Estamos diante do relato da Anunciação. O anjo Gabriel vai até Maria de Nazaré para comunicar os planos que Deus lhe reservou: ela conceberá e dará à luz um filho, Jesus, que “será grande e será chamado Filho do Altíssimo1”. O episódio alinha-se com outros eventos do Antigo Testamento que levaram a nascimentos prodigiosos de filhos de mulheres estéreis ou muito idosas, chamados a desempenhar um papel importante na história da salvação. Nesse contexto, Maria, apesar de dispor-se a aderir com total liberdade à missão de tornar-se a mãe do Messias, pergunta-se como isso pode acontecer, já que ela é virgem. Gabriel lhe garante que não será obra de um homem: “O Espírito Santo descerá sobre ti, e o poder do Altíssimo te cobrirá com sua sombra2”. E acrescenta: “Para Deus nada é impossível3”.
“Para Deus nada é impossível.”
Essa afirmação assegura que nenhuma declaração ou promessa de Deus deixará de ser cumprida, porque não há nada impossível para Ele. Mas a frase também pode ser formulada assim: “Com Deus nada é impossível”. De fato, em grego a frase pode significar “diante de, ou próximo a, ou junto com Deus”, evidenciando o quanto Deus está próximo do homem. É para o ser humano ou para os seres humanos que “nada é impossível”, quando estão junto a Deus e aderem livremente a Ele.
“Para Deus nada é impossível.”
Como podemos colocar em prática esta Palavra de Vida? Em primeiro lugar acreditando, com grande confiança, que Deus pode agir até mesmo dentro dos nossos limites e fraquezas e ainda mais além, inclusive nas situações mais sombrias da vida.
Foi essa a experiência de Dietrich Bonhoeffer, teólogo e pastor luterano, protagonista da resistência ao nazismo. Durante a prisão que o levou ao suplício, escreveu: “Devemos mergulhar continuamente na vida, no falar, no agir, no sofrimento e na morte de Jesus para reconhecer aquilo que Deus promete e cumpre. É certo […] que para nós não existe mais nada de impossível, porque nada de impossível existe para Deus; […] é certo que não devemos pretender nada e que, no entanto, podemos pedir tudo; é certo que no sofrimento se esconde a nossa alegria, e na morte, a nossa vida… A tudo isso, Deus disse ‘sim’ e ‘amém’ em Cristo. Este ‘sim’ e este ‘amém’ são a terra firme sobre a qual nos encontramos4”.
“Para Deus nada é impossível.”
Ao procurarmos superar o aparente “impossível” das nossas insuficiências a fim de alcançar o “possível” de uma vida coerente, um fator decisivo é a dimensão comunitária. Esta se desenvolve lá onde os discípulos, vivendo entre si o mandamento novo de Jesus, deixam-se compenetrar, individualmente e em conjunto, pela força do Cristo ressuscitado. Chiara Lubich escreveu em 1948 a um grupo de jovens religiosos: “E adiante! Não com a nossa força mesquinha e frágil, mas com a onipotência da unidade. Constatei, toquei com as mãos que Deus entre nós realiza o impossível: o milagre! Se permanecermos fiéis à nossa missão […], o mundo verá a unidade e, com ela, a plenitude do Reino de Deus5”.
Anos atrás, quando eu estava na África, muitas vezes me encontrava com jovens que queriam viver como cristãos e que me contavam as muitas dificuldades que enfrentavam diariamente no próprio ambiente, para permanecerem fiéis aos compromissos de fé e aos ensinamentos do Evangelho. Conversávamos sobre isso durante horas e, no final, chegávamos sempre à mesma conclusão: “Sozinhos, é impossível, mas juntos podemos conseguir.” Até o próprio Jesus garante isso quando promete: “Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome (no meu amor), ali estou eu no meio deles6”. E com Ele tudo é possível.
Organizado por Augusto Parody Reyes com a comissão da Palavra de Vida.
1) Lc 1, 32.
2) Ibid, 35.
3) Ibid, 37.
4) BONHOEFFER, D. Resistência e submissão. Trecho extraído da edição italiana Resistenza e resa. Cinisello Balsamo: Ed. San Paolo, 1988, p. 474.
5) LUBICH, Chiara. Cartas dos primeiros tempos, 1946-1949, São Paulo: Editora Cidade Nova, 2020, p. 90.
6) Cf. Mt 18,20.