Gre-Nal terá torcida mista

Sempre achei que o problema da violência entre torcidas organizadas no futebol brasileiro fosse algo insolúvel. Por vários motivos, como a falta de rigor e aplicação da lei, a conivência dos grandes clubes e a própria constituição dessas facções – que pregam o confronto e o vandalismo, entre outras práticas abomináveis. Ao mesmo tempo em que promovem um belíssimo espetáculo no estádio, elas são as responsáveis por destruí-lo. É a propaganda mais falaciosa que há hoje no futebol bretão.

“Se nos bares e nas casas as pessoas assistem aos jogos juntos, por que elas não podem fazer o mesmo no estádio?", questiona o vice-presidente de administração do Inter, Alexandre Limeira.

A questão é tão complexa e recorrente que fez esgotar até o fôlego para o debate. Por que perder tempo na imprensa falando sobre o tema se a cada clássico o roteiro do terror será sempre o mesmo? Pior: fez muita gente (federações e poder público) optar pela covardia e adotar torcida única nos estádios. Como se a...

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Um tributo à altura do furacão Cássia Eller

Antes do filme, pouco se fez para exaltar a figura de Cássia Eller – talvez a maior intérprete feminina da música brasileira dos anos 90 para cá. Coloco um "talvez" porque há uma Marisa Monte na espreita. São vozes díspares, contemporâneas (o 1º de Marisa é de 1989 e o de Cássia é de 1990), mas importantes em igual medida.

Cássia Eller. Foto: Divulgação

Desde a sua morte, em 29 de dezembro de 2001, o que de mais relevante surgiu em torno da cantora carioca foi uma biografia (fora de catálogo), escrita pelos jornalistas Eduardo Belo e Ana Cláudia Landi, de nome Apenas uma Garotinha - A História de Cássia Eller; e o irregular musical dirigido por João Fonseca, Cássia Eller - O Musical, lançado nos palcos no ano passado. 

O documentário de Paulo Henrique Fontenelle (de Loki e Dossiê Jango) é o melhor tributo que Cássia recebeu até agora. E não só pela envergadura do projeto, que cobre boa parte da história da artista, mas pela franqueza na abordagem, algo exigido pela própria Maria...

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Avalanche cinematográfica

Eis que começa uma nova fase do blog que assino aqui na Cidade Nova. Antes uma extensão da seção Teen da revista, agora ele passa a ser a quinzenal e com maior apreço pelos temas de arte & cultura. Seja bem-vindo e bom 2015!

Oscar. Foto: Divulgação

O melhor do Oscar está neste impulso que ele gera pela busca do consumo cinematográfico. Ora, porque outras premiações não conseguem produzir o mesmo efeito? Basicamente porque não são expressões da indústria que domina o mercado. Realizar uma cerimônia que possa reverenciar as estrelas e produtos deste sistema é a ação de marketing perfeita para se perpetuar no imaginário popular. Todos estamos fisgados pelo star system: público, cinéfilos, imprensa e, claro, todos envolvidos diretamente com o audiovisual. Há algum mal nisso? Não. Basta compreender que premiações não representam, necessariamente, os melhores. Há filmes bons e ruins. O grau de justiça nas escolhas é questionável. Como toda premiação (ou eleição) que se preze.

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A safra é...

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Por que fazer metas?

Sim, reconheço, a pergunta acima parece um clichê de livro de autoajuda. Fim de ano, aliás, é um mar sem fim de convenções apaziguadoras. Renovamos eternamente a sensação do “agora tudo está zerado” para tentar seguir em frente. São as benesses dos ciclos. Sempre é possível começar mais um. Isso inclui os aspectos afetivos, relacionais, emocionais, além do profissional, claro.

Feliz 2015! Foto: Freepik*

Nunca fui afeito a planejamentos anuais, destes que clamam por uma lista caprichada antes do réveillon. Meu desprezo sarcástico tem relação, talvez, com a mais completa falta de habilidade com a composição de projetos organizados. A práxis caótica do cotidiano (e da mente avoada) não combinaria com ato tão nobre e disciplinado.

O problema é mais embaixo, na verdade. Eu sei. O receio às metas de um novo ano nada mais é do que o medo de se comprometer. O medo de perder o “romantismo da vida” e seu fatalismo imprevisível. O medo de confrontar, ao final de uma nova temporada, com o...

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Morre o cantor Joe Cocker, aos 70 anos

Morreu nesta segunda-feira, 22 de dezembro, o cantor Joe Cocker, ao 70 anos. O músico lutava contra um câncer de pulmão. Britânico de nascença, mas com uma voz depurada na escola da música negra norte-americana. Cantava o blues e a soul music como poucos: de maneira intensa, pura e vigorosa. A voz rouca sempre ajudou a dar personalidade a sua interpretação, referência para qualquer cantor que almeja o ápice da consagração pop. Fã de Beatles, transformou With a Little Help From My Friends num grande hino, além de ter sido tema do fantástico seriado Anos Incríveis.

O cruzamento entre o rock e o soul é o que formou a identidade sonora de Joe Cocker. Nomes como Little Richards, Chuck Berry e Jerry Lee Lewis ajudaram a "salvar" sua infância e adolescência, vivida na empobrecida Sheffield. Depois veio Ray Charles e a epifania de uma música que emergia com força nos Estados Unidos. Se embriagou do soul e do R&B de tal maneira que não teve dúvidas que sua redenção estaria no palco. Assim...

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Alguns grandes discos de 2014

É sempre uma tarefa irresistível, mas também sofrida, elaborar as listas de fim de ano. A parte boa vem do próprio exercício de depuração, ao encontrar os argumentos que sustentem as escolhas para um ranking – mesmo que ele acabe contaminado por uma visão pessoal.

Gosto de listas porque elas sempre provocam pontos de discordância ou confirmações de ideias. São essencialmente veículos de provocação. Refletir sobre o que mais se destacou ao longo de um ciclo é uma maneira de filtrar tendências e de celebrar obras que tem potencial de fixar na memória pop cultural. O aspecto negativo está justamente em confiar nessa noção escorregadia do que foi efetivamente melhor, ainda mais quando seus critérios são mais estéticos e subjetivos do que algo mensurável estatisticamente.

Bom... Feitas as considerações iniciais, que servem como anistia para as prováveis injustiças que cometi, apresento abaixo uma lista com discos mais importantes lançados em 2014. Discos de potencial pop e guiados por uma...

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Sobre

Pitacos, reflexões e provocações sobre música, cinema, jornalismo, cultura pop, televisão e modismos.

Autores

Emanuel Bomfim

Emanuel Bomfim nasceu em 1982. É radialista e jornalista. Escreve para revista Cidade Nova desde 2003. Apresenta diariamente na Rádio Estadão (FM 92,9 e AM 700), em SP, o programa 'Estadão Noite' (das 20h às 24h). Foi colaborador do 'Caderno 2', do Estadão, entre 2011 e 2013. Trabalhou nas rádios Eldorado, Gazeta e América.