O que sobra do nosso SER, quando a gente preenche o vazio que o mundo insiste em dizer que temos?
Essa pergunta tenho feito a mim mesma. Mas você também pode fazer a si mesmo.
Andei observando o meu quarto, observando os cantos, vasculhando cada cômodo e percebendo o que tanto ocupa aqueles espaços. O que eu uso todos os dias, às vezes e quase nunca, importa? É impressionante que tem coisas ali que não servem em mim. Não falo só de roupas. Falo também de pensamentos que perpetuam no consumo inconsciente. Falo de experiências não vividas, enquanto passamos nosso tempo planejando ter algo ou vivendo em função de preencher os espaços vazios, que a gente tanto insiste em preencher, sem ao menos ter a oportunidade de saber o que realmente queremos preencher.
O vazio que carrego em mim pode ter vários motivos, mas para que eu pudesse compreender a profundeza da sua extensão, busquei no evangelho algumas respostas. Na leitura da carta de São Paulo aos Filipenses 2,5-11, recordo este trecho marcante:
Jesus Cristo, existindo em condição divina,
não fez do ser igual a Deus uma usurpação,
mas ele esvaziou-se a si mesmo,
assumindo a condição de escravo
e tornando-se igual aos homens.
Encontrado com aspecto humano,
humilhou-se a si mesmo,
fazendo-se obediente até a morte,
e morte de cruz.
Imaginei Jesus com seus vazios, dúvidas e ainda sim, carregando a certeza do amor de Deus. Quando a gente se faz humano, encontramos diversos caminhos e “divinizar” esse percurso torna tudo mais leve. O ato de observar o vazio que existe em nós, nos categoriza como alguém que, por nossa condição humana, sempre vai ter algo a ser preenchido e está tudo bem!
Quando a gente se esvazia de si, nos encontramos. Nem é uma fórmula, mas um processo interno. O autoconhecimento nos guia nesse caminho. A espiritualidade fortalece os laços que temos e a arte de viver sem pressa para preencher algo, nos ajuda a não viver procurando aquilo que sempre falta.