Diversidade, unidade e formação cultural

O objetivo desta reflexão é defender a seguinte tese: nós, seres humanos, somos todos iguais. Essa é uma tese que parece extemporânea num contexto de mundo que preza pela diversidade de ideias e pela e pluralidade de valores culturais. Mas só parece porque, do ponto de vista psicológico, nossa estrutura de base é constituída da mesma estrutura de desejo; do ponto de vista material somos feitos da mesma matéria e do ponto de vista espiritual, somos formados do mesmo sopro de vida.

Daí a confluência dos temas diversidade, unidade e formação cultural. Por quê? Por que educação é uma prática comum a todos os seres humanos, considerando a profundidade e a amplitude de sua influência na existência dos seres humanos, segundo as crenças, os valores e as circunstâncias sociais e culturais de cada época. Desde o surgimento da humanidade, a educação, é prática fundamental da espécie, distinguindo o modo de ser cultural dos homens do modo de ser natural dos demais seres vivos. Mas, exatamente por impregnar assim tão profundamente a existência dos homens, a educação é mais vivenciada do que pensada. Deste modo, nossa intenção é fazer um convite para pensar a educação: seu alcance, sua contradição e sua fecundidade.

Brevíssimos recortes históricos: nossa cultura ocidental tem como matriz os gregos, inicialmente, com seus mitos e, posteriormente, com a filosofia, especialmente Sócrates, Platão e Aristóteles. Em razão da passagem da consciência ingênua à consciência filosófica, eles marcaram profundamente nossa cultura.

Na Idade Média, para além da fusão da cultura grega e romana, temos o emergir da cultura cristã e as figuras exponenciais de Agostinho e Tomás de Aquino que empreenderam a articulação entre fé e razão. Modernamente, Paul Ricouer, em sua última obra Percurso do Reconhecimento, testemunha a necessidade de retomar essa questão do tema o si mesmo como outro, do ponto de vista da ética, sobretudo do ponto de vista da solicitude. Bem no sentido desta dimensão, ele faz o resgate do pensamento aristotélico, sobretudo a fronisis aristotélica, a dimensão de sabedoria prática.

Mais do que nunca isso é fundamental para a compreensão dos enormes desafios éticos colocados pela civilização tecnológica. Contemporaneamente, o sociólogo Zygmunt Bauman em seu livro intitulado Modernidade Liquida, enfatiza exatamente que estamos vivendo uma realidade complexa, contraditória e fragmentada, na qual é difícil compreender os rumos históricos e fazer julgamentos. Nesse novo contexto social e cultural, a realidade para o ser humano se tornou sem brilho, complexa e líquida, enfraquecendo os laços comunitários.

Diante deste conciso cenário podemos inferir que o ser humano, para além das circunstâncias diversas, carrega em comum a mesma dignidade. Dignidade que necessita de princípios, valores, pontos de referências e parâmetros éticos capazes de garantir a diversidade advinda das diferentes matizes e, ao mesmo tempo, a unidade como categoria arquetípica indispensável a um ideal formativo à altura dos desafios do nosso tempo, porque nós, seres humanos, somos todos iguais.

 

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Sobre

Para além de discursos politicamente corretos, mas destituídos de densidade humana, queremos refletir sobre a Educação, que tem, fundamentalmente, como tarefa primeira, instituir a humanidade de cada um de nós. Que este blog seja um espaço de reflexão que potencialize nossa utopia: humanizar os saberes e educar os afetos.

Autores

Jaqueline de Moraes Fiorelli

Professora de Português do Colégio Santa Clara-SP, doutora em Língua Portuguesa pela Universidade de São Paulo (USP). Autora de artigos e material didático voltado ao ensino de Português, publicado pela editora do Sistema Mackenzie de Ensino (2013).

Vanderlei Barbosa

Professor de Filosofia na Universidade Federal de Lavras. Doutor em Educação na área Filosofia, História e Educação, pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Autor de vários artigos e do livro "Da Ética da Libertação à Ética do Cuidado". São Paulo: Editora Porto de Ideias, 2009.