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Um convite a pensar nosso modo-de-ser-e-estar-no-mundo é o objetivo dessa reflexão. Domingo, 22 de junho de 2014, depois de passar a manhã inteira com meus filhos, Leonardo e Beatriz, andando por trilhas no campus da Universidade Federal de Lavras, voltamos para casa para preparar o almoço, afinal, era preciso repor as calorias gastas nas aventuras e no peregrinar entre flores, formigas, pássaros e borboletas.
Após o almoço, como hábito de sempre, fui ler as notícias (Folha de S. Paulo, Caderno Cotidiano, 22/06/2014) e me deparei com uma manchete que me provocou espanto: “sobe número de salas de aula em hospitais do país”.
Li atentamente, toda a matéria para entender do que se tratava e fui observando a opinião dos especialistas – psicólogos, professores, pais e, por suposto, médicos – assegurando que o “objetivo é que o aluno não fique defasado ao ter alta” e, também, explicando a dinâmica das “classes hospitalares”.
“Funciona assim: após a chegada de uma nova criança no hospital, os professores das chamadas ‘classes hospitalares’ contatam a escola onde ela estuda – pública ou particular – e se informam sobre o conteúdo ensinado. A partir disso, as aulas são dadas em uma sala no hospital ou no leito das crianças mais debilitadas”. E continuava a matéria: “além da sala de aula, as atividades (...) podem ocorrer nos leitos e, em alguns casos, até na UTI”.
E a matéria trazia ainda uma menina que passara por um transplante de coração “encarando interpretação de texto na UTI” e outra que tratava de um câncer fazendo lição de tabuada. A matéria finda apontando a positividade das “classes hospitalares” e seu aumento: “em 2003, 80 locais tinham classes para crianças internadas; hoje são 146”.
Guardei o jornal, fui até jardim, olhei para meus filhos brincando, mas meus sentimentos eram contraditórios – como ser contra esses gestos de cuidados educacionais com crianças que tão cedo experimentam a fragilidade da vida?
Nessa inquietação me lembrei das palavras do sábio Coelet: “debaixo do céu há momento para tudo, e tempo certo para cada coisa: tempo para nascer e tempo para morrer. Tempo para plantar e tempo para arrancar a planta. Tempo para matar e tempo para curar. Tempo para destruir e tempo para construir. Tempo para chorar e tempo para rir. Tempo para gemer e tempo para bailar. Tempo para atirar pedra e tempo para recolher pedra. Tempo para abraçar e tempo para se separar. Tempo para procurar e tempo para perder. Tempo para guardar e tempo para jogar fora. Tempo para rasgar e tempo para coser. Tempo para calar e tempo para falar. Tempo para amar e tempo para odiar. Tempo para a guerra e tempo para a paz”. (Cf. Eclesiastes, 3).
As palavras de Coelet me devolveram a paz de espírito, pois nos propõe outra ótica, outra lógica, outra ética, outra maneira de ver-e-sentir-o-mundo: há um tempo para cada coisa debaixo do céu.
O mundo é uma escola e cada experiência é uma lição. Portanto, não podemos considerar a vida a partir somente de critérios científicos, mas também a partir de critérios humanos, éticos e espirituais e dentro dessa outra maneira de ver-e-sentir-o-mundo, por mais absurdo que possa parecer, a dor, a doença e até a morte são carregadas de sentidos, porque somos gente e não máquinas.