Já há algum tempo tento entender quão importante são as torcidas organizadas para os clubes que elas representam. Jamais encontrei uma resposta convincente. Como amante do esporte, posso presumir a necessidade de organização entre os diferentes grupos de torcedores de uma agremiação esportiva, mas até que ponto ela é realmente benéfica para os clubes, quando está constantemente envolvida em episódios de violência?
Torcidas organizadas. Foto: João Budney/Flickr
Ontem, antes da partida de futebol entre Santos e Corinthians, no litoral paulista, mais uma vez as câmeras flagraram o confronto brutal entre membros de torcidas organizadas rivais. Quando um torcedor viaja quilômetros de distância, deixando família, amigos, trabalho, para, em vez de torcer, digladiar-se com paus, pedras, rojões, ele é mesmo um torcedor ou um criminoso? Dá para classificar da mesma forma esses torcedores e a grande maioria, que vai ao estádio com o intuito de presenciar, pacificamente, um evento esportivo?
As motivações da violência entre torcedores
As explicações para as agressões entre torcedores foram investigadas no interessante estudo do professor de sociologia Carlos Alberto Máximo Pimenta. Em síntese, o trabalho mostra “que a violência produzida pelos grupos de torcedores é parte da dimensão cotidiana dos grandes centros urbanos na sociedade brasileira contemporânea, consequência do esvaziamento político-cultural-coletivo dos novos sujeitos sociais”.
No Brasil, infelizmente, as torcidas organizadas se tornaram grupos perigosos. Além de receberem dos clubes que representam inúmeros privilégios, sem contrapartidas, algumas torcidas conquistaram direitos, no mínimo, bizarros, como a possibilidade de exigir, presencialmente, um melhor desempenho dos jogadores.
A necessidade de separar torcedores de criminosos
Na Europa, algumas torcidas organizadas também se envolvem em episódios de violência. A diferença, contudo, está na maneira como as autoridades lidam com os seus protagonistas.
Os torcedores ingleses mais inconsequentes, conhecidos como hooligans, por exemplo, causavam terror nas ruas e nos campos. Ocupando as áreas mais populares dos estádios, eles promoviam o caos, com sessões de pancadaria e invasões de gramado. Isso sem contar os confrontos brutais fora dos estádios.
Depois de tentativas frustradas de reprimir os baderneiros, foi criada uma política de prevenção da violência. Em vez de tentar conter os torcedores violentos depois do início dos confrontos, a polícia passou a identificá-los previamente. Todos os times ingleses tiveram de instalar em seus estádios sistemas de monitoramento por câmeras. Com esse aparato, a polícia faz uma varredura virtual à procura de torcedores brigões. O embate entre policiais e torcida foi substituído pelo trabalho discreto de inteligência. Há um oficial escalado para estudar o comportamento dos torcedores de cada clube profissional inglês. Ele informa à polícia a identidade daqueles potencialmente mais perigosos.
Outro mecanismo que auxilia na contenção da violência são as punições rigorosas que as entidades esportivas dão aos clubes que não se responsabilizam pelos atos de violência de seus torcedores. Isso faz com que eles também se comprometam na identificação e na separação de torcedores comuns dos criminosos.
Para esta atual temporada, 2012/2013, a Uefa (União das Federações Europeias de Futebol) tornou obrigatória a criação pelos clubes do "Escritório de conexão com os torcedores", um canal de comunicação entre fãs e as diretorias dos times. Assim, dirigentes e a polícia conhecem melhor a torcida e podem tomar medidas preventivas para evitar problemas de segurança.
Existem inúmeros exemplos de políticas de contenção da violência relacionada ao esporte, contudo é fundamental aplicá-las com seriedade e inteligência. Não basta a pura e simples repressão. É importante prevenir e, principalmente, educar para o verdadeiro espírito de encontro, competitivo, claro, mas que deve sempre preservar a pessoa humana.