Secretário geral da ONU, Ban Ki Moon, discursa durante a COP 19. Foto: UN Photo/Mark Garten
A 20ª Conferência das Partes das Nações Unidas sobre o Clima, ou simplesmente COP 20, está para começar em Lima, no Peru. A partir de segunda-feira (1º), lideranças e representantes de 190 países estarão reunidos para discutir um acordo global de redução das emissões dos gases de efeito estufa, que só será assinado em Paris, no ano que vem, na COP 21.
A expectativa em torno da reunião é grande, já que serão discutidos assuntos delicados com relação às mudanças climáticas, que vão ajudar a reformular o Protocolo de Kyoto, prorrogado até 2020. O rascunho do acordo climático de Paris tem que estar pronto até 31 de maio, mas a reunião de Lima pode sinalizar o que será ratificado daqui a um ano.
Na verdade, há sinais positivos sendo emitidos por países considerados “chave” na emissão de gases de efeito estufa (GEE). Entre eles, está o acordo anunciado pelos dirigentes dos Estados Unidos e da China para a redução das respectivas emissões. Os dois países respondem por 40% das emissões globais.
Apesar da resistência norte-americana quanto ao Protocolo de Kyoto, e as idas e vindas das negociações com o país, os EUA haviam assumido, há cinco anos, o compromisso voluntário de reduzir suas emissões em 19%, até 2020, em relação aos níveis de emissão de 2005. Agora, ampliaram essa meta para 27%, até 2025. Porém, este aumento da meta é consequência da preocupante e crescente exploração das reservas de xisto (gás de folhelho), que é menos poluente em carbono do que o carvão e o petróleo usados anteriormente, mas que causa divergências na comunidade científica quanto à sua capacidade de contaminação de lençóis freáticos.
Já a China, assumiu o compromisso de iniciar reduções absolutas dos seus níveis de emissões pela primeira vez. A proposta chinesa é de que as reduções sejam feitas até 2030, elevando o uso de energia limpa em 20%. Em 2009, o país havia se comprometido a reduzir as emissões em relação ao crescimento da economia, o que não significava, necessariamente, reduzir as emissões brutas. Mas no começo desta semana, a China reiterou, como faz antes de cada conferência anual da ONU sobre o clima, que os países desenvolvidos devem desempenhar um papel motriz nas negociações sobre o clima. A declaração é feita porque a China não quer ser catalogada como os países industrializados na questão das emissões.
Já no Brasil, o negociador-chefe do país nos processos de mudança do clima, embaixador José Marcondes de Carvalho, declarou ao jornal Valor Econômico que o governo espera sair de Lima com uma definição clara e detalhada do acordo de 2015, que aborde os temas de mitigação, adaptação, meios de implementação e transparência de ações e apoios.
Mas, há pouco mais de um mês, o pesquisador do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas e coordenador do Núcleo de Apoio à Pesquisa em Mudanças Climáticas da USP, Tercio Ambrizzi, em entrevista à Cidade Nova, disse que há indicação de que o país não vai fazer muito mais do que já vem fazendo, tendo como base o discurso da presidente na Cúpula do Clima, em setembro. Na verdade, as emissões brasileiras aumentaram 7,8% em 2013, segundo o Sistema de Estimativa de Emissões de GEE (SEEG), do Observatório do Clima. É o maior valor registrado desde 2008. O setor mais representativo é o de mudança de uso do solo, responsável por 35% das emissões, seguido pelo de energia (30%), agropecuário (27%), industrial (6%) e o setor de resíduos (3%). De acordo com o SEEG, nos dois setores mais poluentes – uso do solo e energia-, os principais responsáveis pelo aumento foram o desmatamento na Amazônia e no Cerrado e o incremento no uso de energia termoelétrica de fontes fósseis e do consumo de gasolina e diesel.
Agora, teremos que esperar que Lima não imite Varsóvia, sede da COP 19, no ano passado, e palco de um verdadeiro fiasco em termos de negociações e delimitação de metas, com organizações importantes para o debate abandonando a conferência na metade.