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Desafio incentiva presença de meninas na programação

Technovation inspira estudantes a encontrarem a solução para problemas das suas comunidades com o uso da tecnologia​

por Tatiana Klix - Porvir   publicado às 08:36 de 19/02/2015, modificado às 08:36 de 19/02/2015

“Eu não sou parte das estatísticas. Eu não sou uma Barbie. Eu não tenho medo de falhar. Eu sou parte de uma comunidade.” Com essas palavras, um vídeo incentiva meninas de todo o mundo a se arriscarem no universo da programação e pensarem em formas de utilizar a tecnologia na solução de problemas da sociedade. O trecho faz parte de uma campanha do Technovation, desafio global de empreendedorismo e tecnologia para mulheres. Durante quase três meses, as participantes irão se juntar em times para aprender a programar um aplicativo e elaborar o seu plano de negócios.

Foto: Viktor Hanacek/Picjumbo

 

O desafio é promovido pela Iridescent, uma organização norte-americana sem fins lucrativos que estimula o ensino de ciências e engenharia. Em sua sexta edição, a competição já atingiu mais de 2.700 meninas, em 45 países. No Brasil, este ano o Technovation se une ao Programaê! (leia mais no Porvir) e passa a contar com o apoio da Fundação Lemman e a Fundação Telefônica Vivo. O objetivo é aproximar as meninas da tecnologia e desmistificar o estereótipo masculino que segue a área.

“Queremos mostrar que as meninas são capazes de ser o que elas quiserem”, defende a engenheira de software Camila Achutti, diretora nacional do Technovation Challenge Brasil. Segundo ela, a tecnologia vai se tornar uma ferramenta útil em qualquer profissão, independente dela estar ligada a uma carreira técnica. “Não é só aprender a programar. É mudar a maneira como se encara os estudos na escola, na carreira e até mesmo no próprio plano de vida.”

O programa é dividido em 12 aulas e as participantes se organizam em times de cinco meninas. Juntas, elas baixam e estudam os materiais disponíveis na página do Technovation. Entre as lições, existem técnicas de brainstorming, análise competitiva, desenvolvimento de marca e potencial de geração de receita. Além disso, em todas as aulas elas também aprendem um pouco de programação e funcionamento do App Inventor, uma plataforma do MIT que é utilizada para a construção dos protótipos.

Para avançarem pelas lições e desenvolverem o projeto de um aplicativo, as meninas contam com o apoio de uma mentora. Essa profissional não precisa ser uma especialista na linguagem dos computadores, mas deve ter alguma relação com a tecnologia. “A mentora tem muito mais um papel de inspiração para as meninas. Ela precisa ter vontade de aprender junto com elas”, afirma Camila. Semanalmente, ela irá realizar reuniões ou hangouts com as garotas para acompanhar o andamento do projeto e das aulas.

“Queremos mostrar que as meninas são capazes de ser o que elas quiserem”
Ao final do programa, em meados de abril, as equipes submetem o protótipo desenvolvido e participam de apresentações regionais, onde serão escolhidos os melhores projetos de cada país. As finalistas viajam para o Vale do Silício, na Califórnia (EUA), onde realizam um pitch  com investidores. A equipe vencedora recebe U$ 10.000 em financiamento para finalizar e lançar o aplicativo no mercado.

Em 2013, a competição contou pela primeira vez com a participação de alunas brasileiras. Um time de meninas do Colégio Universitas, em Santos(SP), conseguiu chegar ao terceiro lugar do Technovation com um aplicativo que conectava voluntários e instituições de trabalho social. O grupo viajou para apresentar o projeto na sede do Twitter, na Califórnia (EUA). A veterana Nathalia Goes, 18, era uma das integrantes da equipe. Na época ela estava no terceiro ano do ensino médio e conta que nunca tinha pensado em aprender programação antes de participar do desafio. “Quando a gente voltou, eu cheguei com uma vontade muito grande, não só de continuar aprendendo, mas também de passar isso para as outras meninas.”

O interesse de Nathalia foi tanto, que hoje ela trabalha ao lado da equipe brasileira que organiza a competição. Ela ajuda na coordenação dos embaixadores que estão espalhados pelo país e também visita escolas para recrutar grupos de meninas para participarem do desafio. “O papel do Technovation é muito mais do que levar meninas para a tecnologia. É mostrar o quanto a tecnologia é importante e o quanto as mulheres podem e devem usar isso a favor delas. Não existe barreira e nem gênero que possa definir nada”.

Por mais mulheres na tecnologia
A discussão que o Technovation traz sobre a necessidade de inserir mais mulheres na tecnologia é crescente. Camila Achutti, por exemplo, foi a única mulher da sua turma a se formar no curso de Ciência da Computação pela USP (Universidade de São Paulo). Para ela, essa desigualdade de gênero está muito relacionada ao estereótipo que cerca as carreiras da área. “É aquela ideia de ficar em uma sala fechada, na frente de um computador, sem interação social. Ser um gênio e saber muito de matemática”, exemplificou.

“A tecnologia tem um impacto muito grande no mundo e as mulheres não podem simplesmente ficar de fora porque elas não são a maioria”

A engenheira de software ainda afirma que as meninas são criadas em uma construção de gênero que não incentiva o interesse pelo setor. Segundo ela, para aproximar as estudantes da área, é preciso mostrar a tecnologia como um meio, e não como um fim. “Em geral, elas não olham a tecnologia pela tecnologia. Elas querem ver a tecnologia como um meio de fazer uma coisa diferente. As meninas funcionam muito bem com essa coisa do propósito.”

O aumento da presença feminina no universo da tecnologia pode aumentar a inovação na área. Conforme aponta Camila, essa inclusão traz novas ideias e o perfil de um usuário que antes estava excluído.  “É muito mais fácil ensinar a técnica para as pessoas que vivem o problema do que ter apenas um grupo de homens pensando no Vale do Silício. Como esses caras vão chegar no problema do estupro das mulheres na Índia?”, explica. “A tecnologia tem um impacto muito grande no mundo e as mulheres não podem simplesmente ficar de fora porque elas não são a maioria”, completa Nathalia.

Inscrições abertas
As inscrições para o Technovation estão abertas até o dia 28 de fevereiro. Para participar é necessário preencher um formulário no site. Podem se inscrever estudantes, mentoras, voluntários e coordenadores que ajudam a recrutar equipes para participar do desafio.

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