Um grande conjunto de recifes foi encontrado na foz do Rio Amazonas, abaixo de uma pluma de sedimentos, por pesquisadores de várias universidades brasileiras. O conjunto se estende por cerca de 700 km, da costa do Maranhão à Guiana Francesa, numa profundidade que varia de 60 a 150 metros, e apresenta rica biodiversidade. Os recifes são formações rochosas construídas, principalmente, de corais e algas calcárias. O tamanho desse ecossistema chamou a atenção dos cientistas, mas o que mais impressionou foi a localização.
Foto: Eduardo Duarte/Flickr
“Existe uma ideia, agora meio abandonada, de que nas desembocaduras de grandes rios – que levam muita água doce e muitas partículas em suspensão – devido à baixa penetração de luz não teria condição de os organismos que formam recifes se desenvolverem. A grande sacada desse trabalho é encontrar uma estrutura tão grande em uma área onde acreditava-se não existir condição de luz para o surgimento desses organismos”, explica o geólogo e professor no Instituto de Oceanografia da Universidade de São Paulo (USP), Michel Mahiques.
Segundo o professor, é o primeiro conjunto de recifes no mundo descoberto nessas condições. O sistema teria se formado, segundo ele, entre 12 mil e 14 mil anos atrás, o que é considerado muito recente na geologia. Nesse ecossistema podem ser encontradas espécies desconhecidas como esponjas gigantes, com até dois metros de diâmetro e pesando até 100 quilos.
“Na verdade, é um ecossistema todo baseado na falta de luz. Então, existem microorganismos que sintetizam alimento para outros organismos. Foram encontradas algas calcárias, algumas espécies de coral, até peixes e organismos maiores dependentes desse processo que a gente chama de quimiosíntese [que não necessita de luz para se desenvolver]”, conta o pesquisador.
O geólogo informou que a equipe de pesquisadores pretende voltar ao local para continuar o mapeamento da área de recifes. Até o momento, em duas expedições ao local foram mapeados apenas 15% do ecossistema. O levantamento total da área pode levar cerca de três meses, e a ideia, segundo ele, é utilizar um navio oceanográfico que permita boa visão do fundo da área em análise.
A descoberta dos cientistas brasileiros foi divulgada na renomada revista científica norte-americana Science.