Arthur Nory Mariano, Francisco Barretto, Lucas Bitencourt e Sérgio Sasaki são nomes desconhecidos para a grande maioria dos brasileiros. Porém, no último final de semana, os quatro atletas, juntos aos badalados Diego Hypolito e Arthur Zanetti, atingiram um resultado histórico para a ginástica artística colocando a seleção brasileira, pela primeira vez, nas finais por equipe de um campeonato mundial.
Campeão olímpico e mundial, Arthur Zanetti obteve a melhor nota da sua carreira durante o III Meeting de Ginástica Artística, em Santos, em abril de 2014. Foto: Ricardo Bufolin/CBG (21/04/2014)
Depois de somar 348,100, o sexteto brasileiro ficou na sétima posição, que não só dá a chance do Brasil brigar por uma medalha na próxima terça-feira, mas garante o país no Mundial do ano que vem, que é classificatório para as Olimpíadas.
"É um momento muito feliz para nós. Essa classificação é uma conquista inédita. Quero dar os parabéns a nossos queridos atletas, técnicos, árbitros, colaboradores, patrocinadores e a todos que fazem parte da ginástica brasileira", disse a presidente da Confederação Brasileira de Ginástica, Luciene Resende, no site oficial da organização.
O drama dos esportes periféricos
Já mencionei, mais de uma vez, aqui no FairPlay, a minha preocupação a respeito dos atletas de esportes periféricos, no que diz respeito não só à atenção midiática mas, principalmente, à falta de incentivo público.
Durante o período eleitoral, pouco se falou a respeito de programas políticos com destaque para o esporte. Contudo, é evidente o potencial educativo que as modalidades esportivas têm. São inúmeros os casos em que o esporte salva a vida de pessoas.
Recentemente tive a oportunidade de assistir o vídeo abaixo, que mostra a realidade da ginástica brasileira. Focando-se na equipe do Flamengo, a reportagem apresenta uma das situações mais difíceis que o esporte atravessa, justamente na cidade que irá receber os jogos olímpicos em 2016.
Há um pouco mais de um ano, o clube carioca demitiu todas as estrelas da ginástica brasileira, entre elas Jade Barbosa e Daniele Hypólito. Essa triste medida de um dos clubes mais endividados do país, com uma dívida líquida de aproximadamente 100 milhões de reais[1], contrasta com os investimentos e o direcionamento de recursos para a equipe de futebol e do basquete.
Basta de improviso
Campeonato Brasileiro de Ginástica Artística e Rítmica, no Complexo Esportivo da PUC-RS. Foto: Lívia Stumpf/Flickr (28/11/2009)
A superação dos atletas brasileiros que chegaram, pela primeira vez, à final do campeonato mundial de ginástica artística, é perceptível também quando observamos as jovens meninas que, mesmo sem o apoio e os recursos necessários, continuam lutando, treinando, para alcançar os melhores resultados possíveis.
Contudo, quando se fala de “padrão olímpico” e dos recursos que essas ginastas possuem, principalmente comparados às atletas de países que investem fortemente no esporte, como os Estados Unidos e a China, novamente me vem uma palavra que nos deixou envergonhados durante a Copa do Mundo de futebol: improviso.
No esporte, como na vida, o improviso é aceitável como diferencial, como um “algo a mais”. Uma inspiração que diferencia um vencedor dos demais. Não dá para aceitar o improviso como metodologia, pois não estamos lidando somente com resultados imediatos ligados a uma competição esportiva, mas com vidas que usufruem do esporte, para alcançar a mesma dignidade humana que qualquer ser humano almeja.
[1] Dados do relatório da Área de Crédito do Itaú BBA. A análise foi baseada exclusivamente em informações públicas e sem contato com os clubes e descreve gastos, investimentos, dívidas e patrimônio dos 23 maiores clubes de futebol brasileiros.