Que rumo?

Terminado o ensino médio, não raro, o limbo se apresenta. Aquela rotina determinada pelos horários escolares some do mapa. Mal é possível identificar quando é dia e quando é noite. 

O que sobra é um mar de dúvidas e um estado de letargia que só o travesseiro é capaz de compreender. No entorno familiar, naturalmente caótico, os conselhos não demoram a chegar. Em princípio suaves, tomados por uma alegria quase infantil. Rapidamente o fair play vira jogo de Libertadores: pressão, catimba e marcação cerrada. Antes do cartão vermelho, o pior dos diagnósticos instiga a rota de colisão: “Você precisa tomar um rumo na vida!”.

Rumo? Que rumo? Não há via asfaltada e evidente no horizonte de qualquer ser que começa a encarar uma “fase adulta” da vida. As decisões parecem ganhar um peso absurdamente acima daquilo que é possível aguentar. É natural pensar que a convenção é a rota das rotas, ou seja, debruce-se sobre uma montanha de livros didáticos de cursinho e aguarde por aquela lista de vencedores dos aprovados no vestibular de universidade pública.

Seja bem-vinda “Dona Angústia”. Nem mesmo as infinitas horas divididas no smartphone, na Sessão da Tarde ou naquele filme meia boca da madrugada é capaz de encerrar este desconforto diante da falta/pluralidade de opções na vida a médio prazo. Sobram expectativas, faltam estratégias.

Veja bem, o ócio e a procrastinação não são valores que devam ser necessariamente cultivados. Eles subsistem sem qualquer necessidade de investimento pessoal. Assim será até o fim dos tempos, na alegria e na tristeza, na saúde ou na doença. A crise vem pela falta de manejo com a “urgência” de atitudes definidoras. É um passo longo, meio torto e no vazio.

Quer uma dica? Sei que empilhar mais uma sugestão numa hora dessas pode soar arrogante. Assim como você, tenho certeza de poucas coisas. Mas é justamente aí que você pode suavizar as dores de uma independência. Em outras palavras, não há motivo eminente para dramatizar mais uma novela que já é carregada de fortes emoções. Aqui vai: troque o pensar demais pelo agir. Bote ação nessa vida! Neste ponto, trabalhar pode resolver mais do que qualquer terapia da moda. Empregar nosso tempo numa atividade remunerada, por mais ordinária que ela seja, costuma dar consistência ao pensamento, ajuda a preparar o terreno para futuras decisões.

Na minha vida, fui de segurança de cartões de papelaria (pode isso, Arnaldo?) a recepcionista. Fora os freelas diversos, como pintor de fim de semana e fiscal de concursos (obrigado, pai). Se tomei rumo na vida? Não sei dizer. Entendi, ao menos, que o trabalho me dava autonomia. E sem autonomia, as decisões são superficiais.

Viajar também é um bom negócio. Mas sobre isso, a gente volta a conversar num próximo post.

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Kings of Leon vem ao Brasil

Na última quarta-feira, 30, o Circuito Banco do Brasil divulgou as atrações desta edição do evento, que passa por Brasília, Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo. O grande chamariz, sem dúvida, é a banda norte-americana Kings of Leon – que toca somente em SP e RJ. Em BH e Brasília, o headliner é o Linkin Park.

Formado em Nashville no começo dos anos 2000, o Kings of Leon nasceu sob as comparações com o Strokes e logo ganhou personalidade própria, pelo apuramento deste Southern rock (com injeções de blues e country).  O quarteto já soma seis discos na carreira, sendo o mais recente deles, Mechanical Bull, lançado ano passado. O grande hit da empreitada é a balada Wait For Me. Só por ela, já valeria o show.

 


Sobre

Pitacos, reflexões e provocações sobre música, cinema, jornalismo, cultura pop, televisão e modismos.

Autores

Emanuel Bomfim

Emanuel Bomfim nasceu em 1982. É radialista e jornalista. Escreve para revista Cidade Nova desde 2003. Apresenta diariamente na Rádio Estadão (FM 92,9 e AM 700), em SP, o programa 'Estadão Noite' (das 20h às 24h). Foi colaborador do 'Caderno 2', do Estadão, entre 2011 e 2013. Trabalhou nas rádios Eldorado, Gazeta e América.