Porque deveríamos ser todos carrancas

Foto: Divulgação

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

As figuras mal encaradas utilizadas nos barcos que navegam pelo rio São Francisco como forma de espantar os maus espíritos se transformaram em objeto de identificação cultural da população ribeirinha. Conhecidas como carrancas, as faces humanas ou animais encarnam outro papel na campanha do Comitê da Bacia Hidrográfica do São Francisco: a de defensoras do Velho Chico. Intitulada “Eu viro carranca pra defender o Velho Chico”, as ações da campanha acontecerão hoje (03) para marcar o Dia Nacional em Defesa do Velho Chico.

Confira no vídeo a proposta do evento:

 

Os quatro pontos destacados pela ação são a revitalização do rio, sua vazão ecológica, a disponibilidade hídrica e a gestão humana dos recursos, que leve em conta os povos que vivem no entorno da Bacia. O presidente do Comitê, Anivaldo Miranda, disse que a campanha não é um protesto, mas um alerta para os problemas do rio. Em coletiva de imprensa realizada no dia 28, Miranda destacou ainda a necessidade de construção do Pacto das Águas como uma forma de evitar conflitos. O Pacto é composto de ações para harmonizar os interesses de todos os segmentos de usuários e construção de planejamento estratégico do rio.

Com 2.700 quilômetros, o São Francisco é o maior rio que nasce e deságua no Brasil. E, assim como na Cantareira, o principal problema é o volume crítico dos reservatórios. Desde 2011, há diminuição da vazão e há o receio de que as represas esvaziem completamente até o fim do período de estiagem. Há um ano, na edição 567 da Cidade Nova, publicamos um artigo sobre o assunto, que você pode conferir aqui.

A história parece repetitiva e há uma exaustão de análises e vozes sobre o problema da Cantareira que poderiam se aplicar à Bacia do São Francisco. Mas o aspecto que merece mais destaque em todo este debate é a harmonização dos usos múltiplos das águas de uma bacia hidrográfica. Ou seja, uma gestão que leve em conta todas as necessidades e usos dos recursos hídricos, desde o setor elétrico até o lazer, perpassando a pesca e o saneamento. Prevista na Política Nacional de Recursos Hídricos, lei que muitas vezes é descumprida no país, essa harmonização depende da gestão descentralizada, que conte com o poder público, mas que ouça também os usuários e as comunidades. Não é à toa que estes pontos fazem parte do primeiro artigo da Lei 9.433/97.

Nesse sentido, o Pacto das Águas seria um importante passo para a revisão do sistema de outorga pelo direito de uso das águas e por um planejamento hídrico equilibrado. Porém, depende também da população encontrar alternativas para fortalecer a sua participação e fazer as suas necessidades serem atendidas. Não adianta somente fecharmos as torneiras. É preciso incorporarmos o espírito da carranca, nos unirmos e sairmos em busca de diálogos e soluções efetivas para proteger este recurso natural cada vez mais escasso. 

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água, rio são francisco, carranca, Campanha, Fraternidade, política nacional de recursos



Sobre

Estamos em processo de adaptação ao planeta Terra e ainda precisamos aprender a conviver e cuidar dele da mesma forma que cuidamos de uma criança ou um idoso. Ele é um sistema vivo, no qual todas as partes interagem, inclusive conosco. E o cuidado é essencial, mais do que a razão e a vontade. Mas para cuidar é preciso conhecer. Por isso, este blog se propõe dialogar sobre meio ambiente, destacando fatos importantes para quem quer ambientar-se ainda mais com a nossa casa.

Autores

Ana Carolina Wolfe

Formada em jornalismo pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (PR), é repórter de Cidade Nova desde 2011. Começou a se interessar por meio ambiente em 2002. Desde então, se apaixonou pela “tradução” de temas ambientais ao público. Hoje, além de Cidade Nova, atua como assessora de imprensa em um centro de pesquisa voltado ao agronegócio e como diretora na ONG Florespi.