“É preciso entender que há sempre um ser humano por trás da corrupção. No final, haverá uma criança sem merenda na escola, uma pessoa sem remédios no hospital, uma mulher vítima de violência sexual sem atendimento. Portanto, este é o momento de lutar contra ela”, afirmou a chefe do setor de Anticorrupção e Transparência do Pacto Global da ONU, Olajobi Makinwa, durante o workshop “Avaliação de riscos de corrupção”, que aconteceu entre os dias 28 e 29 de outubro, em São Paulo.
Protesto em Brasília contra a corrupção. Foto: Antônio Cruz/ABr
Organizado pela Rede Brasileira do Pacto Global, em parceria com a Deloitte, o evento contou com o apoio da Braskem, Grupo Libra e Itaipu Binacional. Para um público de 80 líderes de mercado, a especialista nigeriana explicou que a definição de “corrupção” – uso indevido de um poder confiado, quase sempre motivado pela ganância – se aplica não só a políticos e a funcionários públicos, mas também aos principais dirigentes de companhias. Muitas empresas acreditam que o governo é quem rouba, que pede suborno, que pratica extorsão e que elas são sempre vítimas. Mas, muitas vezes, são elas que instigam esse suborno”.
A representante do Pacto Global destacou que a corrupção corresponde a 3 trilhões de dólares ou 5% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial, onerando em 10% o custo dos negócios no mundo. “Com base nos dados de 2014, os custos de corrupção na União Europeia são de pelo menos 120 bilhões de euros por ano”, acrescentou. Em relação ao suborno, ela comentou que o Banco Mundial estima perdas globais de 1 trilhão de dólares ao ano.
Além dos custos financeiros, a corrupção traz, segundo a especialista, outras grandes perdas. “A reputação, que foi construída durante muitos anos, pode ser perdida rapidamente, com consequências no longo prazo. Os profissionais não querem trabalhar em empresas corruptas, os investidores perdem o interesse nelas e se instaura um efeito cascata. O caso da Petrobras é um exemplo disso, pois envolveu políticos e afetou o investimento estrangeiro no Brasil. Portanto, a integridade é hoje o melhor investimento”, contou.
Ela ressaltou a importância da avaliação de riscos de corrupção nas empresas e governos e a adoção de medidas cabíveis. “Nesse sentido, a legislação brasileira, como a Lei da Empresa Limpa (12.846/13), tem contribuído muito”, disse, lembrando que a Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção, promulgada em 2005 e ratificada em 2006 pelo Brasil, é um acordo universal e eficiente para o combate à corrupção.