Há 25 anos, um acontecimento histórico marcou a juventude da cientista alemã Vanessa Stauch. Ela tinha 14 anos quando a reunificação do país se tornou realidade. “Foi um dia muito importante para mim. Eu sempre me perguntava por que a Alemanha havia sido dividida em duas e eu não podia entender, provavelmente porque eu era muito jovem para compreender os motivos por trás disso. Mas eu fiquei muito feliz”, conta ela.
Angela Merkel cumprimenta população em Frankfurt, durante comemoração dos 25 anos da reunificação. Foto: Bundesregierung
No dia 3 de outubro de 1990, milhares de alemães, do Leste e do Oeste, celebraram a mudança em frente ao Portão de Brandenburgo, em Berlim. Final e oficialmente, a Alemanha voltava a ser uma só, após mais de 40 anos dividida em República Federal da Alemanha e República Democrática Alemã.
A queda do Muro de Berlim, quase um ano antes, em novembro de 1989, foi o marco que iniciou o processo de reunificação. Um tempo de intensas negociações políticas dentro e fora da Alemanha. A mais importante delas foi o acordo com os Estados Unidos, a antiga União Soviética, a França e a Grã-Bretanha, as quatro potências que haviam vencido a Segunda Guerra e mantinham não só a Alemanha, mas o mundo dividido. O Tratado Dois Mais Quatro, assinado em setembro de 1990, e que devolveu a soberania à Alemanha, é considerado um dos documentos mais importantes da história mundial.
“A unificação, até hoje, é algo especial para mim. E para o país. Ainda não é normal ser um só Estado”, opina o jornalista Markus Dobstadt, 50 anos. Ele nasceu em Bonn, antiga capital da Alemanha Ocidental, e vive em Frankfurt, cidade-sede das celebrações oficiais do 3 de outubro este ano. Uma das atrações foi a instalação artística Einheitmännchen (algo como homenzinhos da unidade), criado pelo artista alemão Ottmar Hörl.
São mais de mil bonecos de plástico, de 40 centímetros cada um, inspirados nos Ampelmännchen, característicos dos semáforos para pedestres no Leste. Uma das poucas invenções da antiga República Democrática Alemã que sobreviveram e se tornaram parte da cultura do país.
Preto, vermelho e amarelo – as cores da bandeira alemã – aparecem só aqui e ali. A maioria dos homenzinhos é, na verdade, verde. A intenção, segundo Hörl, foi mostrar que o sinal está livre e que é possível seguir em frente, transpor fronteiras e promover mudanças. Mas, 25 anos depois, a pergunta persiste: ainda existem diferenças entre Leste e Oeste?
A principal delas é estrutural, segundo a socióloga Daniela Grunow, da Universidade de Frankfurt. Durante a reunificação, as empresas estabelecidas sob o regime comunista faliram e isso gerou efeitos de longo prazo na economia e na questão do emprego. “Claro que, ao longo dos anos, foram feitos muitos investimentos no Leste, mas ainda existem grandes diferenças. Em parte, isso tem a ver com o fato de que grandes porções da Alemanha Oriental são mais rurais e não é muito fácil estabelecer com sucesso indústrias nessa região”, explica Grunow.
Segundo estudo publicado em julho deste ano pelo Instituto Berlim para População e Desenvolvimento, a taxa de desemprego nos estados do Leste é quase duas vezes maior do que no Oeste: 11,6% ante 6,7%. E quem está empregado costuma ganhar menos: o equivalente a três quartos do salário médio nos estados do Oeste.
Como resultado, o êxodo de um lado para o outro, principalmente de jovens, é um dos principais desafios pós-reunificação. Para a especialista, um bom caminho para atrair pessoas e gerar crescimento é manter a estratégia de investir em instituições educacionais de alto nível também no Leste, como as renomadas universidades em Dresden e Leipzig. “Eu acredito que educação é um dos principais recursos na Alemanha como um todo”, diz Grunow.
Estereótipos negativos que surgiram na Alemanha dividida também persistem. É o que se costuma chamar de o muro na mente das pessoas. A alemã Vanessa Stauch diz acreditar que existem, sim, diferenças entre alemães do Leste e do Oeste, “assim como há diferenças entre os do Norte e do Sul. Diferenças culturais e de mentalidade existem, mas a nossa geração cresceu junta”, diz Stauch. O sentimento é de que esse outro muro, pouco a pouco, está deixando de existir.