A Marola e o Tsunami

O ex-presidente Lula costumava se gabar de que a crise econômica mundial que eclodiu em 2008, causando um tsunami nas finanças globais, não passou de uma marola em águas brasileiras. Pois bem, os ventos começam a mudar, a marola toma corpo e o tsunami parece perder força. O ano que vem pode ser de inversão, para desgosto do governo – seja lá qual for.

Nesta semana o Banco Mundial divulgou um relatório sobre as perspectivas da economia global e ratificou o que muitos analistas vêm prevendo: a economia global está se recuperando e os próximos anos deverão ser de crescimento do PIB nos países desenvolvidos. Já em nações ditas “em desenvolvimento”, como Brasil e Turquia, o buraco é mais embaixo.

A expectativa do BM é de que o crescimento por aqui fique em 1,5% e não em 2,4% como previra anteriormente. O órgão também crê em recuperação brasileira nos próximos anos, mas esta deverá ficar abaixo da média mundial.

Os principais motivos para esse desempenho discreto estão relacionados às pressões domésticas sobre preços e salários. Fatores estruturais também têm sua parcela de responsabilidade nos entraves que impedem a economia de crescer com mais vigor e constância.

Vem de fora, portanto, um alerta importante e talvez também um guia para o eleitor atento. Depois da Copa do Mundo vamos nos voltar às eleições presidenciais e legislativas. Esperam por nós campanhas políticas cansativas, que mais confundem do que esclarecem e que, na melhor das hipóteses, se configuram em cartas de boas intenções recheadas com vinhetas e jingles.

Neste sentido, o documento do Banco Mundial pode realmente auxiliar o cidadão a distinguir o que é importante do que talvez seja secundário ou apenas bravata eleitoral. Há ações que não demandam investimento, mas apenas coordenação e vontade política. Corrigir os excessos da carga tributária brasileira e combater a inflação podem tornar nossos produtos mais competitivos e ajudar a dinamizar a economia. Há também demandas mais complexas, que dependem de tempo e investimentos corretos. São essas a qualificação da mão de obra, sobretudo na indústria, e o aprimoramento da infraestrutura logística e de transportes – já que a Copa não o fez.

Provavelmente eu e você ouviremos de todos os candidatos – ou ao menos dos três mais relevantes – que esses problemas devem ser resolvidos. O que cada um vai propor – se é que vai propor – como solução é o que deve fazer a diferença entre eles. E não se espante se essa diferença estiver bem escondida por trás de campanhas pasteurizadas. O guia que o Banco Mundial nos sugere pode não ser suficiente, no entanto não é desprezível. A você cabe decidir como usá-lo.

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Sobre

As relações entre governos, organizações e demais atores no espaço físico, virtual e conceitual que extrapola as fronteiras de um Estado lança novos desafios para a atuação da fraternidade na política. A ausência de um agente com legitimidade coercitiva expõe o drama, mas também as possibilidades, da relação fraterna entre sujeitos em condição de paridade, responsabilidade mútua e liberdade para cooperar ou não uns com os outros. Neste blog, abordaremos os desdobramentos desse fenômeno.

Autores

Thiago Borges

Repórter da revista Cidade Nova há quase dois anos, é jornalista formado pela faculdade Cásper Líbero. Foi redator da agência internacional de notícias Ansa por três anos e concluiu recentemente uma pós-graduação em Filosofia Política no Instituto Universitário Sophia, em Florença – Itália.