Outro dia, conversando com um amigo sobre política, perguntei-lhe o porquê de sua adesão incondicional a determinado partido. Como bom interlocutor, ele me apresentou uma série de motivos, mas aceitou refletir sobre o assunto e se manteve aberto ao diálogo, que volta e meia retomamos. Algum tempo depois, quando falávamos sobre outro tema de nossa predileção, ele me questionou de maneira semelhante: como eu poderia continuar acreditando em um time tão decadente como o Palmeiras? Respondi-lhe que, quando o assunto é futebol, permito-me certas doses de irracionalidade.
Em política, porém, creio que não podemos nos dar esse luxo. É necessário superar as paixões – compreensíveis, em se tratando de tema tão importante – e buscar informações confiáveis, nas quais possamos fundamentar nossas escolhas. Um dos grandes desafios nesse sentido é interpretar os dados que os candidatos apresentam com uma desenvoltura que nem sempre é diretamente proporcional à verdade.
Um importante aliado nesse empreitada é o projeto Truco, desenvolvido pela Agência Pública de Reportagem e Jornalismo Investigativo, ao qual já me referi no post 5 ferramentas online que ajudam a votar bem. A equipe formada por conceituados jornalistas acaba de publicar um livro online com o resultado de todo o trabalho de verificação realizado antes do primeiro turno, com reportagens que corroboram, complementam ou desmentem as afirmações feitas pelos políticos durante o horário eleitoral. Clique aqui para baixar gratuitamente.
No segundo turno o trabalho continua: “todos os dias vamos ‘pedir o truco’ às duas campanhas, um desafio público para que expliquem falas, dados ou promessas aparentemente insustentáveis. Também podemos discordar frontalmente dos candidatos quando acharmos suas propostas perigosas para a democracia e direitos humanos”, promete a equipe da Agência.
Num momento em que a disputa eleitoral tende a se tornar cada vez mais pesada, tanto nas propagandas políticas quanto nas redes sociais, vale a pena acompanhar iniciativas como essa, que ajudam a manter o foco naquilo que realmente importa: o projeto de país que desejamos legitimar. Se cada um de nós incorporar um pouco desse espírito investigativo, ao mesmo tempo crítico e construtivo (porque aberto ao diálogo), a qualidade do debate pode aumentar muito.