"Eu gosto de pensar Loppiano como um lugar em que se vive, se semeia e se constrói a confiança", disse o primeiro-ministro italiano Matteo Renzi, no último sábado (4), no final de seu breve discurso no auditório da cidadela de Loppiano, do Movimento dos Focolares, situada nas colinas de Incisa in Val d’Arno (região de Florença, Itália). E prosseguiu: “Loppiano é o lugar onde volto para casa, onde se redescobre a verdade daquilo você é”. Um eco de suas palavras de abertura, em que confidenciou considerar a cidadela “um elemento de grande proximidade pessoal”. Proximidade que não deve ser confundida com aquela geográfica, dada a pouca distância de Rignano, terra natal do chefe de governo.
"Eu gosto de pensar Loppiano como um lugar em que se vive, se semeia e se constrói a confiança", afirmou o primeiro-ministro italiano, Matteo Renzi, durante a comemoração dos 50 anos da cidadela de Loppiano. Foto: SIF
O primeiro-ministro não quis faltar à festa de abertura do 50º aniversário da cidadela, nascida de uma intuição de Chiara Lubich, fundadora dos Focolares. Depois de uma manhã em Assis para celebrar São Francisco, o padroeiro da Itália, Renzi fez uma parada em Loppiano para “levar a estima, a amizade, a proximidade de todas as instituições italianas”.
Loppiano suscita reflexões sobre três temáticas, afirmou Renzi, para em seguida dizer, ironicamente: “preparei um discurso de 7 horas e 42 minutos, mas vou poupá-los”. Gratos por estarem livres de tamanho perigo, os mais de 3000 presentes escutaram serenamente o que a cidadela significa para o jovem primeiro-ministro.
O tema da unidade, antes de tudo, “é uma opção política com o ‘P’ maiúsculo, é um grande desafio político que se coloca a partir de uma intuição extraordinária”. O polo empresarial e a aposta da Economia de Comunhão são “um novo modelo para a economia, um paradigma econômico para o nosso tempo”, em que “é necessário refletir sobre a forma como a crise mudou o nosso sistema produtivo e ocupacional”. Finalmente, inspirando-se na definição de Loppiano dada pelo cientista Ugo Amaldi (Cidade da Confiança), Renzi destacou o quanto a confiança seja necessária nos dias de hoje. “Confiança que se perdeu não apenas nas relações interpessoais, mas sobretudo no futuro”.
Canções, recriações, peças musicais, entrevistas e recitações contaram a história de Loppiano. Foto: SIF (04/10/2014)
Brincando com o sorriso sempre estampado no rosto dos focolarinos, o primeiro-ministro disse que ele revela “a consciência de que, entre o céu e a terra, o futuro é algo que devemos construir juntos, dando-nos confiança recíproca para desenvolver a humanidade”. Não poderia faltar, em chave autobiográfica, uma referência a sua avó, que o apresentou à revista Città Nuova (edição italiana desta Cidade Nova) e a cidadela de Loppiano, repetindo-lhe: “Chi va piano, va sano e va a Loppiano” (jogo de palavras em italiano que pode ser traduzido como “Quem vai devagar, vai saudável e vai a Loppiano”).
O primeiro-ministro acompanhou, atento e participativo, um espetáculo com cerca de uma hora de duração que, através de canções, recriações, peças musicais, entrevistas e recitações, contou a história da cidadela. Tudo começou com a decisão de Eletto Folonari – um dos filhos de uma famosa família da região italiana de Brescia, proprietária da vinícola homônima – de oferecer de presente a Chiara Lubich os oitenta hectares de sua propriedade. A primeira hipótese era vender as terras, mas, em seguida, a fundadora dos Focolares intuiu que ali deveria ser construída a cidadela que ela sonhara para dar testemunho do mandamento do amor recíproco, gerador de relações renovadas e de uma nova sociabilidade.
Hoje vivem na cidadela 800 pessoas de 64 países. A internacionalidade foi a característica peculiar de Loppiano desde o início. E justamente isso causou, no início, desconfiança nas cidadezinhas vizinhas. Os grandes fluxos migratórios e a globalização ainda estavam longe de ser uma realidade. “Quem eram esses jovens e o que faziam ali?”, perguntavam-se os moradores da região. Renzi tinha então vinte anos. Também na sua cidade, Rignano, havia curiosidade e desconfiança em relação àquelas pessoas que tentavam viver o Evangelho. “Mas eles fazem ou são?”, perguntava-se Renzi. Quando aceitou o convite para visitar a cidadela, viu sua hesitação desaparecer e encontrou-se “em família”.
Vista aérea do Instituto Universitário Sophia, localizado em Loppiano. Foto: SIF
A cidade é um reflexo de muitas histórias, dizem os urbanistas. E Loppiano, com todos aqueles que a habitaram, com os visitantes que por ela passaram (mais de 1,2 milhão desde a fundação), constitui um ponto de referência para muitos. Ao longo dos anos, tem sido enriquecida por presenças e iniciativas como o polo empresarial, a cooperativa agrícola e o Instituto Universitário Sophia.
Entre os projetos para o futuro estão desenvolver uma acolhida cada vez melhor, o aumento da agregação social, a valorização de todas as faixas etárias e o empenho em desenvolver cada vez mais o diálogo e a inovação cultural.
A cereja do bolo dessa grande festa de aniversário foi uma surpresa: uma mensagem em vídeo do Papa Francisco: "Loppiano é uma realidade que vive a serviço da Igreja e do mundo, pela qual devemos agradecer ao Senhor; uma cidade que é um testemunho vivo e eficaz de comunhão entre pessoas de nações, culturas e vocações diferentes”, afirmou Bergoglio, sublinhando que os habitantes desejam “tornar-se especialistas no acolhimento recíproco e no diálogo, operadores de paz, geradores de fraternidade”.
O encorajamento de Francisco foi caloroso: “Prossigam com entusiasmo renovado por esta estrada. Desejo-vos que saibam permanecer fieis e que possam encarnar, cada vez mais, o desígnio profético desta cidadela florescida do carisma da unidade precisamente há 50 anos. Viver esta realidade em sintonia profunda com a mensagem do Concílio Vaticano II que então se celebrava, isto é, o desígnio de testemunhar, no amor recíproco para com todos, a luz e a sabedoria do Evangelho. Loppiano, escola de vida, portanto, onde há um único mestre: Jesus. Sim, uma cidade-escola de vida para dar esperança ao mundo, para testemunhar que o Evangelho é verdadeiramente o fermento e o sal da nova civilização do amor. Mas, para isso, buscando a seiva espiritual do Evangelho, é preciso imaginar e experimentar uma nova cultura em todos os campos da vida social: da família à política, à economia. Isto é, a cultura dos relacionamentos”.
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