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Em busca de preço baixo, turistas reservam albergues em favelas para os Jogos 2016

Localizados em comunidades pacificadas, os hotéis de baixo custo atraem pessoas que querem conhecer a realidade dos moradores, além de gastar pouco

por Alana Gandra - Agência Brasil   publicado às 10:14 de 25/04/2016, modificado às 10:15 de 25/04/2016

Em 2011, o jornalista cearense Sidney Pereira Filho foi ao Morro Dona Marta para fazer uma reportagem sobre turismo comunitário. Lá conheceu a guia de turismo local, Salete Martins. Foi quando também soube do projeto de Salete e sua família de abrir um hostel, hotel de baixo custo, na comunidade.

Hostels e pousadas na comunidade Babilônia, no Leme, já estão com quase 100% das reservas para a Olimpíada Rio 2016 foto. Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil

Inaugurado há apenas um mês, no Morro Dona Marta, primeira comunidade carioca a receber uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), o Hostel Bosque Santa Marta teve o jornalista como seu primeiro hóspede.

“Além da amizade com Salete, eu estava atrás de um lugar para morar”. A localização do hotel, em Botafogo, bairro da zona sul próximo ao centro da cidade, foi outro atrativo para o jornalista. “Além de ser um lugar bonito, é mais barato do que alugar um imóvel”, disse Sidney Filho à Agência Brasil.

A gerente Salete Martins já tem agendadas para a Olimpíada duas turistas do México. “A gente começou agora. É um trabalho de formiguinha, mas acredito que como nós somos guia de turismo aqui na favela, até lá nós vamos conseguir muito turista”.

Para o argentino Huel Di Tomafo, a camaradagem é o maior pretexto para ficar hospedado em um hostel na comunidade do Vidigal, zona sul da cidade. “Você se sente em um clima de amizade”, disse. “É muito aconchegante. Você se sente em casa. A vista que se tem do hostel é maravilhosa. Vejo o Leblon, Ipanema, Copacabana. E na favela do Vidigal, estou de frente para o mar”, disse o argentino, que trabalha como garçom em um restaurante no Leblon.

Tomafo acrescentou que pretende continuar no Rio de Janeiro para assistir aos Jogos Olímpicos, que começam em agosto. Assim como o argentino, muitos turistas brasileiros e estrangeiros pretendem se hospedar em pousadas, albergues e hostel instalados em comunidades pacificadas durante os jogos.

De acordo com a Associação de Cama e Café e Albergues do Estado do Rio de Janeiro (Accarj), a previsão para ocupação de hostels na cidade do Rio de Janeiro para a Olimpíada chega a 84,7%. Os turistas estrangeiros (70%) são os que mais procuram este tipo de hospedagem. A entidade tem 48 albergues associados.

Reservas
No Home Hostel Cantagalo, na comunidade do Cantagalo, a responsável pelo local, Simone Pereira, espera atingir ocupação total até o evento esportivo. O albergue oferece café da manhã e almoço e criou passeios turísticos para atrair mais visitantes. “Entre os pontos estão mirantes na comunidade, um restaurante nordestino e o museu da favela”, disse Simone.

Já o norte-americano Adam Newman, dono do Hostel Favela Experience, no Vidigal, espera ocupar as 30 vagas do empreendimento, aberto há um ano e meio, até a Olimpíada. “Abrimos a agenda no mês passado e a lista de espera já é grande”, disse. Formado nos Estados Unidos em empreendedorismo, Adam Newman já teve uma pousada em Santa Teresa, centro do Rio, mas resolveu ir para o Vidigal para desenvolver um projeto social na região.

Em parceria com a organização não governamental (ONG) local Ser Alzira de Aleluia, construiu o hostel há dois anos e meio com ajuda de voluntários. “Hoje em dia, o hostel sustenta a ONG. Gera entre R$ 4 mil a R$ 5 mil por mês para a ONG”.

Newman também tem um projeto de adaptação de casas de moradores para hospedar turistas. “Na Copa do Mundo, a gente recebeu 150 pessoas do mundo inteiro. E este ano, a gente vai fazer mais, para a Olimpíada”.

Já na comunidade pacificada do Morro da Babilônia, o Babilônia Rio Hostel vai receber holandeses, ingleses e voluntários que irão participar dos Jogos. “Eu vou receber um grupo grande de holandeses antes da Olimpíada e depois, na Paralímpiada. Vai ficar cheio. Foi uma surpresa boa, porque é um grupo que vai fazer uma pesquisa aqui”, disse uma das sócias, Bianca Lima, que divide o negócio com o marido Eduardo Barbosa. De acordo com a proprietária, o albergue é equipado com placa solar e tem captação de água da chuva, atraindo hóspedes preocupados com a sustentabilidade. 

Outro que adotou o Morro da Babilônia como sua casa é o belga Paul Dhuyvetter, dono da pousada Estrelas da Babilônia, inaugurada em julho do ano passado, com três quartos privados, ocupados no momento por hóspedes da França, Colômbia e Checoslováquia. Paul garantiu que todas as vagas estão preenchidas para os Jogos Olímpicos. “É muito rápido”, afiançou, atribuindo parte da procura à vista privilegiada das praias do Leme e Copacabana e do Corcovado.

Localizado na comunidade pacificada Chapéu Mangueira, também no Leme, o Favela Inn Hostel está em obras mas segue “batalhando” para conseguir hóspedes para a Olimpíada. São quartos coletivos, com um banheiro por quarto. A administradora do local, Cristiane de Oliveira, disse que “não teve ainda a felicidade de ter nenhum hóspede fechando” para o período dos Jogos.

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