No dia 11 de setembro de 2011, num domingo de sol, cheguei à cidade de Lavras, situada no sul de Minas Gerais, para iniciar minhas atividades acadêmicas. Logo fui convidado para fazer uma fala no Fórum Sul Mineiro de Educação Infantil (projeto de extensão que procura mobilizar e articular os municípios do sul de Minas Gerais em prol dos direitos da criança), que naquele mês se realizou na cidade de Guaxupé. Foi paixão à primeira vista!
"Toda criança tem o olhar dos poetas – olha uma coisa, vê outra. Toda criança tem o olhar dos filósofos – desnaturaliza o óbvio". Na foto, Garota refugiada Síria olha através da janela de escola no norte da Jordânia. Foto: NHCR/ (18/09/2013)
Desde então, tenho participado, rigorosamente, todos os meses, do Fórum, que acontece em vários municípios do sul de Minas. A cada evento, uma experiência, uma novidade, uma alegria.
A partir desse contato, fui redescobrindo a criança em mim – a criança que fui e a criança que sou. A infância é tempo-fonte de onde jorram mananciais límpidos e cristalinos de sabedoria, de encantamento e êxtase.
Como tenho aprendido com as crianças! Para a criança, a brincadeira é coisa séria! O mundo é um brinquedo! A vida é uma grande brincadeira! No brincar, moram todas as possibilidades, daí a construção de sentidos, o exercício da autonomia, o desenvolvimento de habilidades afetivas, cognitivas... O inusitado é a regra básica do brincar! O inusitado é a regra básica da vida! Algumas vezes, surpreende com alegrias indescritíveis; outras, com sustos igualmente indescritíveis.
Com as crianças, estou desaprendendo a ser gente grande. E aprendendo que nós, em qualquer fase da vida, precisamos de histórias fantásticas.
Histórias de príncipes e de princesas. De monstros e de caçadores. De bruxa e de fadas. De fantasias, da imaginação e de magia. De poesia, de beleza, de leveza e de humor. De emoção e de aventuras. De soldadinhos de chumbo, de cigarras e de formigas. De lobos, de Saci Pererê e de sapos. De segredos, de mistérios e de encantamentos. De faz-de-conta, de garoas suaves e de tempestades.
Não houve ninguém que soubesse captar de forma tão clara a sabedoria das crianças, como nos revelam os escritos sagrados, do que Jesus de Nazaré. Quando os discípulos tentavam impedir que as crianças dele se aproximassem, ele os reprendeu, dizendo: “não as impeçais! Deixai vir a mim os pequeninos, pois delas é o Reino de Deus”. E perguntou: “quem é o maior entre nós?” Diante do silêncio, tomou uma criança colocou-a diante deles e disse: “se não tornares criança como esta, não entrareis no Reino do céu”.
Educar à fraternidade parece ser um bom começo nessa arte de se tornar criança... Precisamos, com urgência, recuperar essa gratuidade lúdica e essa sabedoria das crianças. O brincar – assim como a dança e o pôr do sol – não serve para nada, por isso é importante. “A maturidade de um homem consiste em encontrar de novo a seriedade que tinha como criança ao brincar”, diz o educador Rubem Alves. Toda criança tem o olhar dos poetas – olha uma coisa, vê outra. Toda criança tem o olhar dos filósofos – desnaturaliza o óbvio.
As melhores memórias e as melhores lembranças de nossa existência são dessa etapa da educação que é a educação infantil. Feliz de quem não se esquece desse sabor de infância. A memoria afetiva é o que temos de definitivo, o resto são acréscimos provisórios.