Mineração em foco

Serra dos Carajás / Foto: Marcelo Correa

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A semana passada foi marcada pela polêmica em torno do Novo Código da Mineração. Na terça-feira (06) um grupo de organizações da sociedade civil, movimentos sociais e cidadãos, encabeçados pelo Instituto Socioambiental (ISA) encaminhou, à Secretaria Geral da Mesa da Câmara Federal, uma representação por quebra de decoro parlamentar contra o deputado Leonardo Quintão (PMDB-MG), relator do Projeto de Lei 37/2011, o novo marco legal da mineração.

A ação inédita acontece porque Quintão relata um projeto de interesse direto de seus financiadores. Segundo o ISA e de acordo com dados do TSE, dos R$ 2 milhões arrecadados por Quintão na campanha de 2010, em torno de 20% foram doados por grandes empresas de mineração e metalurgia. Em dezembro, um vídeo divulgado pelo próprio ISA mostrava o deputado, em uma audiência pública promovida na Câmara, afirmando ser legalmente financiado pela mineração. Em reportagem da Agência Câmara publicada no dia seguinte à representação, Quintão negou que defenda os interesses das mineradoras e afirmou que seu parecer é contrário a elas.

Em estudo desde 2008, o Código já nasceu gerando polêmica. Entre elas está a falta de menção ao tema da responsabilidade sobre os usos da água, ao impacto de vizinhança e ao dano e prejuízo causados a terceiros. Para se ter uma ideia da quantidade de água usada pela mineração, somente em 2012, foram mais de cinco quatrilhões de litros utilizados pelo setor.

Mas o foco do problema é mais profundo, e diz respeito ao pensamento de crescimento em prol do desenvolvimento. Mas nem sempre as duas palavras caminham juntas. Segundo o economista britânico Tim Jackson, “há estudos que mostram que, com o passar do tempo, os benefícios do crescimento econômico começam a diminuir, juntamente com os índices de bem-estar e felicidade da população”. Claro, o crescimento faz diferença e é necessário para se alcançar o desenvolvimento, mas há um momento em que a equação se inverte e crescer deixa de ser a única maneira de prosperar. Para Jackson ainda não é o caso do Brasil, mas já é chegado o momento de parar para refletir “no que quer ser quando crescer”. E a mudança, diz Tim, virá dos governos, de políticas públicas que direcionem a sociedade – empresas inclusas – para uma mudança em prol da prosperidade durável.

A reformulação de códigos, como o da mineração, é um bom momento para perceber – e cobrar - a maturidade dos governantes quanto ao assunto.

Saiba mais sobre o novo Código da Mineração aqui e aqui. E para conhecer o pensamento de Tim Jackson, acesse aqui um vídeo da sua última visita ao Brasil.

 



Sobre

Estamos em processo de adaptação ao planeta Terra e ainda precisamos aprender a conviver e cuidar dele da mesma forma que cuidamos de uma criança ou um idoso. Ele é um sistema vivo, no qual todas as partes interagem, inclusive conosco. E o cuidado é essencial, mais do que a razão e a vontade. Mas para cuidar é preciso conhecer. Por isso, este blog se propõe dialogar sobre meio ambiente, destacando fatos importantes para quem quer ambientar-se ainda mais com a nossa casa.

Autores

Ana Carolina Wolfe

Formada em jornalismo pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (PR), é repórter de Cidade Nova desde 2011. Começou a se interessar por meio ambiente em 2002. Desde então, se apaixonou pela “tradução” de temas ambientais ao público. Hoje, além de Cidade Nova, atua como assessora de imprensa em um centro de pesquisa voltado ao agronegócio e como diretora na ONG Florespi.