Fase londrina de Hendrix é contemplada em mostra

Nunca fui afeito a exposições sobre artistas da música. Sempre achei perfumaria para agradar fã. Qual é o sentido de conhecer a memorabilia de alguém se aquilo que ele efetivamente produziu foi feito para os ouvidos?

"Hear My Train a Comin: Hendrix Hits London" já passou por Londres e Seattle. Foto: Divulgação

Mudei rapidamente de opinião com a exposição sobre David Bowie, que passou recentemente pelo MIS (Museu da Imagem e do Som), em SP. Até porque a experiência sonora também foi contemplada nessa belíssima montagem, além dos inúmeros objetos reunidos. Com ela, entendi o valor de tentar captar a epifania criativa impregnada em elementos prosaicos: no ambiente, nas roupas, nas anotações. Neste caso, era possível decodificar algo ainda mais pleno, de um gênio pop que estrategicamente se apropriou de múltiplas linguagens para se expressar. E foi (e ainda é) extremamente bem-sucedido.

Outro gigante da música, ou pelo menos uma faceta daquilo que ele deixou, ganha mostra na capital...

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Fim de jogo

Foto: Breno Silva/Flickr

Queria parar de ver futebol. Desde a mais tenra idade, perto dos seis anos, a paixão boleira figura na “agenda da vida”, ora com mais intensidade, ora sem qualquer relevância. São incontáveis horas dedicadas ao sabor das derrotas e vitórias, em múltiplos campeonatos e amistosos. Do meu time, do time do meu amigo, do time que for. O fascínio pelo esporte bretão já roubou meu olhar sem precisar de qualquer requinte. Se a televisão passasse, era motivo para me estatelar em frente à tela, sempre à espera de algo mágico.

É claro que a carga de frustração sempre foi infinitamente maior. Partidas insossas, jogadores ruins, nível zero de emoção. Mesmo assim, mantive minha fidelidade a esse amor platônico. Nunca pensei que ele pudesse se esfacelar. Foi o futebol que me ensinou a ler (devorava os cadernos de esporte), a gostar de rádio, a fazer amigos. Não há meio mais fácil de se aproximar de alguém do que a célebre frase: “Você viu o jogo de ontem?”. Sou eternamente...

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Filme sobre Yoani Sanchéz é retrato da intolerância à brasileira

Um pouco antes das primeiras manifestações de massa no Brasil, aquelas dos “20 centavos”, a blogueira cubana Yoani Sánchez veio ao país. Era começo de 2013 e o circo que se armou em torno da visita projetou um cenário de acirramento ideológico que não se via há algum tempo por aqui. Não que ele não existisse; só não clamava por apelo público. Com os protestos que se sucederam, a realização da Copa do Mundo, as eleições de 2014 e as marchas do “Fora Dilma”, vimos explodir vozes radicais por todos os lados. Com ajuda das redes sociais, claro

A viagem de Yoani. Foto: Divulgação

Se há um grande mérito no documentário A Viagem de Yoani, ele está justamente em captar o berreiro que se formou na passagem da jornalista por algumas capitais, como Salvador, São Paulo e Brasília. Todos falam, ninguém se escuta. O exemplo de democracia à brasileira: o que vale é se impor. Para quê dialogar? Até o ex-senador Eduardo Suplicy, símbolo da mais pura mansidão, saiu do sério com os manifestantes...

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Redução da maioridade representa avanço?

O debate sobre a redução da maioridade penal jamais silenciou na sociedade brasileira. Independentemente das intenções do Congresso Nacional, normalmente oportunistas, o tema surge com mais ou menos força diante das ofertas de crimes praticados por menores. E, claro, do quanto eles são veiculados na grande imprensa. O problema é que, em geral, se confunde impunidade com proteção integral do adolescente, conforme rege o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente).

Numa legislação bem calibrada e colocada em prática com o rigor necessário, seria possível combinar os dois aspectos: resguardar as garantias necessárias a esta faixa da população, assim como punir de maneira contundente aqueles que cometem crimes hediondos (homicídio, latrocínio, estupro...). No Brasil, porém, não se faz nem um nem outro. O adolescente é tanto vítima da violência diária, como “beneficiário” da aberração do limite máximo de três anos de internação (com direito a sair com ficha limpa quando fizer 18) – mesmo...

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Alexandre Borges: "É importante diversificar"

Guimarães Rosa volta a frequentar as telas. Desta vez, com a adaptação do conto Corpo Fechado, presente em Sagarana - uma das principais obras do escritor mineiro. O filme foi batizado como Meus Dois Amores e tem a direção de Luiz Henrique Rios, experiente na televisão, estreante no cinema. A seu favor, está um elenco fabuloso: Caio Blat, Maria Flor, Alexandre Borges, Lima Duarte, Vera Holtz, Milton Gonçalves... O desafio foi dar acabamento visual a uma ficção que tem na linguagem textual o seu principal trunfo.

Meus dois amores. Foto: Divulgação

A história mostra um vaqueiro dividido entre dois amores: o da noiva, Das Dô, e da mula Beija-Fulô. Não bastassem os problemas de ordem afetiva, ele se mete numa encrenca ainda mais grave, ao vender um cavalo bichado para o capitão Targino - que reage prontamente com uma vingança das brabas.  

Na última quinta-feira, 19, dia da estreia do filme, eu conversei por telefone com o ator Alexandre Borges, responsável por este Targino implacável,...

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O maestro do Canão

Já na pré-estreia houve um forte indicativo de quanto a popularidade do rapper Sabotage continuava em alta. Quatro mil pessoas foram ao Auditório do Ibirapuera, na zona sul de São Paulo, na tentativa de conseguir um dos 800 ingressos disponibilizados para a exibição do documentário Sabotage: O Maestro do Canão.

O rapper Sabotage. Foto: Divulgação

Era uma sexta-feira, 23 de janeiro. A morte do músico completaria exatos doze anos no dia seguinte. A organização do evento não esperava tamanha adesão do público, ainda que o evento no Facebook já contasse com 60 mil confirmados. Houve confusão, empurra-empurra e uma porta de vidro da entrada do auditório quebrada. Pelo menos duas pessoas ficaram feridas, mas sem gravidade. Sessões extras tiveram que ser improvisadas por conta da forte demanda.

A partir desta semana o desejo represado de muitos fãs poderá ser atendido com mais tranquilidade. O filme está entrando no circuito dos cinemas, em seis capitais e com várias sessões gratuitas.

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Sobre

Pitacos, reflexões e provocações sobre música, cinema, jornalismo, cultura pop, televisão e modismos.

Autores

Emanuel Bomfim

Emanuel Bomfim nasceu em 1982. É radialista e jornalista. Escreve para revista Cidade Nova desde 2003. Apresenta diariamente na Rádio Estadão (FM 92,9 e AM 700), em SP, o programa 'Estadão Noite' (das 20h às 24h). Foi colaborador do 'Caderno 2', do Estadão, entre 2011 e 2013. Trabalhou nas rádios Eldorado, Gazeta e América.