Adeus, Orkut

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Até pouco tempo falar em Orkut era símbolo de descompasso. Como alguém ainda poderia se manter ativo na “dinossaurica” rede social diante do poderio e influência do Facebook, LinkedIn, Twitter e Instagram? Eis que no último dia 30, o Google decidiu acabar com o Orkut e programou seu fim para o dia 30 de setembro. Bastou o anúncio e uma onda de nostalgia se abateu por milhares de internautas brasileiros. Era hora de se despedir da primeira plataforma a ter sucesso na integração de usuários da web. Uma experiência tão fascinante a ponto de arregimentar em seu auge 40 milhões de contas só no Brasil.

Entre scraps, depoimentos, comunidades, o saldo é positivo. Entender parte da última década (2001 – 2010) passa necessariamente pelo que foi produzido no Orkut. Uma memória virtual gigantesca que retrata esta transformação da sociedade nas relações sociais. Grande parte de nossa convivência – e já é um clichê dizer isso – migrou para a web. Lá encontramos amigos, trocamos mensagens, combinamos encontros e tiramos sarro da realidade. As comunidades foram fomentadoras contínuas de criatividade. Até as mais sérias tinham mais relevância e utilidade do que as fanpages do Facebook, por exemplo.

Hoje lembramos do Orkut e facilmente damos risada de tudo que passou, como as nossas memórias da infância e da adolescência. É possível que num futuro nem tão distante façamos o mesmo com o Facebook. Essas mortes virtuais de plataformas e redes, por mais onipresentes que elas tenham sido em algum momento, só demonstram o quanto elas são efêmeras e respondem a uma lógica de mercado. São instrumentos de comunicação, acima de tudo. Existe uma transformação da interação, bem como do comportamento do homem – cada vez mais “dependente” de seus gadgets. Mas nada que seja definidor de caráter e personalidade. Dar esta importância a redes sociais seria um grave equívoco.

Antes do fim

É bem verdade que o Orkut estava abandonado, mas dizer que seu fim tem relação com a chegada do Google+ é de uma soberba impressionante. Este foi argumentado oficial utilizado pelo Google, que sabe que o real motivo é o sucesso retumbante do Facebook. Mas num ambiente de concorrência voraz, a gigante da tecnologia não daria o braço a torcer.

Até 30 de setembro, data estipulada para encerrar as atividades do Orkut, os usuários poderão acessar suas contas normalmente. Quem quiser guardar seu perfil, depoimentos e posts de comunidade podem fazê-lo com o auxílio da ferramenta Google Takeout. O álbum de fotos pode ser exportado via Google+. O prazo é amplo para salvar este acervo pessoal: setembro de 2016.

As comunidades públicas, sem dúvida a memória mais relevante da rede, serão preservadas em um “arquivo de comunidades”, possível de ser apenas visualizado. O aplicativo do Orkut já não está mais disponível para ser baixado. Quem o tem instalado, ele irá funcionar somente até o dia 30 de setembro.

Apesar do marasmo, o Orkut ainda tinha uma certa presença na vida do brasileiros, com cerca de 6 milhões de contas ativas. Era a sexta rede social mais acessada no país, o único no mundo que ainda registrava atividades na plataforma. 

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Sobre

Pitacos, reflexões e provocações sobre música, cinema, jornalismo, cultura pop, televisão e modismos.

Autores

Emanuel Bomfim

Emanuel Bomfim nasceu em 1982. É radialista e jornalista. Escreve para revista Cidade Nova desde 2003. Apresenta diariamente na Rádio Estadão (FM 92,9 e AM 700), em SP, o programa 'Estadão Noite' (das 20h às 24h). Foi colaborador do 'Caderno 2', do Estadão, entre 2011 e 2013. Trabalhou nas rádios Eldorado, Gazeta e América.