Foto: natemeg2006 / Flickr
Enquanto a Copa continua nos surpreendendo dentro e fora de campo, um aspecto em particular me chamou a atenção nos últimos dias, mais ligado a religião do que ao futebol.
No último sábado, dia 28 de junho, os muçulmanos de todo o mundo passaram a estar reunidos em um dos cinco pilares do Islã: o Ramadã. Segundo a liturgia sagrada “o mês de Ramadã foi o mês em que foi revelado o Alcorão”. Dessa forma, para, principalmente, exprimir a gratidão pelo “dom” do seu livro sagrado, os seguidores do Alcorão são convidados a abster-se de comer e beber desde a alvorada até o pôr-do-sol.
O desafio dos jogadores muçulmanos
Este ano, as oitavas de finais da Copa do Mundo coincidem com o mês sagrado dos mulçumanos e muitos jogadores da Alemanha, Bélgica, Franca, Suíça, Nigéria e, principalmente, Argélia, são seguidores do Islã. O dilema do cumprimento do Ramadã é maior para os jogadores dessas seleções, principalmente pelo fato de os jogos acontecerem durante o período mais quente do dia.
Contudo, segundo o chefe médico da FIFA, Jiri Dvorak, os jogadores que estejam em conformidade com o jejum não deve sofrer qualquer deterioração em sua condição física. "Fizemos extensos estudos de jogadores durante o Ramadã, e a conclusão foi que, se devidamente respeitadas, não haverá redução no desempenho físico dos jogadores", disse Dvorak.
Segundo informações do site "The Indian Express", publicadas no site Globo.com, a delegação argelina conta com a ajuda de Hakim Chalabi, médico especialista em medicina esportiva e em atletas que jejuam. De acordo com o doutor, cada pessoa pode perder até seis litros de fluídos corporais durante uma partida e, por isso, o conselho ao grupo é se hidratar bastante nas horas do dia em que possam se alimentar.
A liberdade de escolha
Como mencionei acima, durante o Ramadã, todos os muçulmanos são chamados a jejuar por quase um mês. Porém, “quem se achar enfermo ou em viagem jejuará depois, o mesmo número de dias”, diz o Alcorão. O Islã também abre exceções para mulheres grávidas, crianças, adultos com problemas de saúde mental.
Estar em viagem é a justificativa dada pelo jogador alemão, muçulmano, de origem turca Mesut Özil, que decidiu adiar o Ramadã. “Não posso fazê-lo porque eu tenho que trabalhar", disse na última quarta-feira.
Na seleção Suíça os jogadores que seguem o Islã, como Behrami e Inler, admitiram ser complicado conciliar a profissão, que exige um enorme esforço físico, e o período de jejum. Ambos, no entanto, garantiram que, após a competição, seguirão a rotina de sua religião.
As discussões sobre a prática do jejum dos jogadores muçulmanos durante a Copa do Mundo promoveram inúmeros debates na Argélia, país que conta com muitos atletas seguidores do Islã. Dessa forma, o xeique Mohammed Sherif Qaher, autoridade político-religiosa do país, fez uma “Fatwa” - pronunciamento legal - permitindo que os jogadores argelinos não façam o jejum durante a Copa.
Depois de 32 anos, futebol e islã se encontram em uma Copa do Mundo. Oportunidade interessante para os espectadores descobrirem a riqueza das diferenças que vão além das quatro linhas.