A geração de ouro da natação

No último final de semana, os atletas da natação brasileira surpreenderam o mundo após figurarem, pela primeira vez, no topo de um campeonato mundial do esporte. Após o sucesso pontual de nomes como Gustavo Borges e Fernando Scherer, o Xuxa, parece que finalmente podemos falar de uma “geração de elite”, capaz de transformar expectativas em medalhas.

Campeonato Mundial de Natação em Doha, 2014. Foto: Daniel Thornton/Flickr

O histórico mundial de Doha

Lembrem-se desses nomes: Guilherme Guido, Felipe França, Marcos Macedo e Cesar Cielo. Caso mantenham a atual performance nos próximos dois anos, principalmente nos Jogos Olímpicos do Rio, em 2016, esses atletas serão lembrados como os maiores nadadores da história do país. Além deles, é importante destacar a jovem pernambucana Etiene Medeiros, campeã nos 50m costas feminino e recordista mundial da prova.

Com sete ouros, uma prata e dois bronzes, a equipe brasileira terminou na ponta do quadro de medalhas do Campeonato Mundial de piscina curta, em Doha, capital do Qatar, à frente de grandes potências como os Estados Unidos e a França. Essa foi a melhor campanha dos atletas do Brasil na história da competição.

Cesar Cielo em 2009. Foto: Nicole/Flickr

O blogueiro Guilherme Costa fez uma comparação muito oportuna do desempenho do Brasil em Doha, com o futebol: “o Brasil na natação (depois do campeonato mundial de Doha) é como se fosse a Bélgica no futebol. Tem uma equipe forte, bons atletas, já teve alguns resultados na história e está chegando nas potências. O Mundial em piscina curta é tipo a Copa das Confederações. É importante, reúne a maioria dos melhores do mundo, mas é menos importante do que o Mundial em piscina longa, marcado para o ano que vem”.

Por isso, mesmo com o grande resultado, o nadador Cesar Cielo alerta: “As Olimpíadas não são disputadas em piscina curta”, ressaltando que nos Jogos Olímpicos, as piscinas são de 50m e não 25m como no Mundial do Qatar, fato que exige uma série de adaptações. É importante festejar, claro, mas sem a ilusão de que estamos entre as potências da natação. Segundo Cielo “A gente ainda está uns degraus abaixo dos Estados Unidos e da Austrália na piscina longa”.

Natação e tênis: qual a diferença?

Nos últimos posts do Fair Play, apresentei as grandes dificuldades que o tênis brasileiro vive e, sobretudo, a incapacidade de transformar o sucesso de Guga em um projeto para a modalidade esportiva.

Fernando Scherer, o Xuxa. Foto: Imagens Portal SESCSP

A natação, porém, parece ter seguido um outro caminho. Dez anos atrás festejávamos as conquistas de Gustavo Borges e o Xuxa. Hoje César Cielo encabeça uma verdadeira “geração de nadadores” que, aos poucos, começam a dar resultados surpreendentes.

Tanto no tênis, como na natação, as oportunidades nasceram do trabalho árduo, da coragem e da superação de talentos pontuais que, de certa forma, tiveram de caminhar “sozinhos” rumo às primeiras conquistas. O desempenho individual dos mesmos, contudo, abriu portas. Gerou resultados e, no caso da natação, uma certa continuidade que tornou o esporte mais atrativo aos investidores (públicos e privados).

Resta agora transformar os investimentos em projetos de longo prazo, para não só fazer da natação uma “fábrica de medalhas”, mas também mais uma oportunidade de desenvolvimento humano para as futuras gerações.

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Sobre

Fazer do esporte um instrumento de promoção da fraternidade é aceitar o desafio de descobrir, acima de tudo, a prática de atividades físicas como possibilidade de encontro, de relação. Em uma competição esportiva, o adversário não é um inimigo, nem o jogo uma batalha. Por isso, respeitar as regras predefinidas e preservar um espírito de lealdade e honestidade tornam-se elementos essenciais para que o esporte realize a sua missão socioeducativa. Neste blog, queremos identificar, discutir e descobrir os grandes promotores do esporte no Brasil e no mundo e, com eles, refletir sobre valores que ajudam a edificar a nossa sociedade.

Autores

Valter Hugo Muniz

Jornalista com experiências internacionais na Ásia (Indonésia) e na África (Costa do Marfim). Atualmente mora em Genebra, na Suíça. É formado em jornalismo pela PUC-SP. Trabalhou em agências de comunicação, empresas multinacionais, editoras e na televisão. Concluiu recentemente uma pós-graduação no Instituto Universitário Sophia, em Florença, Itália.