O medalhista olímpico Flávio Canto e o nadador paralímpico Daniel Dias receberam na semana passada o título de embaixadores da Laureus Desporto pelo Bem (Sport for Good Foundation), organização mundial dedicada à promoção do esporte como ferramenta de transformação social.
Durante evento na Rocinha, o ex-judoca Flávio Canto, fundador do Instituto Reação, e o nadador paralímpico Daniel Dias recebem certificado da Academia Laureus. Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil
A entrega do título ocorreu no Instituto Reação, criado por Flávio Canto, no Complexo Esportivo da Rocinha, em São Conrado, zona sul do Rio de Janeiro. O instituto atualmente tem cerca de 1,2 mil alunos de judô, entre crianças, adolescentes e jovens moradores de comunidades em situação de vulnerabilidade.
Daniel Dias, nadador paralímpico e maior medalhista do Brasil, com 15 medalhas olímpicas, ganhou o prêmio Laureus, considerado o Oscar do esporte, em 2009 e 2013, .
“Se cada atleta da academia fizer seu papel, de ser um grande exemplo e ajudar a molecada e as pessoas, fará toda a diferença”, afirmou Daniel, que, há cerca de um ano, criou um instituto com seu nome que ensina natação para 20 crianças com deficiência.
“Sei das dificuldades que nós deficientes temos. Acho que essas pessoas precisam de oportunidades. O esporte me deu muitas coisas e o Laureus me dará oportunidade de passar o que aprendi para essas crianças.”
Entre os membros da Academia Laureus, participaram do evento o medalhista olímpico de decatlo Daley Thompson e Hugo Porta, ex-jogador de rugby union argentino.
“A organização tem 52 membros, todos ex-atletas, e muitos embaixadores. A ideia é que podemos mudar o mundo por meio do esporte”, disse Porta, considerado uma lenda do rugby mundial. “Para chegar aos jovens de forma mais direta, precisamos de embaixadores, como Flávio e Daniel, mais jovens e com um diálogo direto com eles.”
Além dos títulos, a organização internacional anunciou apoio financeiro de 30 mil euros anuais durante três anos renováveis ao Instituto Reação para projetos pedagógicos e de tecnologia. O apoio pode ser renovável.
Para Flávio Canto, embora a ajuda financeira seja importante para fortalecer e apoiar projetos, o apoio simbólico da Laureus é ainda mais valioso.
“Sinto-me mais forte com eles, pois a Laureus é um exemplo desse crescimento em rede de pessoas que querem transformar o mundo pelo esporte. Estou com os grandes nomes do esporte e precisamos manter esse circulo virtuoso. Estamos longe de onde queremos chegar, mas estamos nos aperfeiçoando para ter um projeto cada vez mais consistente para crescer com segurança.”
A judoca Raquel Silva, 26 anos, faz parte do Instituto Reação há 15 anos. Ela pretende dar aulas depois que parar de competir. “O esporte ajudou minha família e quero poder ajudar outras crianças. Quero mostrar que, independente de ser pobre, é possível vencer na vida por meio do esporte”, acrescentou Raquel, a única com diploma superior da família.
“Fomos criados em uma comunidade sem perspectiva. Com o judô, comecei a viajar, ganhei bolsa em uma escola particular e comecei a ver que havia um outro mundo fora dali. Isso me incentivou a crescer como pessoa”, explicou a judoca. Por causa do esporte, ela já conheceu mais de 20 países, entre eles Japão, Alemanha, Cuba, Uruguai e Estados Unidos. A irmã de Raquel, Rafaela Silva, é atleta olímpica e representará o Brasil nos Jogos de 2016.
Moradora da comunidade da Rocinha, a mãe de Giovani, Marilene Bezerra Neves, leva o filho religiosamente às aulas de judô há seis anos. “É o que ele gosta e eu incentivo. Ele não falta. Para mim, é um orgulho a vontade dele. É um incentivo muito bom para que as crianças saiam das ruas e aprendam coisas melhores para o futuro.” Com 11 anos, Giovani sonha em ser campeão olímpico.
“No início foi difícil, mas é um esporte muito legal. Se derrubar, tem de segurar no quimono para não machucar o amigo. Eles ensinam a não brigar na rua, ter respeito. Se brigar na rua, a gente leva bronca”, afirmou Giovani, que já aprendeu a contar até dez em japonês.