O Fla Flu de Gaza

Israel e Hamas agem como se não houvesse possibilidade de coexistência entre judeus e palestinos. Se este fosse o caso, somente o aniquilamento de um dos dois traria paz à região e ao povo que sobrevivesse. E, no fundo, eles seguem uma lógica precisa. Na medida em que atrelam sua própria existência à condição de não ceder um milímetro em suas exigências – sejam territoriais, religiosas ou culturais –,  não haverá existência plena de uma das partes antes que a outra deixe de habitar esse planeta. Como é pouco provável que, de fato, isso aconteça um dia, eles simplesmente se limitam a matar e morrer de tempos em tempos, numa espiral sem saída.

O conflito contraria os limites da razão, mas impressiona pela capacidade que tem de arregimentar vozes de analistas políticos, jornalistas e observadores interessados, a maioria defendendo ferrenhamente um lado ou outro. É curioso notar como associam facilmente a causa palestina com a esquerda e os interesses judaicos com correntes de pensamento conservador. Conexão não necessária e de difícil fundamentação, diga-se. Adere-se à polarização com a facilidade de quem escolhe um time para torcer. A injustificável matança promovida pelo governo de Benjamin Netanyahu é condenada como crime humanitário pelas mesmas pessoas que se calam diante do terrorismo provocado pelo Hamas, que usa os civis como escudo numa covardia que salta aos olhos. E o mesmo pode-se dizer de quem simpatiza com o outro lado.

Os debates se aquecem com pessoas falando para as paredes, buscando argumentos para reforçar seu próprio ponto de vista. Reproduzem retoricamente a miopia polar que domina a cena na Faixa de Gaza. Desqualificam seus oponentes como interlocutores em vez de ouvir o que têm a dizer. Rodam em círculos e se sentem sempre mais inteligentes contra os alienados de plantão do outro lado. O próximo passo é formar torcida organizada.

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Israel, oriente médio, hamas, guerra



Sobre

As relações entre governos, organizações e demais atores no espaço físico, virtual e conceitual que extrapola as fronteiras de um Estado lança novos desafios para a atuação da fraternidade na política. A ausência de um agente com legitimidade coercitiva expõe o drama, mas também as possibilidades, da relação fraterna entre sujeitos em condição de paridade, responsabilidade mútua e liberdade para cooperar ou não uns com os outros. Neste blog, abordaremos os desdobramentos desse fenômeno.

Autores

Thiago Borges

Repórter da revista Cidade Nova há quase dois anos, é jornalista formado pela faculdade Cásper Líbero. Foi redator da agência internacional de notícias Ansa por três anos e concluiu recentemente uma pós-graduação em Filosofia Política no Instituto Universitário Sophia, em Florença – Itália.