgamento de Alves Reis. No final do livro encontram-se as anotações feitas por Pessoa durante as sessões.