Foto: Beeki/Pixabay
Por mais que às vezes algumas generalizações sejam necessárias ou oportunas, elas podem acabar nivelando por baixo fatos, pessoas e até termos ou palavras. É o que tem acontecido com o termo Sustentabilidade. A generalização indiscriminada da palavra fez com que ela perdesse seu real significado. Na verdade, desde que foi incorporada ao hall de palavras de efeito que geram audiência, o termo começou a sofrer um esvaziamento de significado.
Segundo uma pesquisa da consultoria DOM Strategy Partners, que ouviu 223 executivos de 500 companhias de grande porte no país, 39% das empresas ainda não conseguem equilibrar as três dimensões da sustentabilidade (ambiental, social e econômica) na empresa ou em suas estratégias. Além disso, em 74% o tema não ganhou o apoio dos comandantes e não conta com um sistema de gestão estruturado, com executivos, orçamentos, metas e responsabilidades dedicados a ele. O dado é corroborado por quem trabalha na área e os números caem ainda mais quando se busca financiamento a projetos socioambientais. É muito comum ouvir que a empresa não tem receita para ser destinada a estes projetos ou a esta área, mas, no fim do ano, lá está o Relatório de Sustentabilidade.
Outro dado da pesquisa mostra que 62% das companhias também não incluem seu negócio principal na estratégia de sustentabilidade e 61% comunicam seus planos para o tema de forma ineficiente ou oportunista, o que faz com que os funcionários não abracem a ideia e o público não dê credibilidade.
O fato é que hoje ainda há confusão quanto a real aplicação do termo sustentabilidade. E é esta brecha que pode abrir caminho para generalizações. Um exemplo disso é a difusão da cultura de “baixo carbono” como se fosse a única ou melhor saída para se evitar as mudanças climáticas. Há pouco mais de uma semana, o Programa Brasileiro GHG Protocol, maior iniciativa da América do Sul para publicação de inventários corporativos de gases de efeito estufa (GEE), realizou a sétima edição de seu evento anual, quando foram publicados 313 inventários – sendo 133 de organizações membros da iniciativa, das quais 88% são empresas privadas.
Se pensarmos que essas empresas, somadas aos 7% que representam empresas públicas/mistas ou instituições governamentais, tem em mãos a capacidade de desenvolver programas ou ações que visem a reestruturação social, a mudança de olhar das pessoas para o que as cerca, e uma postura de salvaguarda ambiental e humana, quantas ações poderiam ser feitas (e nem são tantas empresas assim!). E, talvez, a mudança fosse muito mais visível além de mais eficaz no combate aos problemas que a sustentabilidade tenta alertar, entre eles, a fome e o desrespeito aos seres vivos, que acabam gerando uma superexploração da natureza e, consequentemente, desequilíbrios ambientais e socioeconômicos.
Claro que esta visão também decorre da interpretação do conceito. Pode ser... Mas fato é que as pessoas e, para além delas, o planeta do qual elas fazem parte, continua sendo bombardeado e vai chegar o momento em que os recursos naturais existentes para um ano durarão bem menos que oito meses (como aconteceu no dia 13 de agosto, quando os recursos da terra para o ano 2015 se esgotaram). A tarefa de cuidar da nossa casa comum, como bem chamou o papa Francisco, cabe a nós da mesma maneira que é dever dos cidadãos exigir que a tarefa de casa das empresas seja feita com zelo. Um bom começo? Tentar se informar mais e conhecer a dinâmica daquilo que nos cerca.
Uma boa dica é o discurso do presidente uruguaio José Mujica durante a Rio+20. Confira: