Fase londrina de Hendrix é contemplada em mostra

Nunca fui afeito a exposições sobre artistas da música. Sempre achei perfumaria para agradar fã. Qual é o sentido de conhecer a memorabilia de alguém se aquilo que ele efetivamente produziu foi feito para os ouvidos?

"Hear My Train a Comin: Hendrix Hits London" já passou por Londres e Seattle. Foto: Divulgação

Mudei rapidamente de opinião com a exposição sobre David Bowie, que passou recentemente pelo MIS (Museu da Imagem e do Som), em SP. Até porque a experiência sonora também foi contemplada nessa belíssima montagem, além dos inúmeros objetos reunidos. Com ela, entendi o valor de tentar captar a epifania criativa impregnada em elementos prosaicos: no ambiente, nas roupas, nas anotações. Neste caso, era possível decodificar algo ainda mais pleno, de um gênio pop que estrategicamente se apropriou de múltiplas linguagens para se expressar. E foi (e ainda é) extremamente bem-sucedido.

Outro gigante da música, ou pelo menos uma faceta daquilo que ele deixou, ganha mostra na capital paulista a partir do dia 10 de junho: Jimi Hendrix. O que vem para cá e terá o Shopping JK Iguatemi como palco se refere especificamente à consagração do guitarrista norte-americano em solo britânico.

Hear My Train a Comin: Hendrix Hits London, que já passou por Londres e Seattle – terra natal do roqueiro –, conta com mais de 140 peças, entre roupas, instrumentos, vídeos de shows históricos e manuscritos, como a letra de Love or Confusion, de 1967.

O material, sob curadoria de Jacob McMurray e Janie Hendrix, irmã do músico, estará dividido por 14 alas, com intuito de exaltar a revolução musical propiciada pelo artista, morto com apenas 27 anos, em 1970.

As famosas jaquetas floridas usadas por ele, talvez a marca fashion mais forte em Hendrix, estão contempladas em uma das alas. A guitarra modelo Fender Stratocaster, usada no festival de Woodstock, é outro grande chamariz da exposição, assim como a guitarra que ele queimou no festival de Monterrey, no México, em 1967. Mas, claro, aquilo que sobrou dela.

A passagem de Hendrix por Londres é descrita como algo avassalador, que mexeu com a cabeça de ícones locais, como Beatles, Stones e The Who. Foram mais de 100 shows em 9 meses, ao lado de sua Jimi Hendrix Experience, que contava com o baixista Noel Redding e o baterista Mitch Mitchel – talvez o power trio mais incrível da história do rock.

Em solo britânico, o guitarrista compôs temas como Purple Haze, Wind Cries Mary e fez a famosa versão de Hey Joe, de Billy Roberts. A estada em Londres não só despertou a atenção de muita gente influente, como também foi fundamental na própria formação de Hendrix.

Conhecer um pouco da intimidade do melhor guitarrista do mundo é, também, uma oportunidade para voltar a devorar sua discografia, que guarda algumas obras-primas. A principal delas, ao meu ver, é Electric Ladyland, gravado e lançado em 1968. É o disco em que a versatilidade de Hendrix está mais pulsante. É onde seu trio se mostra mais jazzístico. É onde se pode contemplar este mix infalível de psicodelia, blues, distorções e baladas arrasadoras. E tem ainda um cover matador de All Along the Watchtower, de Bob Dylan. Precisa de mais?

 

 



Sobre

Pitacos, reflexões e provocações sobre música, cinema, jornalismo, cultura pop, televisão e modismos.

Autores

Emanuel Bomfim

Emanuel Bomfim nasceu em 1982. É radialista e jornalista. Escreve para revista Cidade Nova desde 2003. Apresenta diariamente na Rádio Estadão (FM 92,9 e AM 700), em SP, o programa 'Estadão Noite' (das 20h às 24h). Foi colaborador do 'Caderno 2', do Estadão, entre 2011 e 2013. Trabalhou nas rádios Eldorado, Gazeta e América.