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Refugiada síria reconstrói a vida no Brasil e sonha com diploma universitário

Na próxima semana, a guerra na Síria completa seis anos. Os conflitos já deixaram mais de 400 mil mortos e obrigaram 4,9 milhões de pessoas a abandonarem o país

por ONU Brasil   publicado às 10:19 de 10/03/2017, modificado às 10:19 de 10/03/2017

“Eu comecei a viajar quando a guerra começou”. O conflito na Síria mudou a vida de Tülin Hashemi. Moradora de Damasco, a jovem de 25 anos teve de deixar a capital do país por causa dos riscos trazidos pelos confrontos. Bombardeios eram comuns e ela tinha medo de sair de casa até para ir ao mercado. Há dois anos e dois meses, ela chegou ao Rio de Janeiro. Mas antes de vir para o Brasil, a refugiada passou pelo Líbano, pela Malásia e pela Turquia.

 

Após cinco meses trabalhando em solo turco, Tülin conseguiu juntar dinheiro para um voo até São Paulo. De lá, veio para o Rio, onde os altos custos com moradia e alimentação foram um problema.

Em 2015, ainda sem saber falar português muito bem, teve dificuldades em arranjar emprego, até ser indicada pela Cáritas RJ — instituição que representa a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) no estado — para o Abraço Cultural, um projeto que recruta refugiados para ensinar línguas estrangeiras para brasileiros.

Hoje, a jovem dá aulas de inglês e árabe. Como o horário do trabalho é mais flexível que o de um emprego normal, ela acredita que terá mais tempo livre para retomar os estudos. Seu sonho é cursar Astronomia na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

No Brasil, cerca de 28% dos quase nove mil estrangeiros reconhecidos como refugiados são mulheres. No Rio de Janeiro, o número de refugiadas aumentou em relação aos anos anteriores, atingindo quase 45% da população total sob o mandato do ACNUR na cidade.

Na próxima semana (15), a guerra na Síria completa um infeliz aniversário: são seis anos de conflitos que arrasaram o país e deixaram mais de 400 mil mortos. O conflito forçou 4,9 milhões de pessoas a abandonarem o país.

“A Síria está numa encruzilhada”, disse Filippo Grandi, alto comissário da ONU para refugiados. “A menos que sejam tomadas medidas drásticas para fortalecer a paz e a segurança para a Síria, a situação vai piorar”.

Na Síria, 13,5 milhões de pessoas necessitam de ajuda humanitária; 6,3 milhões são deslocados internos; centenas de milhares fizeram viagens marítimas arriscadas em busca de segurança; quase 3 milhões de sírios menores de 5 anos cresceram sem saber como é viver em um país sem conflitos.

“Em última análise, o conflito da Síria não é sobre números — é sobre as pessoas”, acrescentou Grandi. “Famílias foram devastadas, civis inocentes foram mortos, casas destruídas, empresas e meios de subsistência destruídos. É um fracasso coletivo”.

Este ano e nos próximos, o ACNUR continuará a prestar ajuda e proteção às vítimas tanto na Síria como nos países vizinhos. Seus parceiros também têm fornecido ajuda para salvar a vida de milhões de pessoas.

Em 2016, mais de 1 milhão de sírios receberam assistência no inverno — itens essenciais para ajudar a manter as pessoas vivas em temperaturas abaixo de zero. No ano passado, mais de 4 milhões de pessoas na Síria receberam itens básicos de socorro como comida, remédios, roupas de cama e outros utensílios.

Mais de 2 milhões se beneficiaram da rede de centros comunitários do ACNUR na Síria, que ofereceram serviços que incluem proteção à criança, educação e saúde. Na região, mais de 3 milhões de deslocados sírios e refugiados receberam ajuda para sobreviver ao inverno rigoroso.

O ACNUR e seus parceiros ajudaram quase 5 milhões de refugiados sírios e também aqueles que os receberam com uma gama de proteção e assistência, incluindo educação, assistência médica e abrigo nos cinco principais países que acolhem refugiados na região.

No entanto, de acordo com a agência da ONU, à medida que as vulnerabilidades aumentam ao longo do tempo, o financiamento está ficando aquém das necessidades. Uma conferência em Bruxelas, no início de abril, avaliará o futuro do país, incluindo as necessidades de financiamento humanitário.

A ONU precisa de 8 bilhões de dólares este ano para atender as necessidades dos sírios que continuaram no próprio país e dos que foram forçados a se deslocar.
“Pedimos aos doadores que mantenham um financiamento adequado e flexível que nos permita responder às enormes necessidades”, disse Grandi. “O financiamento não vai acabar com o sofrimento. Mas é uma das coisas que podemos fazer à medida que a pobreza e a miséria se intensificam. Os recursos atualmente disponíveis simplesmente não cobrem todos os desafios”.

O ACNUR também disse esperar que as recentes iniciativas de paz preparem o caminho para uma resolução duradoura e sustentável. “Sozinhas, as conversas de paz não criarão as condições para que os refugiados retornem”, acrescentou Grandi. “Mas, uma vez que os elementos básicos para a paz duradoura e a segurança sejam estabelecidos, devemos antecipar o maior esforço de reconstrução em uma geração”.

“Entretanto, é essencial que o serviço vital fornecido pela ajuda humanitária seja mantido e que o acesso humanitário se amplie para permitir um apoio que salve a vida de todos os que necessitam.”

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