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Rio 2016: projeto coloca alunos em contato com atletas paralímpicos

Para Richard Bowne, considerado o homem mais rápido do mundo na categoria T44 (amputados), a iniciativa ajuda a combater o preconceito em relação às pessoas com deficiência

por Flávia Villela - Agência Brasil   publicado às 11:15 de 04/09/2015

Alunos do Instituto Francisca Paula de Jesus, no Méier, bairro da zona norte do Rio de Janeiro, viveram ontem (3) experiências inusitadas. Eles tiveram a oportunidade de mostrar a atletas estrangeiros o que aprenderam sobre modalidades paralímpicas. Os alunos jogaram vôlei sentado e futebol de cinco com os atletas, fizeram perguntas e tiraram fotos com os medalhistas paralímpicos.

Os paratletas Richard Browne e David Brown, dos Estados Unidos, praticam vôlei sentado, durante encontro com alunos no Instituto Francisca Paula de Jesus. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

“Senti na pele o que é, por exemplo, não poder enxergar. Tive a sensação do poder deles [atletas com deficiência visual]. Não seria capaz de fazer metade do que eles fazem, é muita força de vontade. Eles são os heróis do esporte”, disse Igor de Oliveira Azevedo, de 15 anos, do primeiro ano do ensino médio.

A modalidade preferida de Igor é a Golbol, em que três atletas cegos lançam, alternadamente, bolas um contra o outro, com o objetivo de marcar gols no adversário. “O golbol é parecido com o boliche, os dois goleiros têm que defender e agarrar ouvindo o som da bola. Acho muito divertido”, disse o estudante.

O instituto foi a primeira escola particular a fazer parte do projeto Transforma, patrocinado pelo Comitê Organizador dos Jogos Rio 2016, para levar novos esportes olímpicos às escolas. O projeto faz parte das celebrações de um ano para os Jogos Paralímpicos.

Para o velocista norte-americano Richard Bowne, considerado o homem mais rápido do mundo na categoria T44 (amputados), a promoção dos jogos com para-atletas em locais como as escolas ajuda a combater o preconceito que existe em relação às pessoas com deficiência.

O paratleta David Brown, dos Estados Unidos, corre em demonstração para alunos do Instituto Francisca Paula de Jesus. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

“Muitos de nós não recebemos a atenção que merecíamos, apesar de sermos grandes atletas. Damos o melhor de nós e competimos em altíssimo nível. Então, é muito importante estar aqui, com as crianças, mostrando que não importa o que possa acontecer de ruim em nossas vidas, podemos competir, ter uma vida incrível, fazer o que gostamos”, disse. “Queremos mostrar para o mundo que não somos apenas deficientes, somos antes de tudo, atletas”, acrescentou.

Dono da melhor marca paralímpica da história (10.22s) e de quatro medalhas de ouro, o irlandês Jason Smyth disse que o contato de jovens com atletas paralímpicos ajuda a mudar a visão equivocada de que pessoas com deficiência merecem pena ou são menos felizes.

“Cada um dos atletas paralímpicos tem sua história de superação, e a maioria passou por experiências que mudou suas vidas completamente. Acho que são histórias de sucesso que podem servir de exemplo para todas as crianças aqui”.

Smyth espera que a promoção positiva dos Jogos Paralímpicos estimule as crianças a se envolverem com o evento. “Os Jogos Paralímpicos talvez nunca mais ocorram aqui, e são uma experiência incrível. Então, espero que o maior número dos moradores se beneficiem dessa oportunidade”.

Como parte das celebrações de um ano para os Jogos Paralímpicos, o Comitê Organizador dos Jogos Rio 2016 promove um encontro de alunos com atletas Paralímpicos internacionais. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

O professor de educação física do instituto, Rodrigo Soares, disse que já perdeu a conta do número de capacitações que fez em modalidades olímpicas e paralímpicas. “Essa variedade de esportes tem agregado um valor maior às minhas aulas. Antes ficávamos presos a apenas quatro esportes [vôlei, basquete, futebol e handebol] e alguns alunos se desmotivavam e não queriam mais fazer aula”, afirmou.

Mas, agora, segundo o professor, com a diversidade de esportes olímpicos e paralímpicos, estão aparecendo vários talentos. “Temos alunos com síndrome de Down e paralisia cerebral que estão praticando esses esportes e curtindo muito, sendo incluídos”.

Soares elogiou o fato de a capacitação ensinar também como manufaturar equipamentos para gerar economia. “Não precisa comprar o material profissional. A esgrima, por exemplo, fazemos com jornal, o que não é perigoso”.

Uma equipe japonesa do Comitê das Olimpíadas e Paralimpíadas de Tokyo 2020 esteve na escola para conhecer o projeto. Um dos conselheiros do comitê, Hisashi Sanada, informou que o grupo pretende adaptar a ideia do Transforma para a realidade japonesa.

“Estamos procurando bons exemplos de programas de educação para os Jogos de 2020. Esse método de mostrar os esportes paralímpicos nas escolas é muito bom para os estudantes entenderem e sentirem a realidade das pessoas com deficiência”, disse.

No estado do Rio, 1,2 mil escolas, entre públicas e privadas, aderiram ao programa, que capacita e oferece material didático. Em todo o Brasil, esse número chega a 2,5 mil. Quem estiver fora do Rio recebe capacitação à distância. As escolas interessadas em participar do programa podem se cadastrar no site do comitê (http://www.rio2016.com/educacao/)

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