A criação de um mecanismo para monitoramento de ovos do mosquito Aedes aegypti e o desenvolvimento de uma plataforma para acompanhar a carreira de políticos e funcionários públicos brasileiros foram alguns dos destaques do Laboratório Ibero-Americano de Inovação Cidadã (LabicBR). Promovido pela Secretaria-Geral Ibero-Americana, em parceria com o Ministério da Cultura, o evento reuniu 120 participantes de 14 países durante duas semanas no Rio de Janeiro.
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Para o ministro da Cultura, Juca Ferreira, que participou no domingo (29) do encerramento do encontro, a junção das palavras inovação e cidadania nesta edição do LabicBR mostrou qual é o tipo de inovação que interessa à sociedade. “A inovação que melhore a qualidade de vida e gere protagonismo da sociedade e níveis de enfrentamento de questões sociais para beneficiar as coletividades. Acho que é isso, mais a consciência e a articulação”, disse.
Entre os projetos destacados pelo ministro, está o aplicativo AeTrapp, que identifica os locais onde estão os ovos do Aedes aegypti e facilita o combate pelos órgãos de saúde pública. “É preciso enfrentá-lo [o mosquito] e eliminá-lo da convivência. Então, a participação da sociedade é fundamental”, ressaltou Ferreira. Transmissor da dengue, do vírus zika e da febre chikungunya, o mosquito está relacionado a doenças como a microcefalia em fetos e a síndrome de Guillain-Barré.
Autor do aplicativo, o biólogo Odair Scatolini disse que as discussões no LabicBR contribuíram para o avanço da ferramenta, que conta com duas pesquisadoras da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) na equipe de colaboradores. O aplicativo tem perspectivas de ser usado no início do ano que vem pela Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro, com um projeto-piloto em um município. “A gente conseguiu mostrar que a tecnologia é viável e que cidadãos comuns podem colaborar com o poder público para o monitoramento do Aedes aegypti”, declarou o biólogo.
Outro destaque foi a plataforma Cargografias, que permite o acompanhamento da carreira de políticos e de servidores públicos. O site existe há dois anos na Argentina e foi lançado no Brasil durante o LabicBR, no site www.cargogragfiias.org/brasil. O próximo passo é estender a experiência ao Equador, à Venezuela, ao México e à Colômbia.
Para a secretária-geral Ibero-Americana, Rebeca Grynspan, o projeto Cargografia é imaginativo e colabora com a transparência da administração pública. Ela acrescentou que agora os governos têm de escutar o que a sociedade propõe. “Este é um exemplo de participação da sociedade com o governo, não sem o governo. Eles têm de deixar de ver a participação como contestatária. A participação pode ser propositiva”, considerou.
Segundo Grynspan, o setor público é essencial, mas muitas vezes não pode inovar. Dessa forma, a ajuda dos grupos que se reuniram no encontro podem realizar a articulação, como no projeto de monitoramento do Aedes aegypti. “Não é só o Ministério da Saúde. As comunidades podem fazer muito esta é novidade que surge aqui e está fora do sistema, mas se o sistema a integra pode ser de grande utilidade para toda a região”, disse.
Entre os exemplos de interação entre governo e sociedade, a secretária destacou o projeto Jardins Suspensos, que previa a instalação de telhados verdes em comunidades cariocas e foi ampliado a pedido de moradores da comunidade da Maré, na zona norte do Rio. Ela citou ainda o Praça-Instruções de Uso, que constrói parques infantis com materiais recicláveis em áreas de baixa renda. “Todos os projetos me parecem lindíssimos. São fáceis, econômicos, importantes e permitem a participação comunitária”, completou.
Para ter um desenvolvimento inclusivo, Rebeca Grynspan defendeu que a América Latina promova a capacitação, especialmente dos jovens de 15 a 29 anos, que representam 34% da população ibero-americana. Ainda no encerramento, os participantes sugeriram a criação de uma rede de cooperação permanente ibero-americana. Mais projetos de inovação podem ser encontrados na página do LabicBR na internet, no endereço www.ciudadania20.org/pt-pt/labicbr/.