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"Partido do homem comum" cria onda de esperança na política indiana

Liderado por Kejriwal, o Aam aadmi party está desempenhando um papel-chave nas eleições em curso na Índia. A análise de nosso correspondente

por Ravindra Chheda - Città Nuova   publicado às 09:30 de 24/04/2014, modificado às 12:20 de 24/04/2014

Na Índia as eleições seguem em várias etapas, distribuídos entre 9 de abril, data de início das eleições no Nordeste do país, e 7 de maio, dia em que se encerrarão as votações. O que chama cada vez mais a atenção é o papel que, muito provavelmente, será desempenhado pelo mais novo protagonista do complexo cenário político indiano: Mr. Kejriwal , com o seu partido Aam aadmi party. O surgimento desse homem comum, que fundou o partido do homem comum (como diz o próprio título do partido), garantiu a estas eleições algo de mágico, segundo alguns jornalistas e observadores. De fato, ele foi capaz, como observou o jornal The Hindu, de renovar a confiança e a esperança de muitas pessoas. De certa forma, reinventou a política da maior democracia do mundo.

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O principal trunfo deste novo grupo político, criado inteiramente a partir da base e do movimento de Anna Hazare – que há anos tem feito jejuns contra a corrupção dos políticos e da polícia – é saber falar com as pessoas, interpretando os seus sentimentos , mas também suas queixas, seu desconforto. Kejriwal e seus correligionários conseguiram apresentar candidatos que falam aos eleitores das questões sobre as quais esses eleitores querem ouvir falar em contextos que, num país tão vasto e diversificado como o gigante asiático, são frequentemente muito diferentes de estado para estado, e até mesmo de distrito para distrito.

O Aam aadmi party certamente não vencerá as eleições, mas representa uma novidade absoluta, porque conseguiu encontrar o comprimento de onda certo para se fazer entender. Com humildade e simplicidade, o partido tem surpreendido sempre, como no triunfo de alguns meses atrás nas eleições locais em Nova Delhi.

Sem dúvida, por outro lado, a concorrência é feroz e tradicional: o Partido do Congresso, claramente enfraquecido e sem um líder carismático; o Bharatiya Janata party, com o controverso, mas, sem dúvida, igualmente carismático, Narendra Modi, que provoca medo nas minorias. Ninguém esqueceu que foi sob seu governo local no estado de Gujarat que mil muçulmanos foram mortos na cidade de Godhra. Agora protagonista em nível nacional, Modi parece destinado à vitória com seu partido, mas muitos acham que ele não será capaz de obter uma maioria absoluta, justamente por causa da presença da nova força política Kejriwal .

Milhares de pessoas, estudantes, profissionais aposentados, jornalistas, donas de casa, um corte transversal da sociedade indiana, olham para homens do Aam aadmi party com uma fé renovada na política. Além da classe média e dos pobres, o novo grupo atingiu os refugiados, as classes sociais forçadas àqueles trabalhos sempre considerados impuros, como varredores de rua e cremadores de cadáveres, os nômades (e há muitos grupos tribais, em diferentes partes da Índia, que ainda levam uma vida de peregrinações), os pastores e as comunidades de pescadores.

Kejriwal e os seus, apostam alguns observadores políticos, estão criando uma política do corpo. É o corpo que pode ser veículo de protestos e é o corpo que sofre o contraste do poder: os cassetetes da polícia, os canhões d’água contra os manifestantes. Mas o corpo também garante a presença, traz os sinais da fome, da pobreza. O corpo permite à política manter os pés no chão, manter-se no nível dos relacionamentos entre as pessoas. Foi o exemplo de Gandhi e sua forma de fazer política. A comparação pode ser exagerada, mas ouvi recentemente de um amigo, ex-embaixador da Índia em locais de prestígio, que o neto do Mahatma, Rajmohan Gandhi, decidiu entrar em campo com o partido Aam aadmi. Candidato a um assento pela zona lesta da capital, Delhi, ele baseia sua campanha em questões específicas e precisas: construir a infraestrutura necessária na região, onde não há ar puro, parques e saneamento básico.

Kejriwal está experimentando a campanha no próprio corpo, pois já chegou a ser agredido fisicamente. Mas justamente por isso seu discurso tem se mostrado credível. Ele é livre de redundâncias políticas, diríamos em nosso país, e das hipocrisias que caracterizam a maioria dos políticos.

Claro, é uma experiência. Não se sabe o impacto que poderia ter e terá. Saberemos, assim como os mais de um bilhão de indianos, em meados de maio. No entanto, enquanto os partidos tradicionais jogam no tabuleiro da complicada estrutura política tradicional, a nova força fala e vive com as pessoas. Isso é sinal da vitalidade de um sistema, independentemente do resultado das eleições.