O desafio de banir a violência nos estádios

No último final de semana, a Inglaterra mostrou que o futebol pode se limitar ao universo esportivo, sem necessariamente ter de estampar as páginas policiais dos jornais por conta da violência entre torcidas. Nas duas partidas disputadas domingo, em Londres, quase 150 mil torcedores foram acompanhar seus times nos dois imensos estádios de futebol da capital inglesa. A distância entre os dois estádios da cidade é de somente 16 quilômetros. Estavam envolvidas nas partidas três torcidas locais que se detestam. Mesmo diante desse cenário inóspito, houve incidentes envolvendo torcedores? Não.

No dia 1º de março, num dos clássicos mais acirrados do Brasil, Internacional X Grêmio, uma área do estádio Beira Rio com capacidade para dois mil torcedores foi reservada para uma torcida mista. Foto: Alexandre Lopes/Internacional

Para conter a violência nos estádios, a solução encontrada pelos ingleses foi bem diferente das propostas recentemente pelo Ministério Público brasileiro, que defende a adoção de jogos de futebol com torcida única. Na Inglaterra, como acontece em todos os países ligados à UEFA, organização responsável pelo futebol europeu, a punição tanto para os clubes, como para os torcedores envolvidos em casos de violência é duríssima. Também os sistemas de vigilância e de identificação são extremamente eficazes, o que acaba intimidando os brigões.

Claro que seria ingênuo acreditar que no continente europeu os torcedores são mais civilizados. Não é verdade. O recente escândalo na partida envolvendo Chelsea e PSG, em que torcedores ingleses estão sendo investigados por comportamento racista no metrô parisiense, mostra que, também no Velho Continente, banir a violência é uma preocupação que ainda persiste.

E o Brasil?

Observando o exemplo inglês, talvez seja inapropriado polarizar o debate a respeito da violência promovida por torcedores nos estádios brasileiros. Existe a questão da impunidade generalizada, da falta de um plano eficaz para identificar criminosos e principalmente o silêncio da sociedade que raramente se escandaliza com a morte de jovens que, movidos pelo fanatismo brutal, matam e morrem em finais de semanas que deveriam ser de entretenimento.

No nordeste, para enfrentar o problema o Sport Recife inovou e ganhou as páginas de diversos jornais esportivos no mundo. O clube convidou as mães dos torcedores para fiscalizar o comportamento dos baderneiros em potencial. Uma solução simples, criativa, mas acima de tudo, eficaz.

Diante do triste cenário de violência nos estádios brasileiros é preciso um esforço coletivo para uma solução efetiva para o problema. Clubes, torcedores e governos precisam ser responsabilizados e não o torcedor de bem, que vai ao estádio para se divertir, desfrutando da alegria promovida por um evento esportivo.

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Futebol, esporte, torcidas organizadas, violência



Sobre

Fazer do esporte um instrumento de promoção da fraternidade é aceitar o desafio de descobrir, acima de tudo, a prática de atividades físicas como possibilidade de encontro, de relação. Em uma competição esportiva, o adversário não é um inimigo, nem o jogo uma batalha. Por isso, respeitar as regras predefinidas e preservar um espírito de lealdade e honestidade tornam-se elementos essenciais para que o esporte realize a sua missão socioeducativa. Neste blog, queremos identificar, discutir e descobrir os grandes promotores do esporte no Brasil e no mundo e, com eles, refletir sobre valores que ajudam a edificar a nossa sociedade.

Autores

Valter Hugo Muniz

Jornalista com experiências internacionais na Ásia (Indonésia) e na África (Costa do Marfim). Atualmente mora em Genebra, na Suíça. É formado em jornalismo pela PUC-SP. Trabalhou em agências de comunicação, empresas multinacionais, editoras e na televisão. Concluiu recentemente uma pós-graduação no Instituto Universitário Sophia, em Florença, Itália.