Israel e Hamas agem como se não houvesse possibilidade de coexistência entre judeus e palestinos. Se este fosse o caso, somente o aniquilamento de um dos dois traria paz à região e ao povo que sobrevivesse. E, no fundo, eles seguem uma lógica precisa. Na medida em que atrelam sua própria existência à condição de não ceder um milímetro em suas exigências – sejam territoriais, religiosas ou culturais –, não haverá existência plena de uma das partes antes que a outra deixe de habitar esse planeta. Como é pouco provável que, de fato, isso aconteça um dia, eles simplesmente se limitam a matar e morrer de tempos em tempos, numa espiral sem saída.
O conflito contraria os limites da razão, mas impressiona pela capacidade que tem de arregimentar vozes de analistas políticos, jornalistas e observadores interessados, a maioria defendendo ferrenhamente um lado ou outro. É curioso notar como associam facilmente a causa palestina com a esquerda e os interesses judaicos com correntes de pensamento conservador. Conexão não necessária e de difícil fundamentação, diga-se. Adere-se à polarização com a facilidade de quem escolhe um time para torcer. A injustificável matança promovida pelo governo de Benjamin Netanyahu é condenada como crime humanitário pelas mesmas pessoas que se calam diante do terrorismo provocado pelo Hamas, que usa os civis como escudo numa covardia que salta aos olhos. E o mesmo pode-se dizer de quem simpatiza com o outro lado.
Os debates se aquecem com pessoas falando para as paredes, buscando argumentos para reforçar seu próprio ponto de vista. Reproduzem retoricamente a miopia polar que domina a cena na Faixa de Gaza. Desqualificam seus oponentes como interlocutores em vez de ouvir o que têm a dizer. Rodam em círculos e se sentem sempre mais inteligentes contra os alienados de plantão do outro lado. O próximo passo é formar torcida organizada.