Contra a cultura do linchamento

Um dia depois da morte de Fabiane Maria de Jesus, vítima de linchamento no Guarujá-SP, uma jovem universitária impediu que novas cenas de barbárie tivessem o mesmo trágico desfecho. Sozinha, Mikhaila Copello, 22 anos, evitou que moradores da Freguesia, bairro da zona oeste do Rio de Janeiro, matassem um jovem que acabara de roubar um celular, de acordo com informações do jornal O Globo.

Em sua página no Facebook, a própria Mikhaila relatou que, enquanto tentava separar a briga, “uma multidão se reunia aos gritos de ‘mata! mata!’” e lhe dizia frases como “sorte sua que você é mulher, se não apanhava também”, “se fosse com você, você ia deixar que ele apanhasse”, “você não deve ser moradora da Freguesia”, “defensora de bandidos”.

Mikhaila, que já foi assaltada diversas vezes, resistiu até o fim na defesa do assaltante, não porque, como explicou em seu relato, concordasse com ele, mas porque estava convicta de que uma sociedade não pode combater um crime recorrendo a outro. “Vocês não...

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Sobre

Pensar e agir politicamente é como arrumar a casa. Podemos até não gostar do empenho requerido pela árdua tarefa, mas, se quisermos habitar um ambiente de paz e dignidade, é necessário cumpri-la. Cada ato nosso tem consequências para aqueles que compartilham conosco um bairro, uma cidade, um estado, um país. Para além das necessárias distinções entre as esferas pública e privada, a construção do bem comum só é possível por meio de interações saudáveis entre o Estado e seus diferentes poderes, a economia e a sociedade civil. A missão de desatar os nós desse complexo e fascinante emaranhado de relações cabe a todos nós.

Autores

Daniel Fassa

Formado em Jornalismo pela Universidade de São Paulo (USP), Daniel Fassa é pós-graduado em Filosofia Política pelo Instituto Universitário Sophia (Florença, Itália), mestre em Ciências Sociais pela PUC-SP e doutorando na mesma área pela PUC-Rio. É repórter da revista Cidade Nova e editor deste Portal.