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Origami ajuda refugiado sírio a construir nova vida em campo da Jordânia

Após ser forçado a fugir do conflito na Síria, Fadi, 26 anos, compartilha seus conhecimentos com crianças que, assim como ele, vivem em campo de refugiados

por ONU Brasil   publicado às 09:11 de 25/04/2017, modificado às 09:12 de 25/04/2017

Enquanto conversa, as mãos de Fadi estão em constante movimento. Dobrando, apertando e dando forma a uma folha de papel, ele vai contando os eventos que o trouxeram da Síria para o campo de refugiados de Zaatari, na Jordânia. Após alguns minutos contando sua história, ele faz uma pausa e mostra um delicado lírio de papel. Um sorriso ilumina seu rosto.

“O origami rompe barreiras e dá esperança às crianças”, diz Fadi. Foto: Annie Sakkab/ACNUR

“Eu acho o origami indescritivelmente interessante”, diz o jovem de 26 anos nascido em Dara’a, sul da Síria. “Essa técnica te permite fazer algo a partir do nada e, para mim, isso alivia o estresse e libera toda a energia negativa”.

No começo do conflito sírio, Fadi estudava comércio e contabilidade na Universidade de Tishreen, na cidade portuária de Lattakia. Foi ali que um de seus professores lhe apresentou a tradicional arte do origami, ou dobragem de papel. Porém, o que começou como um novo hobby na Síria tornou-se parte importante de sua vida no campo de refugiados jordaniano.

Fadi é um dos cerca de 80 mil sírios que atualmente vivem no agitado campo de Zaatari. No total, a Jordânia abriga 658 mil refugiados sírios registrados, dos quais a maioria habita as vilas e cidades ao redor do reino.

O jovem estava em seu terceiro ano da universidade quando o conflito o forçou a abandonar seus estudos. Como seu pai já estava vivendo fora do país, e a guerra se aproximava cada vez mais de sua casa em Dara’a, Fadi decidiu levar a família para a Jordânia em outubro de 2013.

“Eu era responsável por 14 almas, em sua maioria mulheres e crianças”, conta Fadi, referindo-se a ele mesmo, seus nove irmãos mais novos, mãe, avós e sua esposa com gestação avançada. “Meu maior medo era que algum deles fosse morto ou ferido”.

Coiotes foram contratados para levá-los até a fronteira da Síria com Jordânia e Iraque, onde foram largados durante a madrugada e instruídos a caminhar pelo deserto em direção a uma distante colina para chegar à Jordânia. Porém, após horas de caminhada e temperaturas escaldantes, eles continuavam cercados pelo deserto, sem comida nem água.

Por sorte, encontraram pastores beduínos que lhes apontaram a direção correta. Após caminharem por mais de 14 horas, enfim chegaram à Jordânia. Assim que as autoridades jordanianas os encontraram, a esposa de Fadi, grávida de gêmeos, começou a sentir dores e foi levada às pressas para o hospital.

“Nossos gêmeos nasceram mortos”, contou Fadi. “Depois disso, fomos para Zaatari, e a vida recomeçou lentamente”.

A prioridade de Fadi após se estabelecer no campo foi encontrar um trabalho para ajudar no sustento de sua família. Como havia sido voluntário na Síria em um centro para crianças com síndrome de Down, conseguiu um emprego de auxiliar de sala de aula em um curso de educação informal para crianças, mantido pela ONG Relief International. Os cursos aconteciam no campo, em um centro comunitário fundado pela Agência da ONU para Refugiados (ACNUR).

“Foi então que me lembrei do origami, e pensei que seria algo interessante e diferente a ser experimentado com as crianças”, conta Fadi. Segundo ele, os resultados foram especialmente positivos para as crianças com necessidades especiais ou com problemas de comportamento.

“As crianças amaram o fato de poderem transformar um pedaço de papel em outra coisa — um pássaro ou uma cadeira. Isso aprimora sua concentração e comprometimento. Quando proponho um projeto, eles não se distraem ou se entediam, mas seguem adiante até que tenham terminado”.

“O maior impacto foi com Miriam e Mohammed, duas crianças da turma com síndrome de Down”, acrescenta Fadi. “Eles costumavam ter problemas de atenção e agressividade, mas a mudança foi nítida. Desde que começaram a fazer origamis no ano passado, passaram a direcionar seus esforços para um objetivo. Como resultado, estão muito mais calmos e felizes”.

Além de trazer diversão a seus alunos, Fadi também acredita que o hobby transformou sua vida em Zaatari. “O origami faz com que eu me sinta um membro ativo da comunidade. Agora as pessoas no campo sabem quem eu sou, e isso me deu um propósito como refugiado”.

Fadi considera universal o simples ato de dobrar papel para fazer outros objetos, uma vez que pode ser entendido por todos que alguma vez já fizeram um avião de papel, independentemente de etnia ou idioma. Ele sonha que algum dia ensinará origami para crianças refugiadas em outras partes do mundo. “É algo novo, e eu vi como eles respondem a isso. O origami rompe barreiras e traz esperança às crianças”.

Tags:

conflito, violência, guerra, síria, refugiados, esperança, artes plásticas, crise migratória, origami

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