Difícil alguém ter ficado de fora de tamanha pancadaria. Na arte do convencimento, tudo é válido, tudo é relativizado. Se roubou, quem não rouba? Se mentiu, quem não mente? A retórica virulenta é a mãe das desavenças. A cada saraivada de tiros, uma guerra particular se estabelecia. A única regra presumível é o fingimento: fingir ser intelectual, fingir ser artista, fingir ser entendido do negócio, fingir ser sabedor dos males da humanidade. Num caótico jogo de argumentações, provocações, humilhações e escândalos, só se salvou quem tirou férias mesmo.
Em período eleitoral, as redes sociais se transformaram em depósito perfeito para todos os impulsos nefastos. Até o humor passou a ser pouco tolerado neste embate entre “projetos de país”. Há quem compare a briga virtual com rixa de futebol. Quem dera se o debate eleitoral tivesse alguma semelhança com as provocações entre torcedores, quase sempre divertidas, irônicas e que são motivo para estreitar amizades e combinar uma cerveja. As organizadas são um caso à parte. De polícia, por sinal.
É claro que especialistas sairão do berço acadêmico para saudar um renovado interesse por política. Somos um país melhor, dirão. Mais engajado, mais empenhado, mais democrático. Protegidos pela tela, todos se tornam cidadãos exemplares. Os suíços teriam inveja.
O que se viu, porém, é bem mais baixo do que isso: um festival de ofensas, preconceitos, intolerância, além da gritaria. Engraçado é que fora do ambiente digital, a sensação compartilhada era estarrecimento com o MMA do eleitorado.
Segunda-feira esta aí, gente. A rotina continuará a se apresentar como todos os dias. Nossa relação com o poder seguirá afastada, como sempre foi. Este alto grau de expectativa sobre a definição de um cargo do executivo pouco vai alterar a ideia de que é preciso empregar uma batalha individual para “vencer na vida”. Claro que sonhamos com padrões melhores, representantes mais virtuosos, uma política feita de maneira honesta e todo aquele projeto de sociedade evoluída. A realidade, no entanto, é mais frustrante e penosa.
Passada a ressaca eleitoral, entenderemos qual é o grau de complexidade desta divisão que se estabeleceu no país. Como na música de Neil Diamond, adaptada para o português por Rossini Pinto, o arrependimento será galopante: “Porque brigamos?”.