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Celebração pelos 25 anos da queda do Muro de Berlim reúne 2 milhões de pessoas

O evento contou com a presença do presidente Joachim Gauck, da chanceler alemã, Angela Merkel, e do ex-líder soviético, Mikhail Gorbachev, que teve papel importante na abertura da ex-União Soviética

por Giselle Garcia - Agência Brasil/EBC   publicado às 08:21 de 10/11/2014, modificado às 08:21 de 10/11/2014

Mais de 2 milhões de pessoas, de várias partes da Alemanha e de diferentes países, participaram ontem (9) da grande festa em homenagem aos 25 anos da queda do Muro de Berlim. As ruas que circundam o Portão de Brandemburgo, onde um grande palco foi montado para abrigar apresentações artísticas durante todo o dia, foram tomadas pela multidão, que aguardava com ansiedade o lançamento aos céus dos 8 mil balões que recriaram o trajeto do muro durante o fim de semana.

Balões recriam traçado do muro de Berlim. Foto: Kulturprojekte Berlin/Fotos Públicas (08/11/14)

Pouco depois das 19h (16h em Brasília), com a presença do presidente Joachim Gauck, da chanceler alemã, Angela Merkel, e do ex-líder soviético, Mikhail Gorbachev, os pontos de luz ganharam os céus, relembrando a derrubada do muro e emocionando a multidão. Pessoas se apertavam em busca do melhor ângulo para registrar com suas câmeras o momento histórico. Alguns aplaudiam. Outros, se abraçavam. O alemão Uli Hochstadt, que em 9 de novembro de 1989 viu o Muro de Berlim ser derrubado pelo povo, não tinha palavras pra expressar o que sentia. “É um momento muito importante pra mim. Mal consigo falar, tamanha a emoção”, disse ele.

A festa, que começou cedo e avançou pela noite, contou com várias apresentações, entre elas a do cantor britânico Peter Gabriel, que encantou com uma versão da música Heroes, de David Bowie, acompanhado pela Ópera Estatal de Berlim. Um minuto de silêncio foi feito em honra aos que morreram tentando atravessar o muro. O brasileiro Luiz Alberto, que viu a barreira de concreto de perto quando era criança, em uma viagem à capital alemã, estava fascinado. “Eu vim aqui só pra acompanhar esse evento. É super emocionante, estou vendo a história acontecer”, disse ele.

Balões recriam muro de Berlim. Foto: Alexander Rentsch/ Fotos Públicas (09/11/14)

Ao subir ao palco, Gorbachev, que é reconhecido pela sua importante contribuição para a abertura da ex-União Soviética, foi aclamado pela multidão, mas não discursou. No dia de intensas comemorações, Angela Merkel fez um único discurso durante um evento pela manhã, no Memorial do Muro de Berlim. Ela afirmou que o dia de comemoração da queda do muro é também um dia para pensar nos que morreram com sede de liberdade. “A queda do Muro nos mostrou que é possível realizar sonhos e que nem tudo deve ficar como está. Esse pensamento, nós queremos dividir com nossos parceiros em todo o mundo”, conclui a chanceler.

História

Quando a Segunda Guerra Mundial terminou na Europa, em maio de 1945, o mundo estava dividido entre dois regimes: o capitalista, liderado pelos Estados Unidos, e o socialista, capitaneado pela antiga União Soviética (URSS). A nova composição de forças afetou a Alemanha e, especialmente, Berlim, que foi marcada duramente pela construção do muro cujo aniversário de derrubada se comemorou no domingo (9).

Pelo acordo de Potsdam, assinado meses depois do final da Grande Guerra, a Alemanha nazista, derrotada no conflito, foi divida em quatro zonas de ocupação, sendo três delas destinadas aos aliados do Ocidente (Estados Unidos, França e Reino Unido) e uma ao governo soviético. Dessa divisão nasceram, em 1949, a República Federal da Alemanha (RFA), de orientação capitalista, e a República Democrática da Alemanha (RDA), comunista.

A criação da RDA fez com que, de 1949 a 1961, quase 3 milhões de cidadãos deixassem a Alemanha Oriental para fugir do regime comunista. Em 12 de agosto de 1961, o governo do Leste anunciou a construção de um muro para frear a trânsito de pessoas entre as duas partes do país. Menos de 30 dias depois, o Muro de Berlim estava pronto, separando ruas, praças, regiões e, principalmente, pessoas. Familiares e amigos ficaram sem se ver por anos. O servidor público Jens Preissler, que vivia na Alemanha Oriental, lembra que ficou sabendo da morte de sua sogra, mas a família não pôde atravessar a fronteira para acompanhar o funeral. “Não tínhamos liberdade de ir e vir. Não era permitido”, conta.

Cruzes em homenagem aos que morreram tentando atravessar o Muro de Berlim. Foto: Giselle Garcia/Agência Brasil

A jornalista brasileira Fátima Lacerda, que vive em Berlim há 26 anos, se lembra bem quando, em outubro de 1961, dois meses após a construção do Muro, tanques americanos e soviéticos ficaram em posição de ataque, na barreira de Friedrichstrasse, chamada de Checkpoint Charlie. Na visão dos aliados ocidentais, ao impedir o trânsito livre pela Alemanha, a URSS tinha violado o acordo assinado em 1945. “Por horas, os dois poderes militares ficaram ali, frente à frente, a uma distância de poucos metros. O sentimento que a gente tinha era de que, a qualquer momento, poderia começar a 3ª Guerra Mundial”, lembra ela.

Cerca de 100 mil cidadãos tentaram, de várias maneiras, deixar a Alemanha Oriental entre 1961 e 1988. Mais de 600 deles morreram, de acordo com dados do governo alemão. A estação de Friedrichstrasse era o ponto oficial de acesso entre as duas partes da Alemanha. Para passar pelos portões, era preciso ter autorização do governo e o controle era muito rigoroso. Quando alguém atravessava de um lado para o outro, não dava realmente para saber se aquela pessoa um dia voltaria. Não é à toa que a estação ficou conhecida como o Palácio das Lágrimas. No local, imagens e recordações de momentos de separação e despedida emocionam os visitantes.

Interior do Palácio das Lágrimas, museu em antigo posto de fronteira entre as duas Alemanhas. Foto: Giselle Garcia/Agência Brasil

Em 1989, as condições para a reunificação estavam dadas. Mikhail Gorbachev, que havia ascendido ao poder em 1985, encabeçou uma reforma que previa maior liberalização da União Soviética. A Hungria já havia aberto suas fronteiras para que alemães orientais passassem para o outro lado do território. A embaixada da Alemanha em Praga, na antiga Tchecoslováquia, autorizou milhares de cidadãos do Leste, que acamparam no local em busca de apoio, a migrarem para o Oeste. No dia 9 de novembro de 1989, em uma conferência de imprensa transmitida ao vivo pela televisão, o porta-voz da RDA, Günter Schabowski, anunciou que o governo estava autorizando viagens para o estrangeiro. Quando um jornalista perguntou a partir de quando passaria a vigorar essa nova regra, ele se confundiu (a previsão era para a manhã seguinte), e respondeu: “Segundo meu conhecimento, isso entra em vigor agora, imediatamente”.

A resposta causou uma corrida aos postos de passagem da fronteira. Com a pressão, os guardas, que não estavam preparados, acabaram cedendo e permitiram que as pessoas passassem. Imediatamente, manifestantes tomaram o Muro e começaram a destruí-lo. O professor de História, Karsten Krieger, que na época tinha 21 anos, foi um dos que usaram um martelo para quebrar pelo menos uma pequena parte da imensa barreira de concreto que separava o país. Ele conta que não tem palavras para descrever o que sentiu naquele momento. “Foi muito estranho. Às vezes você é tomado por sentimentos que você não consegue descrever. Pra mim não foi um ato exatamente político. Foi mais uma vontade imensa de acertar e destruir aquela coisa”, lembra.

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