O Brasil alcançou as metas estipuladas pelo Comitê Olímpico Brasileiro (COB) para a disputa dos Jogos Pan-americanos de Toronto, no Canadá, ao obter o terceiro lugar no quadro geral de medalhas, atrás apenas dos Estados Unidos e do Canadá, mas o país ainda tem grande dificuldade para ampliar os investimentos públicos na infraestrutura do esporte, disse ontem (27) o coordenador da Secretaria de Extensão da Faculdade de Educação Física da Universidade de Brasília (UnB), professor Alexandre Luiz Gonçalves Rezende.
Juliana dos Santos conquista ouro nos 5 mil metros em Toronto. Foto: Comisión Nacional de Cultura Física y Deporte México
Para Rezende, o sucesso do desenvolvimento de uma política nacional de esporte não pode ser medido pelo número de medalhas em um megaevento, como o Pan-Americano ou as Olimpíadas, mas sim pelo acompanhamento e implementação de uma infraestrutura que eleve o número de praticantes de esportes no país.
“Carecemos de investimentos na infraestrutura de base, e eles não conseguem se traduzir em resultados em um ou dois ciclos olímpicos”, ressaltou Rezende. Segundo ele, o investimento na construção de quadras esportivas, locais para prática de atividade física, de modo geral, e a preparação de profissionais qualificados poderia não trazer resultados esportivos para o país no curto prazo, mas sim para duas ou três olimpíadas depois dos Jogos de 2016, no Rio de Janeiro, e depois de forma permanente.
“Garantia de acesso ao esporte, qualificação de recursos humanos e desenvolvimento científico e tecnológico. É isso que estamos querendo aproveitar com essa janela de oportunidade do megaevento [no ano que vem] para que o desenvolvimento do desporto ocorra de forma organizada”, afirmou o professor.
Nos jogos Pan-Americanos de Toronto, encerrados ontem (26), o Brasil ficou na terceira colocação no quadro geral, com 141 medalhas (41 de ouro, 40 de prata e 60 de bronze), atrás dos Estados Unidos (265) e dos anfitriões canadenses (217). Apesar de ter igualado o total de pódios conquistados em Guadalajara, em 2011, o país teve menos medalhas de ouro em Toronto.
Para o presidente do COB, Carlos Arthur Nuzman, o resultado do Brasil em Toronto mostrou a evolução do país na preparação para os jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. “Além de conquistarmos as metas traçadas, graças à parceria entre o COB, confederações, ministérios do Esporte, da Defesa e da Ciência e Tecnologia e patrocinadores, conseguimos aumentar o número de modalidades com condições de lutar por medalhas nos Jogos Rio 2016 e no futuro”, disse Nuzman.
Para se tornar efetivamente uma potência no mundo esportivo, o Brasil precisa aliar a política de incentivo à prática esportiva desde a infância, com investimento em atletas de alto rendimento, acrescentou Rezende “Se tínhamos uma expectativa de que, em função da realização das Olimpíadas no Brasil, teríamos uma política que permitisse investimento maior e potencialização da participação do Brasil nesses megaeventos, o resultado do Pan nos mostra que isso não aconteceu de forma efetiva. Mas isso não quer dizer que tivemos uma má participação.”
Rezende destacou que, para encontrar talentos é necessário um trabalho anterior de formação desportiva geral para que as pessoas se envolvam com as modalidades, saibam apreciá-las. "E os que praticarem e aprenderem é que vamos levar para os centros de alto rendimento. Se o Brasil não tiver o sistema completo montado, desde o início, da aprendizagem esportiva até o alto rendimento, o país fica lidando com partes”, concluiu.