O ponto alto das atividades do Papa em Cuba, no último domingo (20), foi a celebração da Santa Missa na Praça da Revolução “José Martí”, lugar simbólico de Havana e de todo o país por ser palco de grandes encontros de até 600 mil pessoas.
Francisco em Cuba: “Quem não vive para servir, não serve para viver”. Foto: Ismael Francisco/Cubadebate
Em sua homilia, Francisco partiu do Evangelho do dia, no qual Jesus faz aos seus discípulos uma pergunta aparentemente indiscreta: “O que vocês discutiam pelo caminho?”. "Trata-se de uma pergunta que Ele também poderia fazer em nossos dias. Aqui, o Evangelho diz que os discípulos se calaram, porque, no caminho, tinham discutido, uns com os outros, sobre qual deles era o maior”.
Naturalmente, os discípulos se envergonhavam de dizer a Jesus o que estavam falando realmente. Os discípulos daquela época fizeram a mesma discussão que os discípulos de hoje: “Quem é o mais importante?” Esta pergunta, que nos acompanha durante toda a nossa vida, merece uma resposta. E o Papa disse:
“Jesus não teme s perguntas dos homens, da humanidade… Pelo contrário, conhece o profundo do coração humano e, como bom pedagogo, está sempre disposto a acompanhar-nos. Fiel ao seu estilo, ele assume os nossos interrogativos, aspirações, conferindo-lhes um novo horizonte; dá uma resposta que propõe novos desafios; propõe a lógica do amor; uma lógica capaz de ser vivida por todos, porque é para todos”.
Jesus, explicou Francisco, não propõe um horizonte para poucos privilegiados, mas faz propostas concretas para a nossa vida, mesmo aqui nesta ilha caribenha. Jesus é simples na sua resposta: “Se alguém quiser ser o primeiro, seja o último e o servo de todos”. Quem quiser ser grande, sirva os outros e não se sirva dos outros. Desta forma, Jesus transtorna a lógica dos discípulos:
“Servir significa, em grande parte, cuidar da fragilidade: cuidar dos mais fracos das nossas famílias, da sociedade, do povo, que são os rostos sofredores, indefesos e angustiados, que Jesus convida a amar. Trata-se de um amor que se traduz em ação e decisão, que convida a defender, assistir, servir. Ser cristão é servir e lutar pela dignidade dos irmãos e não nossa. Todos somos chamados, por vocação cristã, a servir. Isto não quer dizer servilismo, mas promoção da pessoa humana”.
Neste sentido, afirmou o Bispo de Roma, o santo povo de Deus, que caminha em Cuba, é um povo que ama a festa, a amizade, as coisas belas. É um povo que caminha, que canta e louva. É um povo que, apesar das feridas que tem como qualquer povo, sabe abrir os braços, caminhar com esperança, porque se sente chamado para a grandeza. E o Papa exortou:
“Convido-os a cuidar desta vocação, a cuidar destes dons que Deus lhes deu, mas, sobretudo, convido-os a cuidar e servir, de modo especial, da fragilidade dos seus irmãos. Não se descuidem deles por causa dos seus projetos, que podem parecer sedutores. Somos testemunhas da força da ressurreição de Jesus, para a construção de um mundo novo”.
O Papa Francisco terminou a sua homilia convidando o povo cubano a não se esquecer da Boa Nova de hoje: a importância de um povo, de uma nação, de uma pessoa, que se baseia no modo de servir seus irmãos mais frágeis e necessitados. Eis um dos frutos da verdadeira humanidade, afirmou o Papa, que concluiu: “Quem não vive para servir, não serve para viver”.
Francisco encontra Fidel Castro
Após a missa, o Papa encontrou-se com o ex-Presidente cubano Fidel Castro. Foi o que referiu o Diretor da Sala de Imprensa vaticana, Padre Federico Lombardi. O colóquio, que durou cerca de meia hora, realizou-se na residência do idoso líder da revolução cubana, em um clima cordial e informal. Estavam presentes também a esposa de Fidel e alguns membros da família. O Papa estava acompanhado pelo Núncio Apostólico em Cuba, Dom Giorgio Lingua.
O Papa presenteou Castro com alguns livros de Padre Alessandro Pronzato sobre o humorismo e a fé, uma cópia da Encíclica ‘Laudato si’ e da Exortação Apostólica Evangelii gaudium, além de alguns CDs contendo reflexões do Padre jesuíta Armando Llorente, que faleceu em 2010, e que foi professor de Fidel.
O comandante deu ao Papa uma cópia do livro “Fidel e a religião”, de Frei Betto (1997) com uma dedicatória: “Para o Papa Francisco, por ocasião da sua visita a Cuba com admiração e respeito do povo cubano”.
O ex-presidente fez algumas perguntas ao Papa Francisco, referindo-se, em particular, à defesa do ambiente e à situação atual do mundo. Fidel Castro já havia se encontrado com o Papa João Paulo II no Vaticano, em 1996, e em Cuba, em 1998. Bento XVI esteve em Havana em 2012.