“O Vale do Jequitinhonha é um vale sofrido, onde as pessoas sofrem para conseguir o pão de cada dia. É um vale castigado de sol e de seca, que tem vários problemas.” O relato é do morador da comunidade Córrego do Ouro, José Cordeiro. À sua história, somam-se outros depoimentos de habitantes da região que enfrentam falta d’água, assoreamento e erosão dos solos para sobreviver.
"Moradores do Vale do Jequitinhonha, Minas Gerais. Foto: Agência Brasil/ Marcello Casal Jr
Para melhorar as condições de vida de José e outros residentes do Jequitinhonha, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) firmou uma parceria com a iniciativa Satoyama para apoiar nove projetos que buscam revitalizar 40,6 mil hectares nos municípios de Veredinha e Turmalina, região do alto Vale.
Cerca de 240 famílias são alcançadas pelas ações dos programas, focadas em recuperação de áreas degradadas, capacitação dos habitantes para a gestão adequada da água, produção agrícola sustentável e comercialização. No total, 14 comunidades estão sendo beneficiadas.
“O objetivo é que eles (moradores) consigam fazer autogestão, pleitear outros recursos, empreender outras iniciativas e que sejam agentes de desenvolvimento na sua região”, diz o coordenador-geral do Centro de Agricultura Alternativa Vicente Nica (CAV) — organização não governamental parceira dos projetos —, Valmir de Macedo.
Salete Maciel, moradora da comunidade de Gentio, conta que “foram as próprias pessoas que destruíram a região porque não tinham conhecimento”. Por muito tempo, a produção de carvão proveniente do corte de árvores nativas era a principal fonte de renda na região.
Atuando desde 1994 no Vale do Jequitinhonha, o CAV leva orientações para os habitantes sobre produção agroecológica, acesso a mercados e geração de renda, bem como discussões sobre manejo e uso da terra.
“Em algumas comunidades, trabalhamos captando a água da chuva, seja no sentido de potencializar as nascentes, seja no sentido de captar água para uma produção quase que imediata”, explica Macedo.
Com a iniciativa Satoyama, já foram realizadas 143 obras para armazenar águas da chuva. O resultado é uma coleta de 33,6 milhões de litros em bacias de contenção. Outras 20 nascentes estão sendo protegidas e restauradas.
O aumento na disponibilidade de água viabiliza a produção de alimentos e estimula a permanência das famílias no campo. As comunidades também têm recebido assistência técnica para tornar a produção agrícola e a criação de gado mais sustentáveis.
“Com esses projetos que aparecem, eu tinha vontade que eles não deixassem isso aqui acabar não, porque isso aqui é uma tranquilidade. Parece que a planta que você planta aqui, que você colhe, descasca e chupa, o sabor é outro”, afirma Noé de Oliveira, morador de Pontezinha.
Além do PNUD, que apoia a iniciativa Satoyama por meio do Programa de Pequenos Projetos Ecossociais (PPP-ECOS), a experiência no Jequitinhonha recebe apoio do Ministério do Meio Ambiente do Japão (MOEJ), do Secretariado da Convenção Sobre a Diversidade Biológica (SCDB), da Universidade das Nações Unidas (UNU) e do Fundo Global para o Meio Ambiente Mundial.