Políticas e modelos de educação que já deram certo no Brasil serão a fonte de estudos do Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais (Ceipe), lançado na última segunda-feira (28) pela Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getulio Vargas (FGV/EBAPE), em parceria com o Programa de Política Educacional Internacional da Universidade de Harvard e do Instituto Brookings, dos Estados Unidos. O lançamento foi no Palácio da Cidade, da Prefeitura do Rio, em Botafogo, zona sul da cidade e contou com a presença de especialistas do setor.
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A diretora do Ceipe, Cláudia Costin, é ex-secretária municipal de Educação do Rio de Janeiro, ex-diretora global de Educação do Banco Mundial e professora visitante na Faculdade de Educação da Universidade de Harvard. Ela disse que acredita ser possível expandir boas experiências pelo país a partir da análise dos resultados que apontem evidências científicas capazes de significar reais avanços da educação do país. "Educação, assim como outras áreas, tem protocolos e abordagens que funcionam de forma melhor que em outras. Então, estudar quais processos e especialmente quais pedagogias funcionam melhor também é um dos objetos do centro", disse à Agência Brasil.
Formação docente
Segundo a professora, estudos mostram que em alguns casos o fato de professores terem mestrado e pós-graduação, embora sejam necessários, não significa que estão preparados para a criação de novos projetos ou de desenvolvimento direto de ações com os alunos. Uma das explicações pode estar nos cursos oferecidos pelas universidades, incluindo a formação do profissional de educação. Para ela, o centro pode ser um espaço para as universidades que queiram repensar seus departamentos de educação e compartilhar suas atividades. "Evidentemente cada universidade tem seu próprio currículo e elas têm autonomias para isso, mas nós conhecemos o chão da escola e sabemos o que o professor egresso de alguns desses departamentos vêm dizendo sobre o preparo que receberam", contou.
Claudia Costin contou que, como secretária municipal de Educação, recebeu muitos relatos de professores de que algumas universidades tinham uma formação extremamente teórica e não voltada à prática em sala de aula. Como bom exemplo de formação profissional ela citou os cursos de engenharia e de medicina, em que os estudantes já começam a ter atividades práticas enquanto estão no curso. "Ele aprende fundamentos na medicina, mas boa parte do seu curso é voltada para a prática profissional que ele vai ter. Isso a gente tem que resgatar na educação. Dissociar teoria e prática não funciona", completou.
A diretora destacou que o centro é apartidário e isso é importante neste momento em que o país está passando por um período de polarização política. "Uma parte dessa polarização é compreensível dados os episódios recentes, mas nós que estamos lidando com as futuras gerações que estão sendo construídas temos que ter um olhar de longo prazo, olhar com que tipo de país e de pessoas queremos avançar", contou.
Ensino Médio
De acordo com Henrique Paim, ex-ministro da Educação e atualmente professor da Ebape, uma das questões preocupantes nos sistemas de ensino é a evasão escolar. Segundo ele, o problema já foi combatido com sucesso por algumas experiências implementadas nos últimos anos. " Os currículos tornam atrativa a escola, como por exemplo o Ginásio Carioca [Ginásio Experimental Carioca, modelo de ensino da Prefeitura do Rio]. Agora, temos um desafio no ensino médio, que é uma etapa da educação básica que precisa ser repensada. Temos um debate nacional em torno disso e temos toda a discussão da base nacional comum curricular, que vai , de certa forma, influenciar nessa mudança curricular. É um momento muito propício ter um think tank [organização que atua produzindo conhecimento em um campo específico] como está sendo proposto para ajudar a termos um país melhor", afirmou, acrescentando que o Ceipe pode ajudar no debate das mudanças do ensino médio propostas pelo governo federal.
Para o subsecretário de novas tecnologias educacionais na Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro e diretor do Laboratório de Inovação Educacional (LABi), Rafael Parente, já existe um consenso na discussão da Reforma do Ensino Médio de que, embora posa ser vista como negativa por alguns públicos, ela é necessária.
"É normal que em uma mudança grande educacional tenham resistências de todos os tipos. O que nós podemos fazer para ajudar neste caso, primeiro, é verificar e mostrar quais são as melhores propostas e quais podem ser melhor adaptadas para o caso brasileiro. Segundo, é melhorar a comunicação e no diálogo para que todas as pessoas consigam enxergar que aquilo é essencial e que a mudança, por mais que possa ser desconfortável, é necessária. Em terceiro, a gente pode ajudar o governo a ir fazendo avaliações e modificações durante o processo de implementação", indicou.
Segundo o educador, que também vai atuar no Ceipe, é preciso criar um diálogo entre as inovações educacionais que já estão em curso no país e fazer com que elas ganhem escala. "Uma escola às vezes em um bairro pobre conseguir bons resultados, mas como a gente consegue replicar aquela fórmula para outras escolas? Será que fazendo os diretores conversarem entre si? Criando planos de estratégias conjuntas? O centro vai agir com articulação, mobilização e criação de novas e melhores estratégias para conseguir enxergar e iluminar as ações que já acontecem e fazer com que elas cresçam", apontou.