A pergunta que eu mais tive que responder na última semana, morando aqui na Europa, foi sobre minha opinião a propósito do rebuliço social às vésperas da Copa do Mundo no Brasil. Italianos, alemães, suíços, todos querem escutar uma impressão ponderada, sem os exageros midiáticos, a respeito do momento atual que o nosso país está vivendo.
Copa Gringos. Foto: Divulgação
Como resposta, quase sempre digo o mesmo: a grande adesão popular aos protestos no período pré-Copa é resultado do descaso político que vem se arrastando, há alguns anos, no Brasil. A revolta diante dos gastos relacionados ao evento esportivo é só “a ponta do grande iceberg” que se formou com o passar do tempo.
Dessa forma, eu procuro dizer que, mesmo que de maneira indireta, o futebol pode estar contribuindo para a importante tomada de consciência coletiva sobre a situação socioeconômica em que o país se encontra. O resultado desse fenômeno nós ainda iremos descobrir.
Futebol e sociedade
No meu post anterior, já apresentei a minha reflexão a respeito das oportunidades de fazer com que o binômio "futebol e sociedade" trabalhe pelo bem da sociedade. Contudo, nos últimos dias, me dei conta de que, nem sempre, algumas iniciativas sociais simples, sem tantos gastos, patrocinadores, mas com um grande potencial de coesão, recebem o brilho dos holofotes.
Tendo em vista a sua importância na atualidade, decidi continuar a reflexão iniciada na semana passada. Contudo, desta vez, quero destacar dois exemplos atuais de projetos pontuais simples, mas que deixaram um importante legado para a comunidade envolvida: a Copa Gringos e o Futebol da Esperança.
Copa Gringos
Foto: Divulgação
Enquanto a seleção camaronesa que disputará a Copa do Mundo FIFA ameaça não jogar o torneio, ontem, na conclusão da Copa Gringos, os representantes do país africano se sagraram campeões.
Com 24 times amadores formados, em sua maioria, por imigrantes de comunidades que vivem na cidade de São Paulo, a Copa Gringos, nas palavras do francês Stephane Darmani, idealizador do torneio, realizou o seu principal objetivo: "Juntar essas comunidades em torno do futebol e permitir essas amizades”. Assim, “pessoas que antes não se conheciam, hoje frequentam a casa um do outro, são amizades reais”, disse Darmani.
A força do projeto fez nascer o desejo de transformá-lo em uma liga permanente de pontos corrido. Mas, acima de tudo, a Copa Gringos mostrou que muitas questões sociais desafiadoras podem encontrar no esporte um importante aliado. Vale a pena conferir a entrevista com Stephane Darmini no blog MigraMundo - especializado em assuntos ligados aos imigrantes - sobre as consequências sociais e esportivas do projeto.
Futebol da Esperança
Segundo a mesma linha da Copa Gringos, procurando unir esporte e envolvimento comunitário, está o projeto Futebol da Esperança. Promovido pela Fazenda da Esperança, instituição que realiza um trabalho pioneiro na recuperação humanizada de dependentes químicos, o evento chegou a receber certo destaque na grande mídia.
Futebol da Esperança. Foto: Divulgação
A partida amistosa entre artistas, jogadores de destaque nas décadas de 70, 80 e 90, contra um time formado pelos dependentes químicos em recuperação na Fazenda da Esperança, promoveu um momento de partilha marcante, tanto para os participantes do jogo, como para os espectadores do evento.
A Fazenda da Esperança tem diversos centros de recuperação espalhados pelo mundo, permitindo que milhares de jovens e adultos, que tiveram suas vidas arrasadas pelo vício, recuperem o sentido de suas vidas.
Enfim, direta ou indiretamente o esporte pode ajudar na construção de verdadeiros legados para a sociedade. Mas, para isso, é necessário interesse político e iniciativas populares, como os projetos descritos acima. Só isso basta? Deixo que você leitor, me responda.